Três das dioceses do interior dos Estados Unidos perderam um quarto de suas igrejas. Elas tinham 590 igrejas em 2005, segundo o Centro para Pesquisa Aplicada no Apostolado, que monitora esses dados para a Igreja, e atualmente têm 440, disse a diocese.

Policiais armados removeram o último homem da igreja católica há 10 dias, colocando sinais de “Proibida a entrada” nas portas ao saírem e cercando o perímetro da propriedade com fitas usadas em locais de crime contando o alerta: “Não ultrapasse”. Foi o final de uma vigília de sete meses dos fiéis na tentativa de manter a igreja aberta.

“Nos foi dito que se fôssemos até mesmo ao estacionamento, nós seríamos presos”, disse Mary Cargian, 78 anos, que se casou na igreja, a Saint Mary’s, em 1967 e reza ali desde então.

Por 217 dias, 100 voluntários se revezaram na ocupação de Saint Mary’s, onde as fechaduras foram mudadas pouco antes do padre celebrar a última missa, em 30 de junho. Quando a missa chegou ao fim, alguns voluntários permaneceram e então os ocupantes se revezaram. Eles se reuniam na igreja aos domingos para orações, continuaram arrecadando doações e até mesmo fizeram uma apelação junto ao Vaticano, argumentando que a igreja de 108 anos valia a pena ser salva.

A igreja é uma das 30 que foram fechadas ou fundidas pela Diocese de Syracuse da Igreja Católica Romana desde o ano passado, como parte de uma ampla e turbulenta reorganização que deverá afetar a maioria das 154 paróquias remanescentes da diocese nos próximos anos.

Ao longo da última década, as dioceses de todo o país estão consolidando paróquias diante dos crescentes custos de aquecimento, envelhecimento dos padres e encolhimento das congregações, provocando protestos sentados furiosos e outras manifestações em Boston, Chicago e Detroit. Mas a situação em Syracuse e outras cidades fabris em declínio no interior de Nova York é mais aguda, já que o número de católicos encolheu mais depressa que a população em geral.

“Nós sabíamos desde o início dos anos 80 que enfrentaríamos uma diminuição do clero, mas não previmos que o interior de Nova York seria tão duramente atingido pela perda de empresas, indústrias e pessoas”, disse o padre James P. Lang das paróquias da Diocese de Syracuse. “Chegou ao ponto de termos que tomar uma decisão”, ele disse. “Nós teríamos que gastar nossos recursos mantendo nossos prédios abertos ou teríamos que nos adaptar a esta nova realidade.”

Três das dioceses do interior, Buffalo, Rochester e Syracuse, perderam um quarto de suas igrejas. Elas tinham 590 igrejas em 2005, segundo o Centro para Pesquisa Aplicada no Apostolado, que monitora esses dados para a Igreja, e atualmente têm 440, disse a diocese.

As mudanças demográficas que levaram ao fechamento das igrejas são mais pronunciadas nos Estados do médio Atlântico, do Alto Meio-Oeste e nos velhos centros industriais do Nordeste, onde os imigrantes católicos, que antes compunham uma parcela significativa da força de trabalho, partiram para o Sul e Oeste desde o início do colapso do setor manufatureiro nos anos 70.

“É uma questão simples”, disse Chester Gillis, presidente do departamento de teologia da Universidade de Georgetown. “Se há menos pessoas doando para a igreja, se torna irreal -e financeiramente irresponsável- manter o prédio aberto.”

“O que descobrimos é que a maioria destas paróquias precisa de manutenção e que muitas delas não estão crescendo”, disse Keenan. Os novos imigrantes católicos que se mudaram para Buffalo e comunidades vizinhas, a maioria refugiados africanos e do Leste Europeu, “não são suficientes para compensar as perdas”, ele acrescentou.

A Diocese de Rochester, que serve 12 condados, tinha 159 paróquias em 2001; agora tem 136. Apenas na cidade de Rochester, a diocese fechou metade de suas 30 igrejas entre 1970 e 2004, disse Doug Mandelaro, o diretor de administração da diocese.

