Com quase 100% dos votos apurados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, foi considerado reeleito com 60,8% dos votos válidos.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, está com 39,2%. A boca-de-urna realizada pelo Ibope e divulgada pela TV Globo já apontava a vitória do petista sobre o candidato tucano com uma diferença de 24 pontos porcentuais.

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O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, proclamou que o presidente Lula foi reeleito para o cargo, quando a apuração chegou ao patamar de 90% dos votos. “Os votos que ainda faltam (apurar) não cobrem a diferença entre o primeiro e o segundo (Geraldo Alckmin) colocados, o que implica dizer que o presidente Lula foi reeleito”, afirmou Mello, em entrevista coletiva realizada por volta das 19h30.

Ele disse que o TSE, mais uma vez, “foi surpreendido pela velocidade da máquina”. A previsão inicial era de que a apuração só atingisse 90% às 22 horas, e esse total foi alcançado antes disso.

O presidente Lula acompanha a apuração dos votos da suíte de um hotel na região da Av. Paulista, acompanhado pela primeira dama, ministros, assessores e coordenadores da campanha. Ele aguarda a finalização da apuração para descer e fazer um pronunciamento. Perto dali, na própria avenida, petistas organizaram uma grande festa. Apesar da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirmar que não houve solicitação de interdição da Paulista, a Polícia Militar já providenciou as barreiras e solicitou reforço para garantir a realização dessa comemoração.

Alckmin, acompanhado de familiares e correligionários, se encontra em sua residência e afirmou que só se manifestará quando TSE fizer o anúncio oficial do resultado. Durante a tarde, o ex-governador só saiu para cumprimentar um vizinho que colocou na fachada da própria casa uma faixa em homenagem ao tucano.

Discurso

No discurso da vitória, o presidente disse que pretende iniciar ainda neste ano um diálogo com a oposição. “Até dezembro, pretendo conversar com todas as forças políticas do país. Não haverá veto a ninguém. Chamarei todo mundo para conversar. Não tenho dúvida nenhuma de que podemos conversar com todos os partidos da oposição.”

O presidente fez questão de ressaltar o fim da campanha e que “agora não há mais adversário”. “O adversário agora são as injustiças sociais. É todo mundo se juntar para fazer o Brasil crescer.”

Indagado sobre o que mudaria em relação ao segundo mandato, o presidente falou que seu tratamento com a imprensa será diferente e que irá interferir nas relações com o Congresso.

“Eu pessoalmente irei interferir nessas relações com o Congresso Nacional. O Congresso, historicamente, é uma cabeça pensante com muitas cabeças pensando ao mesmo tempo. Não haverá veto a ninguém. Vou chamar todo mundo para conversar.”

Disse, ainda, que uma decisão tomada na sua mesa, “não pode ficar mais de 30 dias sem ser executada. “Se quiser discutir, que se discuta antes de chegar à minha mesa”.

O petista afirmou que seu segundo mandato continuará priorizando a população de baixa renda. “Os pobres terão preferência no nosso governo. As regiões mais empobrecidas terão do nosso governo uma atenção ainda maior, porque queremos deixar o Brasil mais equânime.”

Lula aproveitou para apelar à responsabilidade de todos. “Eu tenho a Presidência mas todos os brasileiros e brasileiras têm a responsabilidade de dar sua contribuição para que o Brasil não perca mais uma oportunidade [de crescimento]”, disse.

A disputa

O primeiro turno das eleições presidenciais foi decidido em uma disputa apertada. Com 46.662.365 votos, o que representava 48,61% dos votos válidos, Lula quase venceu a eleição no primeiro turno. Para isso seria necessário que o presidente tivesse 50% dos votos válidos mais um voto. Alckmin ficou com 39.968.369 votos, totalizando 41,64% dos votos válidos.

Com os desdobramentos dos escândalos de corrupção que dominaram grande parte da campanha eleitoral no primeiro turno, muitos analistas políticos esperavam que o acirramento da disputa continuasse no segundo turno. Mas isso não aconteceu. Entre a realização da primeira parte do pleito, no dia 1º de outubro, e as eleições deste domingo, as pesquisas apontavam um aumento gradativo da vantagem da Lula sobre Alckmin.

