Uma pintura renascentista está sendo exposta em Roma como fragmento de um quadro que retrata o papa Alexandre 6º ajoelhado diante de sua jovem amante, Giulia Farnese, e do menino Jesus.

O afresco, Menino Jesus das Mãos, do mestre renascentista Pinturicchio, é um pitoresco retrato do menino Jesus em que, além das duas mãos da criança, aparecem outras três, de adultos.

Para o professor Franco Nuccirelli, curador da exposição que tem a pintura como centro, as duas mãos que seguram delicadamente o menino Jesus são de uma Virgem Maria pintada à semelhança da jovem amante papal.

A mão que agarra o pé da criança seria do próprio papa, ajoelhado diante das duas outras figuras.

A criança eleva uma das mãos em um sinal de bênção, e segura um globo e uma cruz dourados na outra. Sobre a cabeça, um halo dourado destaca o caráter sacro do menino.

Registros históricos dão conta de que a pintura original, em que o mestre Pinturicchio retrata as três figuras, adornava o quarto de Alexandre 6º, no Vaticano.

Historiadores contemporâneos de arte sabem exatamente como era aquela obra, porque foi copiada por Pietro Facchetti no século 17 quando ainda figurava em seu local original.

Em 1568, o famoso historiador de arte Giorgio Vasari mencionou, na segunda edição de seu As vidas dos artistas, um trabalho de Pinturicchio localizado “sobre a porta de uma sala no Palácio Apostólico”.

Segundo Vasari, tratava-se “de um retrato da senhora Giulia Farnese com a aparência de Nossa Senhora, e na mesma pintura a cabeça do papa Alexandre adorando-a”.

É possível que o retrato seja o exemplo do antigo costume conhecido como damnatio memoriae, de apagar da memória pública os rastros de pessoas consideradas desonrosas.

Em sua época, o papa Alexandre 6º, nascido Rodrigo Borja y Borja na Espanha, afrontava a Igreja com seu estilo controverso.

Ele teve pelo menos duas amantes e foi pai de sete crianças, entre elas Lucrécia e César Borgia, o príncipe renascentista que serviu de inspiração para que Maquiavel escrevesse seu célebre tratado sobre a arte de reinar.

A impopularidade de Alexandre 6º era tão grande que os padres da Basílica de São Pedro inicialmente rejeitaram seu corpo quando ele morreu, aos 72 anos, talvez por envenenamento, talvez pela peste bubônica.

O quadro de Pinturicchio foi tirado de seu apartamento e tido como perdido até pouco tempo atrás.

A extraordinária pintura do menino Jesus apareceu no mercado de arte há três anos, e foi comprado por um industrial italiano de Perugia.

O professor Nucciarelli diz que o Vaticano não gostou da descoberta: “Naturalmente, eles não ficaram muito felizes com publicidade deste tipo”, disse.

“Mas estivemos no quarto do papa Alexandre, que é um dos mais claramente identificados no apartamento Bórgia do Palácio Apostólico. Existe exatamente o espaço sobre a porta onde o quadro teria sido exposto. Mas ainda não recebemos permissão para examiner o atual estado da parede por trás da tapeçaria.” Apenas um retrato de Giulia Farnese – cujo irmão Alessandro mais tarde se tornou o papa Paulo 3º – sobreviveu aos tempos.

A obra, em exibição no museu Castel Sant’Angelo, em Roma, é atribuída ao pintor romano Luca Longhi e mostra uma jovem sentada em uma paisagem montanhosa perto de um unicórnio, que simboliza a família Farnese.

A primeira e mais conhecida amante de Alexandre 6º foi Vanozza del Cattanei, mãe de Lucrecia e César Bórgia.

Retratada em diversos quadros, seu túmulo se localiza em um dos cantos da igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma.

Fonte: BBC Brasil

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