O cardeal Angelo Scola, patriarca de Veneza, criou a fundação Oasis, centro de estudos e pesquisas sobre as relações entre cristãos e muçulmanos por todo o mundo.
Que dificuldades são enfrentadas pelos cristãos do Oriente?
Vimos isso nos trabalhos preparatórios do sínodo, os países do Oriente Médio sofrem de dificuldades comuns a todas as sociedades cristãs de primeira evangelização. Tanto na Europa quanto no Oriente Médio, ao contrário da África e da Ásia, as comunidades cristãs enfrentam um problema de regeneração e um ambiente religioso e cultural variado.
No Oriente Médio, onde as Igrejas datam do nascimento do cristianismo, vemos uma crença “mecânica”, uma fé mais de convenção do que de convicção.
A isso se soma o fato de que as Igrejas orientais se situam em um meio dominado pelo islamismo, que desde os anos 1940 pende para o fundamentalismo, e pelo conflito entre Israel e Palestina.
Os cristãos têm um futuro no Oriente Médio?
O sínodo dos bispos do Oriente Médio deverá permitir uma reflexão sobre o que significa para os cristãos de hoje viverem como minoria em meio a uma onda muçulmana. Não podemos esquecer que as igrejas estiveram presentes nesses países seis séculos antes do islamismo.
Que experiências do passado permitiram uma coexistência que hoje não é mais evidente? Nós, da organização Oasis, cujo comitê internacional se reunirá dentro de alguns dias em Beirute, pedimos por um melhor conhecimento do islamismo. Uma abordagem que, por sinal, também permitiria compreender melhor o islamismo agora presente no Ocidente. Sempre se subestimou o ponto de vista dos cristãos do Oriente e sua experiência plurissecular para a compreensão do islamismo, ou melhor, dos islamismos.
O conhecimento mútuo entre cristãos e muçulmanos é suficiente para reduzir as tensões?
Não, certamente não. Mas precisamos acompanhar o processo de mestiçagem de civilizações que nossas sociedades estão vivendo, para que ele evolua da forma mais positiva possível.
Na Europa, o diálogo com os muçulmanos é necessário. É preciso ajudá-los a entender que eles não são obrigados a abandonar suas referências religiosas para se tornarem bons italianos, bons franceses, bons europeus. Muitas vezes pensamos que para isso é preciso escolher o “islamismo moderado”, mas na maior parte do tempo, por trás dessa expressão há somente uma visão de intelectuais isolados que defendem sua concepção pessoal do islamismo. Não é o caminho certo.
É preciso manter relações com “o islamismo do povo”, e além disso, ver o lado das comunidades cristãs no Oriente Médio. No Líbano, os cristãos conversam com o Hezbollah!
Além disso, os muçulmanos também devem aproveitar a experiência dos cristãos. O cristianismo passou pelo cesaropapismo, pela teocracia, mas hoje vive perfeitamente seu universalismo em sociedades laicas. Ali existe um modelo para o islamismo.
Fonte: Le Monde