Na apuração realizada pelo Ibope nos dias 10 e 12 de outubro, este distanciamento já era percebido. Com base nos votos válidos, Lula tinha 57% das intenções de voto e Alckmin, 43%. Ou seja, 14 pontos de diferença. Nos dias 18 e 19 de outubro, esta vantagem subiu para 24 pontos – Lula tinha 62% das intenções de voto e Alckmin, 38%. Na última pesquisa realizada pelo Ibope, nos dias 24 e 25 de outubro, a diferença de 24 pontos se manteve.

Avaliação de governo

Lula começa o segundo mandato com uma elevada aprovação da população para seu governo. Pesquisa Datafolha divulgada na noite de terça-feira, dia 24, pelo Jornal Nacional da TV Globo mostrou que o presidente Lula apresentou a maior taxa de aprovação para um presidente desde que o Datafolha começou a fazer pesquisas nacionais de avaliação do governo Federal, em 1990. Em outras palavras, o governo Lula é o mais bem avaliado desde que o presidente voltou a ser eleito pelo voto direto. O porcentual dos que consideram o desempenho do petista ótimo ou bom chegou a 53%.

Várias conquistas no lado econômico embasam este cenário. A dívida externa foi zerada; a inflação deve encerrar o ano em 3,03%; as exportações saíram de US$ 60 bilhões em 2002 para mais de US$ 130 bilhões neste ano; e o risco Brasil (que mede a desconfiança do investidor estrangeiro), que estava em mais de 2 mil pontos à época da posse de Lula, caiu para um patamar próximo a 200.

A crítica de analistas e dos adversários do Lula é de que, apesar de tudo isso, o Brasil não cresceu. Tanto em 2005 quanto neste ano, o crescimento da economia brasileira foi considerada pífio. O presidente, contudo, defende que as condições de crescimento agora existem e, portanto, o Brasil poderá crescer mais do que 4% no próximo ano.

Estratégia de campanha

O fato é que grande parte dos eleitores de Lula apostam neste crescimento e reconhecem que o governo do petista avançou em vários aspectos sociais. Citou o analfabetismo que saiu de uma taxa de 11,5% em 2003 para 10,9% em 2005; o desemprego, de 11,2% em janeiro de 2003 para 10,6% em agosto de 2006; e a miséria, de 28,2% no primeiro ano de seu governo para 22,7% em 2005.

Lula apoiou-se em várias conquistas do seu governo, como o Bolsa-Família, e atacou o candidato adversário com o risco de que ele colocasse em prática a idéia de privatização de outras empresas públicas. Chegou a citar a Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios como alvos do tucano para a privatização. Há quem diga que grande parte da vitória de Lula deve-se a esta estratégia.

Perfil

O presidente Lula é o primeiro e único operário a ocupar essa posição no Brasil. Nascido em Garanhuns, em Pernambuco, Lula completou 61 anos na sexta-feira, dia 27. Sua carreira política começou em são Bernardo do Campo, quando ainda era torneiro-mecânico. Ele foi líder sindical e, entre 1975 e 1978, assumiu por duas vezes a presidência do PT.

Foi o candidato mais votado (650 mil votos) para a Assembléia Nacional Constituinte, em 1986. Três anos depois, tentou a presidência da República, mas perdeu a eleição para Fernando Collor de Mello, candidato do PRN. Em 1994, tentou novamente, mas novamente não conseguiu. Foi eleito o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. O petista foi derrotado pela segunda vez por FHC quatro anos depois, no primeiro turno da eleição em que o tucano tentava a reeleição.

Na eleição presidencial de 2002, Lula foi enfim eleito presidente da República com o maior número de votos já obtido por um político até então (52,4 milhões de votos). Lula é casado com Marisa Letícia da Silva, tem cinco filhos, sendo três com a primeira-dama.

Fonte: Estadão

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