Marilyn Catherine, 59 anos, que vive em Rochester, estava entre os fiéis que trabalharam por vários meses em 2005 em um plano para fundir quatro igrejas da cidade em uma -em parte porque as congregações encolheram ao longo dos anos e em parte por não haver padres suficientes.

As igrejas, em um raio de 8 quilômetros uma da outra, foram construídas por imigrantes e todas tinham sua própria personalidade. Uma contava com uma congregação mais idosa, enquanto outra atendia principalmente aos refugiados da Nigéria e Sudão. E sem exceção, os fiéis mantinham uma profunda ligação com os próprios prédios. Agora, uma congregação poliglota prospera na Saint Monica’s, no 19º Distrito de Rochester.

“Houve muito sofrimento durante esse processo”, disse Catherine, que se mudou de Long Island para Rochester, a cidade de seu marido, há 30 anos. “Agora, nós chamamos a nós mesmos de os ressurectos, porque conseguimos pegar algo que deixou muitos de nós tristes e criamos uma nova comunidade.”

Ao mesmo tempo, a diocese de Rochester abriu sete novas igrejas nos últimos 30 anos, em cidades suburbanas como Webster e Pittsford, uma das poucas comunidades do interior com uma renda familiar média superior a US$ 100 mil e um valor médio de imóvel acima de US$ 175 mil, segundo um estudo de 2005 do jornal “Business First”, com sede em Buffalo.

“Estas igrejas estão todas prosperando”, disse Mandelaro.

Para muitos fiéis da Saint Mary’s, em Jamesville, o fechamento causou confusão. A igreja -construída por imigrantes irlandeses em 1899 e ampliada 32 anos depois para abrir espaço para os poloneses, italianos e ucranianos que vieram para trabalhar na pedreira local- tinha uma congregação sólida e um fundo saudável que financiava um refeitório para 1.200 pessoas e um programa popular de ensino religioso, disse Ciarrai Eaton, presidente do conselho da paróquia.

O primeiro sinal de problemas surgiu em 2001, quando a diocese transformou Saint Mary’s em uma missão, o que significava que não mais contaria com um padre residente, e pediu aos fiéis que propusessem formas de lidar com a nova demografia. A congregação sugeriu que os fiéis administrassem as finanças da igreja e que um padre visitante celebrasse a missa. Em 2005, alguns membros fizeram um apelo ao Vaticano; ele ainda não obteve resposta.

Mas Lang, o vigário da diocese, disse que dado o encolhimento do número de padres da diocese, fazia sentido fechar Saint Mary’s, já que seus fiéis podiam ser atendidos por outra igreja, a Holy Cross, a menos de 8 quilômetros de distância. “Foi uma questão de descobrir como melhor organizar os recursos humanos limitados que temos”, ele disse.

A vigília dos fiéis teve início tão logo a igreja foi fechada. “Nós tínhamos médicos, contadores, assistentes sociais, professores -muitas pessoas que estavam lá nos dias de folga, nos fins de semana, sempre que podiam”, disse Eaton, 28 anos, uma costureira que dormia em Saint Mary às segundas com seu marido, Fred, e o bebê do casal, Moira.

Danielle E. Cummings, a porta-voz da diocese, disse que os líderes da diocese primeiro viram a vigília como uma forma de dar à congregação um “tempo para lamentar” a perda de sua igreja. Mas, ela reconheceu na entrevista, permitir que durasse tanto foi um erro. A decisão de parar ocorreu quando as autoridades da Igreja souberam que um não sacerdote tinha levado hóstias da comunhão para a igreja. “Àquela altura nós dissemos: ‘Basta, temos que tirá-los de lá e lacrar a igreja'”, disse Cummings.

Algumas das famílias de Saint Mary’s ingressaram em outras congregações, mas Eaton e várias outras famílias ainda mantêm a esperança de que sua igreja será reaberta. Eles continuam se reunindo para orações aos domingos, na calçada.

“Nós estamos tentando manter nossa congregação funcionando o mais próximo do normal que podemos”, disse Eaton. “Somos como uma família. E sabemos que são as pessoas que fazem a paróquia.”

Fonte: The New York Times

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