O prefeito (governador) do departamento (estado) de Tarija, Mario Cossío, disse que pediu a participação da Igreja Católica e de embaixadores de países amigos como o Brasil nas negociações com o governo da Bolívia.

Igreja e embaixadores participariam como “observadores” no diálogo entre oposição e o governo do presidente Evo Morales.

“Falei com o cardeal da Igreja e também com embaixadores e eles mostraram disposição de participar deste diálogo”, disse Cossío. “Se o presidente estiver de acordo, podemos instalar esse diálogo formalmente”.

Ele fez as declarações ao chegar, neste domingo, ao Palácio presidencial Queimado, em La Paz, onde esperava reunir-se com o presidente Morales. “Hoje a presença do presidente é imprescindível”, disse.

Testemunhas

Pouco depois, o vice-presidente Álvaro Garcia Linera disse que Morales só participaria do encontro se houvesse avanços.

Linera afirmou que o governo aceitaria a presença de “testemunhas” – não observadores – no encontro.

“O governo tem a disposição de ser flexível tanto na questão dos impostos petroleiros quanto das autonomias. Mas queremos que as autonomias dos departamentos sejam discutidas dentro da nova constituição”, afirmou.

Segundo ele, o governo tem propostas que vão beneficiar as administrações regionais.

Linera fez duas ressalvas: “os crimes não são negociáveis. Ou seja, nem as mortes em Pando, cuja responsabilidade é do senhor prefeito (Leopoldo Fernández) e nem os delitos cometidos contra nosso sistema energético, com o fechamento de válvulas. Estes crimes serão apurados e os responsáveis presos”.

O vice-presidente pediu que os manifestantes liberem as instalações energéticas que ainda estão ocupadas no país, além dos organismos públicos do governo central, controlados pela oposição na região governada pela oposição.

A Bolívia vive uma nova era de crise política e social que deixou vários mortos em Pando, na fronteira com o Acre.

Os jornais publicaram, neste domingo, o nome de 18 vítimas fatais, mas segundo o ministro de governo, Alfredo Rada, esse número poderia passar de trinta.

Essa tentativa de diálogo – a terceira em um mês – ocorre um dia antes da reunião dos presidentes da Unasul, em Santiago, no Chile. Morales participará do encontro, confirmou Linera.

Na entrevista em La Paz, os jornalistas perguntaram ao vice-presidente por que não se permite o desembarque de observadores e jornalistas em Cobija, capital de Pando.

“Em Pando existem quadrilhas de traficantes armados que atuaram com a permissão deste senhor prefeito”, afirmou. “As Forças Armadas têm a obrigação de proteger o aeroporto da cidade e só quando a situação estiver normalizada permitiremos a chegada de observadores e organismos de direitos humanos”.

Estado de sítio

Na semana passada, o governo decretou estado de sítio em Pando e acusou a presença de “sicários brasileiros e peruanos” entre os que teriam provocado as mortes de camponeses.

As declarações não caíram bem entre autoridades do Brasil e do Peru. Especula-se entre diplomatas dos países vizinhos que este seria um dos motivos para o presidente do Peru, Alan García, ter avisado que não comparecerá ao encontro da Unasul. Ele mandaria um representante.

“Decretamos o estado de sítio para evitar mais violência”, disse o ministro da Defesa, Walker San Miguel.

O reitor da universidade Gabriel René Moreno, Reimy Ferreira, analisou: “Decretar o estado de sítio foi reconhecer que a situação estava fora de controle. Mas seria irresponsável não decretá-lo, depois de tantas mortes”.

O prefeito de Pando disse, neste domingo, a diferentes emissoras de rádio do país que continua em sua casa, que não foi preso, como mandou o governo. “Sou inocente. E isso que disseram de sicários brasileiros e peruanos é filme”.

Petrobras

Neste domingo, a Bolívia viveu um dia de melhores expectativas depois do anúncio do diálogo entre governo e oposição e o desbloqueio – ainda não colocado em prática – das estradas que estão ocupadas pela oposição.

Mas as empresas petroleiras no país continuam atentas à situação, como contaram assessores da Petrobras.

“Os campos de petróleo de San Alberto e San Antonio contam juntos com 472 soldados do Exército, protegendo as instalações. Mas, na semana passada, das 25 válvulas do gasoduto que chegam ao Brasil, 15 estavam sem proteção”, disse o assessor.

Quando perguntado pela BBC Brasil, se ele poderia garantir que o Brasil não sofrerá novos problemas com o abastecimento de gás, o prefeito de Tarija, respondeu: “Estou preocupado com o abastecimento de gás para o Brasil e para a Argentina, mas hoje muito mais preocupado com a situação do meu país, a Bolívia”.

Fonte: BBC Brasil

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