Esta segunda-feira, 16, marca o feriado federal anual do Dia de Martin Luther King Jr. nos EUA, criado em memória do notável pastor afro-americano e ativista dos direitos civis.
Originalmente declarado feriado oficial em 1983 pelo presidente Ronald Reagan, o dia geralmente envolve fechamento de escolas, vendas de lojas de varejo e grupos e igrejas que realizam projetos de serviço comunitário.
É também um momento para lembrar a figura dos direitos civis conhecida por liderar marchas e fazer discursos carismáticos em favor da igualdade racial e outras questões.
O discurso “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King ainda ressoa na história da luta por direitos civis em todo o mundo.
Em 28 de agosto de 1963, mais de 200 mil pessoas negras e brancas se reuniram em frente ao Lincoln Memorial, em Washington, para pedir igualdade para todos os cidadãos em um EUA segregado pelo racismo.
Martin Luther King Junior nasceu em 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, na Geórgia, em uma família de pregadores batistas. Seus pais tinham formação universitária e o pai de King era pastor da prestigiada Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta.
De família de classe média, Martin Luther cresceu na Auburn Avenue, conhecida como “Black Wall Street”, região das maiores empresas e igrejas negras.
Mesmo recebendo uma boa educação e o amor de sua família, King experimentou a discriminação ainda na infância, no Sul americano segregado.
Por volta dos 6 anos, Martin ouviu um seus colegas brancos afirmar que seus pais não permitiam mais que ele brincasse com King, porque agora as crianças brancas e negras frequentavam escolas separadas.
Em 1944, aos 15 anos, Martin ingressou na prestigiada Morehouse College, como um aluno promissor. Antes de iniciar a faculdade, o jovem passou as férias de verão em uma fazenda de tabaco em Connecticut, onde conheceu uma realidade bem diferente do Sul segregado.
Ele ficou impressionado como negros e brancos conviviam pacificamente no Norte dos EUA. “Negros e brancos vão [para] a mesma igreja. Nunca [pensei] que uma pessoa da minha raça pudesse comer em qualquer lugar”, escreveu eles em uma carta aos pais.
Essa experiência no Norte aumentou a indignação de Martin Luther King com a segregação racial nos estados sulistas.
Seguindo o ministério
O jovem cristão estudou Medicina e Direito, mas em seu último ano na universidade, decidiu seguir o ministério e ingressou no Seminário Teológico Crozer em Chester, na Pensilvânia.
Na universidade e no seminário, Martin teve contato com ativistas cristãos e teólogos protestantes contemporâneos, que o estimularam a agir contra a injustiça racial.
Logo depois, ele fez doutorado na Universidade de Boston, onde estudou o relacionamento do homem com Deus e formou uma base sólida para sua teologia e ética cristã contra o racismo.
Mais tarde, já casado com Coretta Scott e pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Luther King usou sua crença em que todos os homens eram iguais perante Deus para fundar a Conferência de Liderança Cristã do Sul (SCLC).
Herança teológica na luta pelos direitos civis
Através da organização, o pastor batista iniciou o movimento pela justiça racial, dando palestras por todo o país e discutindo questões raciais com líderes cristãos.
Inspirado na filosofia da resistência não violenta de Gandhi, Martin apoiou e promoveu protestos contra o racismo, chegando a ser preso diversas vezes.
Em Montgomery, o pastor liderou o movimento que lutou contra a segregação racial no sistema de transporte público da cidade, após Rosa Parks, uma mulher afro-americana, se recusar a ceder seu assento no ônibus a um passageiro branco, iniciando uma onda de protestos.
Com uma ótima retórica e personalidade inspiradora, Martin Luther King se levantou como um líder do movimento pelos direitos civis nos EUA.
“Não temos alternativa a não ser protestar. Por muitos anos, mostramos uma paciência incrível. Às vezes, demos a nossos irmãos brancos a sensação de que gostamos da maneira como fomos tratados. Mas viemos aqui esta noite para sermos salvos dessa paciência que nos torna pacientes com qualquer coisa menos que liberdade e justiça”, declarou o ativista em um de seus primeiros discursos como líder.
Após lutar durante as décadas de 1950 e 1960, a liderança de King provocou uma onda de manifestações com efeito na opinião pública. Como resultado, em 1964 a Lei dos Direitos Civis foi aprovada, proibindo a segregação e a discriminação em espaços públicos e no ambiente de trabalho.
Naquele mesmo ano, Martin ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo. “Aceito este prêmio hoje com uma fé inabalável na América e uma fé audaciosa no futuro da humanidade”, discursou ele na ocasião.
O último sermão
Enfrentando ameaças de morte devido ao seu ativismo, o líder revelou que Deus renovava suas forças para continuar seu propósito. “Estou francamente cansado de marchar. Estou cansado de ir para a cadeia”, confessou Luther, em 1968.
E continuou: “Vivendo todos os dias sob a ameaça de morte, sinto-me desanimado de vez em quando e sinto que meu trabalho é em vão, mas então o Espírito Santo revive minha alma novamente”.
O pastor parece ter previsto sua morte precoce em sua última pregação. Na noite anterior ao seu assassinato, Luther King pregou o sermão “Eu estive no topo da montanha”, no Mason Temple, a sede da Igreja de Deus em Cristo, em Memphis.
“Como qualquer pessoa, eu gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem seu lugar. Mas não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus”, afirmou ele.
“E Ele me permitiu subir a montanha. E eu examinei. E eu vi a terra prometida. Posso não chegar lá com você. Mas eu quero que você saiba esta noite, que nós, como povo, chegaremos à terra prometida. Estou feliz, esta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de nenhum homem. Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor”.
No dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado com um tiro, enquanto estava na sacada do hotel onde se hospedava, em Memphis.
Mesmo depois de sua morte, os ideais democráticos e cristãos do pastor batista continuaram transformando a sociedade americana e ainda hoje tem inspirado pessoas e movimentos de justiça social.
Joe Biden na Igreja Batista Ebenezer
“Ele seguiu o caminho de Moisés, um líder inspirador, chamando as pessoas para não terem medo”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden na Igreja Batista Ebenezer, onde Martin Luther King Jr. foi co-pastor.
“Ele seguiu o caminho de José, um crente em sonhos e na divindade que eles carregam e na promessa que eles carregam”, continuou ele. “E como João Batista, ele nos preparou para uma esperança maior à frente, aquele que veio para dar testemunho da luz.”
Martin Luther King Jr. foi um “guerreiro não violento pela justiça”, disse o presidente, acrescentando que “seguiu a palavra e o caminho de Seu Senhor e Salvador”.
“Sou temente a Deus graças a meus pais e às freiras e padres que me ensinaram na escola, mas não sou um pregador”, acrescentou Biden. “Mas eu tentei viver minha fé como todos vocês fizeram.”
Ele continuou: “Estou aqui inspirado por um pregador que foi um dos meus únicos heróis políticos … Dr. King.”
A Igreja Batista Ebenezer foi fundada em 1886 e é mais conhecida por ser o púlpito do Rev. King Jr., que serviu como co-pastor da igreja de 1960 até seu assassinato em 1968.
O Rev. Martin Luther King Sr. também serviu na liderança da Igreja Batista Ebenezer, tendo supervisionado várias funções de 1927 até sua aposentadoria em 1975.
Eu Tenho um Sonho
A manifestação civil mais importante promovida por King foi a “Marcha sobre Washington”, em 1963, que reuniu 250 mil pessoas. Além disso, ali estavam personagens como Rosa Parks e a artista Josephine Baker.
Neste momento fez o célebre discurso “Eu tenho um sonho” (I Have a Dream):
“Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais”.
Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.
Tenho um sonho que um dia o estado do Mississípi, um estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu carácter.
Tenho um sonho, hoje.
Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, com os seus racistas malignos, cujos lábios do governador atualmente pronunciam palavras de recusa, seja transformado numa condição onde pequenos rapazes negros, e moças negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos rapazes brancos, e moças brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.“
Frases de Martin Luther King
- O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
- No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.
- Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver.
- Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele.
- Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendermos a conviver como irmãos.
10 curiosidades sobre Martin Luther King Jr.
- Seu nome verdadeiro era Michael, não Martin Luther. Seu pai também se chamava Michael, por isso seu nome original, Michael King Jr. A alteração aconteceu depois de uma viagem que o ativista fez à Alemanha, em 1931, e foi uma homenagem a Martinho Lutero, figura importante do Protestantismo.
- Apesar de ter ficado conhecido por sua oratória exemplar, o líder do movimento negro americano tirou um C no seu primeiro exame de oratória no seminário. No entanto, ele terminou o semestre com A’s e acabou sendo o orador da sua turma.
- Ele é o homem mais novo a ser honrado com um Nobel da Paz. Martin tinha 35 anos quando recebeu o prêmio, em 1964. Ele doou todo o dinheiro (54.123 dólares na época, hoje o equivalente a 400 mil) para o Movimento dos Direitos Civis.
- Não é surpreendente ler que MLK ganhou um Nobel da Paz, mas você sabia que ele também recebeu um Grammy? Ele nunca foi cantor, mas seu discurso “Why I Oppose the War in Vietnam” (Por que eu sou contra a Guerra do Vietnã) ganhou na categoria Melhor Álbum Declamado em 1971, 3 anos após o político ter sido assassinado.
- Martin Luther King pulou duas classes no Ensino Médio (a 9ª e a 11ª, equivalentes ao 9º ano e ao 2º ano do EM brasileiro, respectivamente), e entrou na universidade aos 15 anos. Aos 19, ele recebeu um diploma de sociologia. Aos 25, ele se tornou Ph.D. em Teologia.
- Dez anos antes do seu atentado fatal, ele foi vítima de outra tentativa de assasinato. Durante a turnê do seu livro, no dia 20 de setembro de 1958, uma mulher se aproximou dele e perguntou se ele era Martin Luther King. Ele respondeu que sim, e ela disse “havia procurado por ele por 5 anos” antes de apunhalá-lo no peito com um abridor de cartas. Os médicos levaram 3 horas para conseguir retirar a lâmina, uma vez que sua ponta estava muito próxima à aorta de King.
- Ele fumava em segredo. Luther King se esforçou para esconder o hábito por anos, tanto devido ao estigma do cigarro na igreja quanto ao seu desejo de que seus filhos não se tornassem fumantes também. Reverendo Kyles, amigo do ativista, diz ter removido um maço do bolso de King antes que seu corpo fosse levado pela ambulância, após o seu atentado.
- O ator hollywoodiano Samuel L. Jackson foi um dos orientadores voluntários durante o funeral de MLK. Ele tinha 19 anos na época.
- King Jr. foi preso 29 vezes, algumas por desobediência civil e outras devido a acusações forjadas, como excesso de velocidade.
- Seu aniversário é um feriado nacional nos Estados Unidos. Além dele, a única outra figura que teve a data do seu nascimento transformada em feriado foi George Washington.
Folha Gospel com informações de Guia-me, Toda Matéria, The Christian Post e Guia dos Curiosos