Milhares de muçulmanos iniciaram na semana passada o Ramadã, o mês de jejum e orações no calendário religioso islâmico. No atual contexto de pandemia, a maioria dos países muçulmanos abriu mão das reuniões públicas e fechou mesquitas.

Fim dos tradicionais jantares (iftar), as orações noturnas nas mesquitas (tarawih), das reuniões familiares e entre amigos até tarde da noite ou viagens para as cidades santas do islã. Em muitos países, o mês sagrado será “um Ramadã privado, longe uns dos outros e longe das mesquitas”, resume um dos responsáveis pela comunidade muçulmana da Albânia, Taulant Bica.

No Irã – o país do Oriente Médio mais castigado pela covid-19 – o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, pediu que a população evite todo o tipo de reunião, mas sem negligenciar as orações.

Jejum e oração em casa é o que também recomenda a Direção dos Assuntos Religiosos da Turquia. Na Rússia, os fiéis também são encorajados a não frequentar mesquitas neste momento.

Já o Senegal, onde 90% da população é muçulmana, resolveu cancelar as orações coletivas e fechar as mesquitas. As viagens para as reuniões familiares, tradicionais nesta época de comunhão de parentes, também foram proibidas pelas autoridades.

No Kosovo e na Albânia, dois países de maioria muçulmana, as autoridades pedem que os fiéis realizem as tradições do Ramadã em casa. O mesmo pedido é feito aos muçulmanos da França, Áustria e Alemanha. As orações coletivas também foram proibidas na Bulgária e na Bósnia.

Muitos países organizam um Ramadã online. Na Alemanha, onde as mesquitas permanecerão fechadas apesar da retirada de algumas restrições, os locais de culto preparam leituras do Alcorão e orações ao vivo através das redes sociais. O mesmo vai acontecer na Holanda, onde algumas tradições do mês sagrado dos muçulmanos serão transmitidas por streaming.

Na Indonésia, onde milhões de pessoas viajam para suas cidades de origem durante o Ramadã, o governo proibiu deslocamentos por medo de uma explosão de casos da covid-19. Pesquisadores da Universidade da Indonésia estimam que esse fenômeno possa causar um milhão de infectados e 200 mil mortos apenas na ilha de Java.

Ridwan Kamil, governador da província de Java Ocidental, que conta com uma população de 50 milhões, tenta ser o mais pedagógico possível. “Se você se preocupa com seus entes queridos, fique onde está até que tudo acabe”, afirmou.

Enquanto em boa parte do mundo muçulmano as autoridades tentam proteger os fiéis da covid-19, em alguns países asiáticos imãs estão pedindo a frequentação das mesquitas. É o caso de Bangladesh, onde os líderes religiosos convenceram as autoridades a não fecharem os locais de culto durante o mês sagrado.

Para tentar evitar a propagação da doença, o governo pediu uma redução no número de pessoas nas mesquitas. Uma sugestão que irritou um dos principais grupos de imãs do país. “A cota de fiéis imposta pelo governo não é aceitável. O Islã não apoia essa imposição”, disse Mojibur Rahman Hamidi, membro do grupo extremista Hefazat al-Islam, que representa esses imãs.

No Paquistão, o governo se viu sob pressão das autoridades religiosas e anunciou que as orações nas mesquitas estão autorizadas com a condição de que os fiéis respeitem o distanciamento social e que as pessoas idosas e doentes não frequentem os locais de culto. “Vamos ter que forçar as pessoas a não ir às mesquitas? E se elas forem, a polícia vai ter que prender os fiéis?”, questionou o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan.

A Malásia debateu se permitiria a abertura dos bazares do Ramadã, onde os muçulmanos compram os doces que consomem após o iftar. Depois de impor o confinamento nacional, o governo declarou na semana passada que permitiria apenas “bazares eletrônicos”, com entregas em domicílio.

No entanto, algumas localidades se recusam a seguir as normas. O estado de Perlis, no norte do país, anunciou que violará as diretrizes de Kuala Lumpur e que os comerciantes de alimentos poderão vender seus produtos em suas casas e nas estradas, como manda a tradição.

Fonte: UOL com informações de AFP

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