Preocupado em aprovar o pacote com aumento de impostos, o Orçamento da União e a reforma tributária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu ontem a primeira reunião ministerial do ano cobrando mais empenho da equipe para ajudar na articulação política do governo com o Congresso e mandou tratar o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) como “página virada”.

Na cabeceira de uma enorme mesa oval, cercado por 37 ministros e dois líderes no Congresso, Lula chegou a comparar o encontro no Palácio do Planalto à Santa Ceia de Jesus Cristo com os apóstolos.

O presidente pediu mais “conversa política” e troca de informações para vencer “os três anos de governo” que ainda tem pela frente. Comprometeu-se, ainda, a “arbitrar” as divergências entre os ministros para reduzir atrasos nas decisões.

“Muitas vezes nós ficamos cinco anos juntos, sentamos a esta mesa aqui e parece a Santa Ceia: todo mundo amigo. Mas depois passamos um ano sem conversar entre nós”, reclamou. Antes de citar a derrota com a CPMF, Lula lembrou que cada ministro é representante de um partido da base aliada e tem a obrigação de conquistar mais apoio para o Planalto. Motivo: o governo não tem maioria sólida no Congresso, embora na Câmara seja numericamente superior.

“Penso que entre vocês existe pouca conversa política. Há quase meses e meses que vocês não conversam entre si, que não trocam idéia. Certamente as pessoas conhecem menos do que deveriam conhecer das coisas que o governo faz porque o sistema de informação e comunicação entre nós talvez não seja o mais perfeito, ainda”, disse.

Em vários momentos da reunião, que durou cinco horas e meia, Lula frisou que o governo vem perdendo a batalha da comunicação. Argumentou que a falta de sintonia pode causar muitos problemas em ano eleitoral, como este, no momento em que a oposição reforça seus ataques. “Eu vejo a oposição atacando e ninguém nos defendendo. Muitos aqui não sabem 20% do que o governo já realizou.” Para municiar a equipe, o presidente distribuiu uma cartilha recheada de dados sobre as ações do governo em várias áreas.

Novo grupo

Lula sugeriu um novo grupo de trabalho, com ministros indicados pelos partidos da coalizão. Por ordem dele, o grupo deverá se reunir quinzenalmente com os presidentes das legendas e terá a tarefa de prevenir incêndios na seara política, como a rebelião de partidos que ameaçam votar contra o governo. “Nós cometemos erros. Erramos, por exemplo, quando demoramos a preencher os cargos, porque as indicações são direito legítimo dos partidos aliados”, disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. “Capitalizamos pouco o potencial político que cada ministro tem.”

No diagnóstico do governo, foi o atraso na distribuição dos cargos que motivou a derrota na votação da CPMF, deixando rombo de R$ 40 bilhões. Na reunião de ontem, o presidente desautorizou ministros e aliados que falam em recriar o imposto do cheque. “É assunto encerrado.” Chegou a dizer que a derrota no episódio foi uma “lição”.

Lula cobrou reforço na articulação política a pedido de Múcio, que tem passado os dias negociando cargos com os partidos aliados, do PMDB ao PT. Percebeu nessa tarefa que muitas vezes ministros batem cabeça. Os principais embates são entre as áreas política e econômica.

“A política é o centro da atividade de um governo: tudo o que nós fazemos começa pela política e termina tendo um resultado político”, insistiu Lula. Disse, ainda, que é preciso “combinar” a atuação partidária e de governo na Esplanada para evitar novos percalços, como o do fim da CPMF.

Fonte: Estadão

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