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Um dos cientistas mais conhecidos do planeta concedeu uma entrevista ao jornal ‘El Pais’ – publicada em português neste sábado (25) – e falou sobre seus conceitos com relação ao ser humano e Deus. Stephen Hawking destacou que teme pelo futuro da humanidade, mas que não seria necessário clamar por Deus.
Durante a entrevista, o cientista afirmou que a ‘humanidade será superada pela tecnologia em cerca de de 100 anos’.
“Os computadores superarão os humanos graças à inteligência artificial em algum momento nos próximos cem anos. Quando isso acontecer, precisaremos nos certificar de que os objetivos dos computadores sejam os mesmos que os nossos”, afirmou.
Quando questionado sobre seus conceitos com relação à fé e Deus, Hawkins explicou que sua relação com este tema é ‘impessoal’ e que não vê necessidade em ‘invocar a Deus’.
“Utilizo a palavra ‘Deus’ em um sentido impessoal, da mesma forma que Einstein, para me referir às leis da natureza. As leis da ciência bastam para explicar a origem do Universo. Não é preciso invocar Deus”, disse.
[b]Criacionismo[/b]
Apesar de muitos cientistas acreditarem que uma boa relação entre fé e ciência não é possível, este paradigma tem sido contrariado por adeptos do criacionismo, como o norte-americano Ken Ham e o brasileiro Adauto Lourenço.
Em suas palestras, Adauto Lourenço afirma que o trabalho do criacionismo não é exatamente prova a existência de Deus, mas sim que o mundo foi criado.
“Deus existe e isto é fato. Não é necessário que eu comprove. Porém é possível provarmos que a terra foi criada, não formou-se espontaneamente, e se ela foi criada, creio que isto aconteceu pelas mãos de Deus”, explicou em uma palestra ministrada anos atrás, na Universidade Mackenzie.
Já Ken Ham tem se empenhado em comprovar cientificamente, fatos registrados na Bíblia e armazenado suas descobertas em seu site e no Museu da Criação, por ele fundado.
Confira abaixo a íntegra da entrevista ao jornal ElPaís:
[b]O senhor tem uma agenda vertiginosa de viagens, conferências, entrevistas, festivais… quase como uma estrela do rock. Por que vive dessa forma?
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Sinto que tenho o dever de informar as pessoas sobre a ciência.
[b]Gostaria de fazer alguma coisa na vida que ainda não o fez?
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Viajar ao espaço com a Virgin Galactic.
[b]Um de seus últimos livros fala sobre a teoria de tudo, que uniria a relatividade e a física quântica. Sobre o que será o próximo?
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Pode ser que meu novo livro seja sobre minha sobrevivência, contra todos os prognósticos.
[b]Em muitos países, como na Espanha, o orçamento para a ciência é limitado, e muitos cientistas jovens precisaram emigrar para encontrar trabalho. O que o senhor diria a um jovem de países como o nosso e que pretende ser cientista?
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Que vá para os Estados Unidos. Lá valorizam a ciência porque ela produz tecnologia.
[b]Recentemente o senhor criou uma iniciativa muito ambiciosa para buscar vida inteligente em nossa galáxia. Há alguns anos, entretanto, disse que seria melhor não estabelecer contato com civilizações extraterrestres, porque poderiam nos exterminar. Mudou de opinião?
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Se os extraterrestres nos visitarem, o resultado será muito parecido com o que aconteceu quando Colombo desembarcou na América: não foi uma coisa boa para os nativos americanos. Esses extraterrestres avançados poderiam virar nômades, e tentar conquistar e colonizar todos os planetas aos quais conseguissem chegar. Para meu cérebro matemático, de números puros, pensar em vida extraterrestre é algo muito racional. O verdadeiro desafio é descobrir como esses extraterrestres podem ser.
[b]Pouco tempo atrás o senhor disse que a informação pode sobreviver a um buraco negro. O que isso significa para uma pessoa comum?
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Cair em um buraco negro é como se lançar das cataratas do Niágara em uma canoa: se você remar suficientemente rápido, pode escapar. Os buracos negros são a máquina de reciclagem definitiva: o que sai é a mesma coisa que entra, mas processada.
[b]No ano de 2015 a teoria da relatividade geral completa cem anos. O que o senhor diria a Albert Einstein se pudesse falar com ele, e o que espera da ciência nos próximos cem anos?
