O principal líder muçulmano da Austrália causou alvoroço ao sugerir que mulheres que não usam o hijab – o vestido que cobre o corpo e a cabeça – estão incitando a violência sexual contra elas próprias.

Um discurso do xeque Taj el-Din al-Hilali feito no mês passado circulou nesta quinta-feira na imprensa australiana, gerando reações inclusive do primeiro-ministro do país, que qualificou os comentários de “pavorosos”.

“A idéia de que mulheres são culpadas por estupros é ridícula”, afirmou John Howard, de acordo com o jornal The Australian.

Em uma manifestação durante o mês sagrado do Ramadã, o xeque Hilali disse: “Se você pegar um pedaço de carne descoberta e deixar na rua, no jardim, ou no parque, e os gatos vierem e comerem… de quem é a culpa, dos gatos ou da carne descoberta?”, ele discursou.

“O problema é a carne descoberta. Se ela (a mulher) estivesse na sua sala, na sua casa, no seu hijab, não teria acontecido nada.”

Ele condenou ainda as mulheres que “rebolam sugestivamente” e usam maquiagem, dando a entender que elas atraíam violentadores.

“Daí você encara um juiz impiedoso… que te dá (uma pena de) 65 anos”, ele acrescentou.

Falta de senso

O correspondente da BBC em Sydney, Nick Bryant, disse que os comentários do clérigo demonstraram uma particular falta de sensibilidade por causa do impacto de um caso recente de uma série de estupros cometidos por uma gangue de libaneses. Todos receberam longas penas de prisão.

Mulheres islâmicas ouvidas pelo The Australian descreveram o comentário do xeque como repulsivo e ofensivo.

A Comissária Federal contra Discriminação Sexual, Pru Goward, afirmou que os comentários podem incitar o crime.

“Jovens muçulmanos que a partir de agora estuprarem mulheres podem citar isto na Justiça, podem parafrasear este homem, seu líder, na Justiça”, ela disse, acrescentando que o clérigo deveria ser deportado.

O líder da Associação Muçulmana de Libaneses da Austrália, Tom Zreika, ameaçou proibir os sermões na mesquita de Lakemba, no oeste de Sydney.

“Se você não tem o apoio da principal organização islâmica da Austrália, você está em um limbo”, ele afirmou.

Desculpas

As reações geraram um pedido de desculpas do xeque Hilali, que afirmou ter sido mal-interpretado.

“Peço desculpas sem reservas a qualquer mulher que se sinta ofendida pelos meus comentários. Quis apenas proteger a honra das mulheres”, ele afirmou em nota publicada no The Australian.

“As mulheres na sociedade australiana têm a liberdade o direito de se vestir como quiserem.”

“Que um homem aprove ou não uma forma particular de se vestir, qualquer forma de assédio é inaceitável.”

Um porta-voz do clérigo afirmou que a metáfora da carne havia sido tirada do contexto, e se referia à infidelidade sexual, não à violência sexual.

Segundo ele, o discurso era direcionado a homens e mulheres que se envolvem em casos extra-conjugais.

O xeque Hilali já havia causado furor há alguns anos, quando foi acusado de louvar homens-bomba ao dizer que os ataques de 11 de setembro eram “a obra de Deus contra os opressores”.

Fonte: BBC Brasil

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