O Ministério Público do Rio abriu inquérito civil para investigar a criação do cartão de crédito Solidariedade Católica lançado, em dezembro de 2006, pelo então arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid.
O promotor Julio Machado Teixeira Costa, da Promotoria de Defesa do Direito do Consumidor, quer saber se os responsáveis pelo cartão estão cumprindo o compromisso público de destinar parte das anuidades para obras sociais da Arquidiocese do Rio.
O cartão, resultado de um convênio com o Bradesco, chegou a ser anunciado como uma iniciativa da Arquidiocese, mas é vinculado à Associação de Solidariedade Justiça e Paz (ASJP), fundada e dirigida por Dom Eusébio e pelo padre Edvino Steckel, ex-responsável pela administração dos bens e recursos da Igreja no Rio. A Associação, como foi revelado pelo ‘Informe do DIA’, não tem qualquer vínculo formal com a Arquidiocese.
Segundo o promotor, o consumidor “pode estar sendo induzido em erro a respeito da vinculação do cartão à Igreja Católica, aparentemente inexistente”. Anúncios do cartão de crédito chegaram a ser publicados em roteiros de missas da Arquidocese. Na portaria de criação do inquérito, Teixeira Costa afirma que cabe à Associação e ao Bradesco a comprovação do uso de parte das receitas do cartão em ações sociais.
O promotor determinou o envio de ofícios com pedidos de informações ao Bradesco, à ASPJ e à Arquidiocese do Rio. Ele quer saber que percentual do faturamento do cartão é enviado para ações sociais e os valores que, mês a mês, foram destinados para instituições de caridade. Pergunta também que ações foram beneficiadas. Dom Eusébio se aposentou em abril passado e hoje é arcebispo emérito do Rio.
Investigação nas contas da Arquidiocese do Rio
Conforme mostrou reportagem publicada pelo jornal O Dia nesta segunda-feira, uma auditoria nas contas da Arquidiocese do Rio de Janeiro mostrou que, nos 16 meses em que controlou as finanças e os bens da Igreja no município, o padre Edvino Alexandre Steckel torrou R$ 14 milhões em despesas desnecessárias ou não justificadas. A devassa nos gastos foi determinada, em maio, pelo arcebispo Dom Orani João Tempesta, logo depois do ‘Informe do DIA’ revelar a compra de um apartamento de luxo para servir como residência, no Rio, do antigo arcebispo, Dom Eusébio Scheid.
Foi na gestão de Dom Eusébio, que deixou a Arquidiocese em abril, que padre Edvino assumiu o comando do dinheiro da Igreja. Ele acabou demitido do cargo de ecônomo da Arquidiocese e de diretor da Rádio Catedral no dia seguinte à publicação da notícia sobre a compra do apartamento. Localizado na Avenida Ruy Barbosa, de frente para a Praia do Flamengo, um dos endereços mais nobres da cidade, o imóvel custou R$ 2,2 milhões e foi adquirido em dezembro do ano passado.
Além de comprar o apartamento, padre Edvino determinou reformas em andares do Edifício João Paulo II, sede da Arquidiocese, que consumiram muito dinheiro. Como O DIA noticiou em maio, o então ecônomo também adquiriu móveis de luxo para decorar sua sala e dois carros importados do modelo Jetta, cada um deles avaliados, na época, em R$ 85.600. Um dos carros era usado por ele; o outro, por Dom Eusébio. O padre teve que devolver seu carro, que foi vendido. Mas o arcebispo aposentado ficou com o veículo. Um dos sofás de sua sala custou R$ 21.200.
Fonte: O Dia online