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Einstein escreveu um artigo em 1939 no qual afirmava que a matéria não poderia comprimir-se além de um certo ponto, descartando a possibilidade da existência de buracos negros.
[b]Por que acredita que devemos temer a inteligência artificial? É inevitável que os humanos criem robôs capazes de matar?
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Os computadores superarão os humanos graças à inteligência artificial em algum momento nos próximos cem anos. Quando isso acontecer, precisaremos nos certificar de que os objetivos dos computadores sejam os mesmos que os nossos.
[b]Qual acredita que será nosso destino como espécie?
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R. Creio que a sobrevivência da raça humana dependerá de sua capacidade para encontrar novos lares em outros lugares do universo, pois o risco de que um desastre destrua a Terra é cada vez maior. Desta forma, gostaria de despertar o interesse do público pelos voos espaciais. Aprendi a não olhar muito à frente, a me concentrar no presente. Ainda quero fazer muitas outras coisas.
[b]O Governo espanhol aprovou grandes cortes na ciência nos últimos anos. O que o senhor diria ao Governo?
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Os espanhóis têm muito interesse na ciência e na cosmologia. Foram grandes leitores do meu livro Uma Breve História do Tempo. É importante que todos tenham bons conhecimentos de ciência e tecnologia. A ciência e a tecnologia estão mudando drasticamente nosso mundo, e é fundamental assegurar que essas mudanças ocorram na direção correta. Em uma sociedade democrática, isso significa que todos precisamos ter conhecimentos elementares sobre ciência, de modo que possamos tomar nossas próprias decisões com conhecimento de causa e não as deixar nas mãos de especialistas. É preciso simplificar, com certeza. A maioria das pessoas não tem tempo para dominar os detalhes puramente matemáticos da física teórica. Mas acredito que todo mundo pode, e deve, ter uma ideia geral de como funciona o universo e de nosso lugar nele. É isso que tento transmitir em meus livros e minhas conferências.
[b]Acredita que é possível ser um bom cientista e acreditar em Deus?
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Utilizo a palavra “Deus” em um sentido impessoal, da mesma forma que Einstein, para me referir às leis da natureza.
[b]O senhor disse que não precisamos de Deus para explicar o Universo tal como ele é. Pensa que algum dia os seres humanos abandonarão a religião e Deus?
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As leis da ciência bastam para explicar a origem do Universo. Não é preciso invocar Deus.
[b]Muitas pessoas precisam de cadeiras de rodas por conta de doenças como a esclerose lateral amiotrófica e muitas outras. Frequentemente enfrentam numerosas dificuldades para levar uma vida normal. Por exemplo, não podem viajar de avião em suas próprias cadeiras [Hawking costuma viajar de barco]. Uma vez que o senhor mesmo experimentou essas dificuldades, tem alguma mensagem para elas sobre a vida e como vivê-la?
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Apesar de ter a desgraça de sofrer uma doença neuronal motora, tive muita sorte em praticamente todo o resto. Tive a sorte de trabalhar em física teórica, um dos poucos campos nos quais minha incapacidade não era um obstáculo sério, e de ser premiado com a popularidade de meus livros. Meu conselho para outras pessoas com incapacidades seria que se concentrassem em coisas que sua deficiência não as impeçam de fazê-las bem feitas, e que não se lamentem por aquelas nas quais o problema interfere.
Tudo está na mente. Preciso admitir que, quando não sigo o assunto de uma conversa, costumo divagar em reflexões sobre física e buracos negros. De fato, de certo modo minha incapacidade foi uma ajuda. Não preciso dar aulas e participar de comitês chatos, e me deu mais tempo para pensar e pesquisar.
[b]Muitos cientistas de renome mundial, entre eles 12 prêmios Nobel, participarão do Starmus 3 para reverenciá-lo. Será um acontecimento histórico. Existe algo especial que o senhor queira ver no Starmus 3?
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O Starmus 3 não se trata somente de buracos negros, campo no qual realizei um trabalho importante, mas abarca também a música e a arte. O Starmus 3 é o lugar onde a ciência séria se encontra com um público mais amplo; onde o pensamento intelectual, as nuances e a complexidade são reverenciados; onde se explora a maneira como trabalham os cientistas e onde são forjadas novas ideias.
[b]Fonte: Guia-me e El País[/b]