Quem são os principais artistas e como funciona a música religiosa em Pernambuco, um segmento aquecido, com músicos ocupados o ano todo e com projeção internacional.
Considerada uma das pérolas do mercado de música gospel no estado, Eliã Oliveira é produto de uma indústria em escalada. Foi a primeira cantora apadrinhada pela Bereia Music, gravadora recém-criada pela igreja evangélica Assembleia de Deus. O selo lançou o último CD dela, A carta (2013), cujas vendas chegaram às 50 mil unidades, número alto diante dos entraves do mercado fonográfico atual. “Apesar da pirataria, cada CD é uma bênção. Não sinto dificuldades”, revela Eliã.
O mercado de música gospel mostra vigor. Por ano, estima-se que, dos quase R$ 30 bilhões movimentados no consumo de produtos ligados à fé no país, de R$ 1,5 bilhão a 3 bilhões provêm de shows, discos e eventos ligados a cantores e bandas. Não por acaso, as gravadoras Warner, Universal, EMI e Som Livre lançaram selos direcionados ao segmento. E dos dez CDs mais vendidos em 2013, diz a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), dois eram de padres (Marcelo Rossi e Reginaldo Manzotti) e um de Damares, cantora evangélica de boa aceitação.
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Em Pernambuco, o trabalho das gravadoras tateia o mercado. Enquanto a Bereia, a Revelação e a Lise Record atendem aos músicos evangélicos, os cantores católicos se lançam de maneira independente e buscam se organizar no Movimento Canta PE, com mais de 80 nomes e três anos de atuação. A demanda estimulou a Arquidiocese de Olinda e Recife a projetar uma Pastoral dos Artistas, para dar vazão ao surgimento de músicos. “Vamos utilizar o lado artístico para evangelizar”, diz Ane Kely Cavalcanti, cantora.
No dia a dia, os artistas se dividem entre agenda de shows externos e atividades na igreja, como a participação em missas e cultos. No calendário anual do estado, há ao menos dez eventos fixos de música gospel. A Jornada Arquidiocesana da Juventude e o Enchei-vos, ambos católicos, são no segundo semestre, enquanto o Canta Recife e o Gospel Hits têm datas mais flexíveis. Produtor de festas do segmento, André Bonfim enxerga um mercado movimentado. “De 2009 para cá, o crescimento tem sido incrível. Chegamos a fazer três edições do Canta Recife no ano, porque existe demanda, mas, para preservar a marca, fechamos em duas”, conta o proprietário da Blessing Produções. Os valores investidos para produzir eventos do tipo beiram os R$ 200 mil.
O casting é formado por artistas locais e nacionais. É quando os pratas da casa aproveitam para vender discos e todo um mercado paralelo sem números oficiais se forma. “O movimento é volátil, se expande rápido e é muito difícil mensurá-lo com precisão. O grande diferencial é que o artista de música gospel consegue agregar ao produto um valor intangível, a fé, por isso as compras relacionadas à religião são tão impulsivas e emocionais”, considera o pesquisador do Programa de Religião e Espiritualidade nas Corporações e na Economia (PRECE) Andrey Mendonça, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP).
Seguindo os passos dos padres cantores, o pernambucano João Carlos foi dos responsáveis por impulsionar as vendas nas lojas de CDs do segmento. “Em relação ao ano passado, vendemos 10% a mais graças aos novos trabalhos de padres como ele”, pontua Ivonete Kurten, diretora da Paulinas Livraria, no Recife. Outra prova do boom da indústria gospel é Marcos Antônio, o Negrão Abençoado. Um dos cantores mais bem-sucedidos do estado, cujo cachê pode chegar a R$ 30 mil, ele passou a dialogar com o mercado secular, algo pouco apreciado pelos pentecostais, linha mais conservadora da igreja evangélica.
Em 2013, participou do DVD de Pablo do Arrocha. “O único segmento que defendo é o meu. Não existe música secular ou gospel. Música é música”, ponderou. Marcos tem 42 CDs gravados e um hit, Pai, com mais de 2 milhões de visualizações no YouTube. Fruto de uma indústria rentável, que não para de gerar astros.
[b]As peças da indústria gospel
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[b]Gravadoras[/b]
Enquanto o mercado de música evangélica, sobretudo o pentecostal, gera gravadoras próprias, o católico se mantém independente. Pesquisadores como Andrey Mendonça teorizam que os evangélicos criam mecanismos para manter seus artistas fora do mercado secular. A Bereia Music, Revelação e Lise Record trabalham buscando novas estrelas dentro das próprias igrejas, de acordo com agendas e vendagens de discos.
[b]Estúdios[/b]
O Renascer Estúdio, de Rerivaldo Lira, passou a atender o público evangélico com exclusividade depois do aumento da demanda. “É mais vantajoso. São cinco artistas por mês, de forma contínua. Nossa equipe é toda evangélica. Indicamos músicos, instrumentos, damos dicas sobre voz e músicas”, ele diz. Houve crescimento de 30% na demanda. Boa parte dos músicos, no entanto, ensaia e grava em estúdios mistos, como Premier, nissom e Somax.
[b]Internet[/b]
Marcos Antônio, o Negrão Abençoado, produziu o clipe do single Pai, gravado em uma capela, por menos de R$ 3 mil. A Edit Filmes, produtora de fora, cuidou das filmagens. O resultado foi mais de 2 milhões de visualizações. A produtora Jozart, especializada em clipes de brega, mudou o foco. Hoje, 50% das atenções se voltaram ao gospel, com fotos, DVDs e clipes. Os cenários exploram paisagens naturais, estúdios e a igreja. Orçamento não costuma passar dos R$ 2 mil por clipe.
[b]Mídias[/b]
O espaço nos veículos de comunicação de massa abertos ainda é restrito. Localmente, a Rede Brasil, da Assembleia de Deus, abraça as próprias estrelas, sem ceder espaço para músicos de outras vertentes. É filha única. Rádios como a Evangélica FM, Maranata e Tamandaré tocam canções de artistas locais. Os católicos ficam a mercê dos nacionais, como a Canção Nova, e dividem espaços na programação da Rádio Olinda, ligada à Arquidiocese de Olinda e Recife.
[b]Fonte: Diário de Pernambuco[/b]