Começou ontem, 22 de março, o Ramadã, mês de jejum islâmico. Durante 30 dias é imprescindível que todos os muçulmanos, sejam crianças ou idosos, guardem o jejum. Para muitos cristãos de origem muçulmana, é um mês muito difícil, pois ficam em destaque e são constantemente julgados por não seguirem as leis islâmicas.
É comum ouvir testemunhos de adultos sobre esse período, mas eles não são os únicos impactados. Veja como as crianças cristãs são impactadas pelo Ramadã.
Zahid (pseudônimo) é um menino cristão de sete anos que vive em um país de maioria muçulmana na Ásia Central. Desde que os pais se separaram, ele mora com a mãe, uma cristã. No entanto, o pai, muçulmano, considera o filho muçulmano e exige que ele obedeça a sharia, por isso Zahid vive como cristão secreto.
“Eu moro com minha mamãe. Ela disse que não é seguro contar para outras pessoas que sou cristão. Eu preciso fingir que sou muçulmano. Eu não entendo, mas sei que a mamãe quer o meu bem”, conta o pequeno Zahid.
“A época do Ramadã é a mais difícil para mim”, diz o menino. Para garantir que o filho cumprisse o jejum do Ramadã, o pai de Zahid prometeu que cada dia de jejum seria recompensando com dinheiro. Zahid se empolgou com a proposta e parou de comer e beber água durante o Ramadã.
Nem todas as crianças jejuam. Alguns pais esperam os filhos crescerem para impor o jejum e, assim, poupam os pequenos durante algum tempo. Essa escolha, no entanto, expõe as crianças a discriminação e bullying na escola. Zahid tem esse medo: “Não quero que eles me chamem de nomes feios nem quero passar vergonha na frente dos meus amigos na escola”.
Comendo escondido
Nem sempre Zahid conseguia suportar a fome. A mãe escondia pequenos lanches na mochila para que ele pudesse comer escondido. “Eu só podia comer no banheiro. Ali era tão sujo, mas eu não tinha outra escolha.” Zahid também bebia água da torneira do banheiro e chegou a ficar doente por causa da água, mas preferia a náusea a ser perseguido na sala de aula.
Ainda durante o Ramadã, ele precisou fazer uma prova em jejum. Zahid estava tão concentrado na avaliação que não conseguiu sair escondido e comer. De repente, a visão dele ficou turva, a cabeça começou a girar e, quando voltou a si, estava caído no chão. Ele foi levado ao hospital. O médico disse que estava desidratado demais e que isso nunca mais poderia se repetir.
“Queria parar de me esconder, de fingir. Não gosto do mês do jejum. Sou muçulmano apenas no papel, mas nunca serei muçulmano de verdade. Às vezes fico pensando se existem outras crianças como eu. Espero que elas sejam fortes e continuem acreditando em Jesus, como eu”, conclui Zahid.
Fonte: Portas Abertas