O presidente americano, Barack Obama, anunciou nesta segunda-feira o fim de várias restrições para pesquisas com células-tronco feitas com verbas federais. “Milagres médicos não acontecem simplesmente por acidente”, disse ele ao fazer o anúncio que representa uma grande mudança na política americana.
O ex-presidente George W Bush tinha bloqueado o uso de qualquer verba federal para pesquisas com linhagens de células-tronco criadas depois de 9 de agosto de 2001.
Analistas afirmam que a decisão de Obama também pode levar o Congresso americano a suspender uma outra proibição, a de gastar o dinheiro de impostos para criar embriões.
Clonagem humana
“Não posso garantir que encontraremos os tratamentos e as curas que procuramos”, disse Obama.
“Mas prometo que vamos procurá-los, ativamente, com responsabilidade e com a urgência necessária para compensar o terreno perdido”, disse ele, se referindo ao ator e ativista em defesa do uso de células-tronco, Christopher Reeve.
Obama ordenou que órgãos de saúde formulem, dentro de 120 dias, diretrizes sobre como as pesquisas federais devem proceder sobre células-tronco que são produzidas em laboratórios privados.
Mas Obama disse que não permitirá que a pesquisa com células-tronco estude a clonagem humana que, segundo ele, “não tem espaço na nossa ou qualquer sociedade”.
Polêmica ética
A proibição, conhecida como Emenda Dickey-Wicker, existe desde 1996 e é renovada todo ano pelo Congresso.
Células-tronco são células com a capacidade de se transformarem em outro tipo de célula humana, células de ossos, músculos ou nervosas, por exemplo.
Um embrião pode fornecer um estoque sem limites destas células. Mas o uso de células-tronco de embriões humanos em pesquisas é um assunto polêmico e alguns ativistas acreditam que isto não seria ético.
Cientistas afirmam que estas pesquisas podem levar a grandes avanços médicos, mas muitos grupos religiosos são contra.
A prática de criar embriões é rotineira em clínicas particulares, mas a proibição vigente nos Estados Unidos coloca obstáculos para pesquisas federais até mesmo antes das restrições impostas por Bush, o que obrigou os cientistas a usar embriões que sobraram de tratamentos de fertilização.
A proibição do uso de verbas federais significava que cientistas eram obrigados a separar qualquer pesquisa de células-tronco com verbas particulares de suas atividades financiadas pelo governo.
Interferência política
Correspondentes afirmam que a mudança é parte de um compromisso de Barack Obama, de deixar claro que seu governo quer que a pesquisa científica fique livre de interferências políticas.
Obama deixou claro durante sua campanha presidencial que, se eleito, iria reverter a decisão do governo Bush, que vetou duas vezes as tentativas do Congresso de suspender a proibição.
“Acredito que as restrições impostas pelo presidente Bush para o financiamento de pesquisas com células tronco de embriões humanos algemaram nossos cientistas e prejudicaram nossa capacidade de competir com outros países”, disse Obama durante a campanha.
O presidente George W. Bush e outros conservadores argumentavam que os embriões são vivos, humanos, e por isso não deveriam ser destruídos.
De acordo com o correspondente da BBC em Washington Kevin Connolly, assim como Bush, Obama tem crenças cristãs profundas, mas prefere definir a questão nos termos de restaurar a integridade científica ao governo.
Em uma entrevista à BBC em janeiro, Robert Evans, pastor e estudioso de bioética, afirmou que será contra qualquer medida que permite o uso de verbas federais para novas linhagens de células-tronco.
“O que (a medida) indica é que foi negado ao embrião humano o direito à vida”, disse.
Vaticano condena liberação de verba pública para pesquisas com células-tronco
O Vaticano recebeu “com preocupação” a suspensão nos Estados Unidos das restrições ao uso de verbas federais para pesquisas com células-tronco embrionárias, e seu jornal –“L’Osservatore Romano”– reiterou a importância de “zelar pela dignidade da pessoa em todas as fases de sua existência.”
“O reconhecimento da dignidade pessoal deve se estender a todas as fases da existência do ser humano. Neste pensamento se baseia uma democracia real, capaz de reconhecer a igualdade de todos os homens e de impedir qualquer discriminação injusta baseada em seu desenvolvimento ou em suas condições de saúde”, defende.
Artigo escrito pelo diretor do Centro de Bioética da Universidade Católica de Roma, Adriano Pessina, ressalta que o embrião deve ser tratado ‘desde o princípio pelo que é, uma pessoa’.
No último sábado (7), o jornal da Santa Sé publicou as críticas dos bispos americanos à medida sancionada ontem pelo presidente Barack Obama –que eles chamaram de ‘profundamente imoral e supérflua’– e lembrou a oposição da Igreja sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias.
“Uma vez ultrapassada a fundamental linha moral que nos impede de tratar os seres humanos como meros objetos de pesquisa, não haverá um ponto de parada”, afirmaram os bispos dos EUA.
Fonte: BBC Brasil e Folha Online