Das 300 milhões de mulheres com algum tipo de deficiência 80% delas vivem em países pobres ou em desenvolvimento. No Brasil, 14,5% do total da sua população, o que representa 24,5 milhões de homens e mulheres, são portadores de deficiência.

Mas 46% das mulheres desse grupo não têm acesso a terapias e um terço é analfabeta ou somam, no máximo, três anos de escolaridade.

Os dados foram apresentados pela pastora Iara Mueller, professora da Escola Superior de Teologia (EST), em encontro sobre inclusão no meio estudantil, organizado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) na terça-feira, 11 de setembro, em São Leopoldo. A pastora foi uma das painelistas do encontro, ao enfocar o tema deficiência e violência.

Mulheres e crianças com deficiência são as que mais sofrem violência física e sexual. “É um mito dizer que mulheres com deficiência não são sensuais, não atraem”, disse a pastora, lembrando que boa parte desses abusos acontece em lares e em instituições. Abusadores sentem-se protegidos porque acham que mulheres e crianças com deficiência não sabem se comunicar, afirmou.

Mas existem também outros tipos de abuso, mais sutis. “Um professor pedir em aula para redigir relatório sobre apresentação de um filme legendado é um abuso em relação a uma pessoa que apresenta deficiência visual”. Subir muitas escadas é outro tipo de violência que entra nesse rol. Todo tipo de falta de acesso “é uma violência contra nós”, afirmou a pastora, que se locomove com o auxílio de duas muletas canadenses.

Vítima de paralisia cerebral ao nascer, que lesou a parte dos comandos motores no cérebro, o estudante de Direito na Unisinos, Ronaldo Morlin, destacou que com os avanços da medicina hoje dificilmente alguém com acompanhamento médico adequado sofre esse tipo de acidente como ele teve há 30 anos. Atualmente, os números crescem na coluna das deficiências adquiridas, provocadas pela diabete, acidentes de carro, de moto, ou bala perdida.

Outra mudança verificada na sociedade, apontada pelo professor Eduardo José Drezza, da Universidade Cidade de São Paulo (Unicidi), é que no passado a pessoa com algum tipo de deficiência ficava recolhida em casa, evitando se expor, mas também por causa das dificuldades de acesso a locais públicos. Ele admitiu, contudo, que o acesso ao mundo acadêmico para pessoas com deficiência ainda é muito restrito.

Uma das conseqüências desse quadro é que a ponta inicial no processo educativo continua recebendo poucos candidatos. O professor citou que em toda a rede pública de São Paulo há apenas 132 alunos cegos matriculados no ensino fundamental, o que é muito pouco. Ele defendeu uma educação universal inclusiva, que vá além dos regulamentos e das leis que promovem a inclusão de pessoas com deficiência.

“Ninguém quer tratar o aluno com deficiência de forma especial. Queremos que o educador saiba conduzir sua aula sem que o aluno perca muito, embora terá perdas, sim”, frisou Eduardo, acrescentando: “Quando olhamos o deficiente com ar de assistencialismo (toda ação que gera dependência) a inclusão foi pro brejo”. Mas receber assistência é um direito que pessoas portadoras de deficiência têm, declarou.

Na convivência e interação de pessoas ditas normais com pessoas portadoras de deficiência, quem mais ganha nesse processo são aquelas. “Onde passa uma pessoa com deficiência e conquista espaços, toda a população vem atrás dessa conquista com maior qualidade de vida”, destacou Iara.

A indiferença, assinalou a pastora, também é uma forma de violência. Ao ser indagada a respeito do constrangimento que muitas vezes pessoas ditas normais sentem em relação a pessoas portadoras de deficiência, evitando inclusive oferecer qualquer tipo de apoio e auxílio por essa razão, o que pode parecer indiferença, Iara foi direta: “Perguntem, nós não nos ofendemos!”

Aplaudida, a pastora foi enfática: “A nossa deficiência é visível, não dá para escondê-la. Talvez vocês a escondam melhor”.

Fonte: ALC

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