Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro como novo ministro da Educação, o professor Carlos Alberto Decotelli, de 67 anos, é evangélico, oficial da reserva da Marinha e o primeiro negro a ocupar um cargo na Esplanada.
Sucessor de Abraham Weintraub, que deixou o governo cercado por polêmicas e após confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, Decotelli, no entanto, prefere se apresentar como um técnico aberto ao diálogo. “Vamos favorecer o diálogo e a comunicação com o MEC”.
Segundo Decotelli, que teve a nomeação publicada na noite desta quinta-feira, 25, no Diário Oficial da União, Bolsonaro não mencionou as pautas ideológicas ao convidá-lo para assumir o Ministério da Educação.
Em entrevista ao Estadão, ele foi questionado sobre como vai tratar de temas caros à base bolsonarista, como escola sem partido e ideologia de gênero, Decotelli, disse que Bolsonaro não conversou sobre essas pautas e que, neste momento, a urgência é resolver os problemas da educação decorrentes da pandemia do coronavírus.
Perguntado qual a sua opinião sobre escola sem partido e ideologia de gênero, ele se disse voltado para as questões da crença no Novo Testamento.
“Eu sou um técnico. Cresci dentro da Primeira Igreja Batista do Rio e sou voltado para as questões da crença neotestamentária do núcleo evangélico tradicional, como as igrejas Batista, Metodista, Presbiteriana. Frequentei escola dominical desde dois anos de idade e hoje sou membro da Primeira Igreja Batista de Curitiba. Nas convicções que estão na Bíblia, no Novo Testamento, eu acredito. Uma questão de fé. É assim que procedo na minha vida.”
Sistema de cotas
Em entrevista à Rádio Bandeirantes nesta sexta-feira, 26, Decotelli disse que as cotas são mecanismos para tentar diminuir diferenças no acesso à educação. “Não podemos exigir resultados iguais para aqueles que não tem igualdade no acesso. Cotas dependerão sempre de reflexão de toda a sociedade”, disse.
Decotelli adotou um discurso neutro ao se referir a questão, mas reconheceu estruturas que mantêm o racismo na sociedade brasileira.
“Passamos mais de 300 anos com esse conceito de escravocrata. Hoje, ainda temos muitas contaminações de metodologias, subjetividades. Eu nunca, como negro, fui um George Floyd. Nunca sofri o racismo de tomar dois tiros nas costas. Mas [sim de] perceber olhares, de eugenia de ambientação, ou seja, criar um ambiente que não seja para negros”, contou.
Ele ainda citou que os Estados Unidos criou uma “pandemia racial” com os protestos antirracistas, evidenciando que o país “não aprendeu a conviver com a diferença”.
O economista reforçou sua visão de que as cotas — adotadas por universidades públicas para garantir um maior número de negros e indígenas nos cursos acadêmicos — refletem uma autocrítica da sociedade. Ele mesmo disse que é bisneto de um ex-escravo liberto através da Lei do Sexagenários.
“Vamos dar oportunidades para os desiguais, vamos igualar oportunidades. Está muito fora de moda pensar sistemas de diferenças entre seres humanos. Esse negócio de cor da pele, de origem, deixe de lado. Mas neste momento, precisa de reflexão”.
Fonte: UOL e Estadão