Uma das lideranças da bancada evangélica, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), foi figura central durante participação em uma cerimônia na última terça (15) no Palácio do Planalto com o presidente Lula, quando foi sancionado o projeto de lei que cria o Dia Nacional da Música Gospel.
Durante o encontro com líderes evangélicos, o ex-bolsonarista —que no ano passado se tornou réu no STF por chamar Alexandre de Moraes de “cabeça de ovo”, “lixo”, “esgoto” e “latrina”— chamou Lula de “meu presidente” e afirmou que orava por ele, além de ressaltar os acenos do petista aos evangélicos, como a criação do Dia Nacional da Liberdade Religiosa em seu primeiro mandato.
“Presidente, se aproxime sem reserva. Se aconchegue. Tem lugar na mesa do Pai para termos comunhão. Gostando ou não politicamente de Vossa Excelência, não temos outra opção pela Bíblia a não ser orar por Vossa Excelência”, afirmou Otoni. “Quis o destino que eu, um dos mais combatentes defensores do antigo governo e seu crítico político, estivesse aqui hoje”, acrescentou.
O ex-vice-líder do governo de Jair Bolsonaro declarou ainda que, embora a maioria dos evangélicos não tenha votado em Lula, eles estão “entre os brasileiros mais beneficiados pelos programas sociais de seu governo”. Ele citou o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida como exemplos de políticas que ajudam “essa gente humilde e temente a Deus”.
Ele diz que o PT foi “consumido por uma pauta identitária” e que precisaria “se reinventar” para reduzir o “abismo imenso com a maioria dos evangélicos”. Ele reconhece, porém, ter errado no passado ao associar a esquerda a pautas como a pedofilia, e critica o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo que chama de “arrogância” no trato às igrejas.
Em entrevista ao jornal O Globo, o emedebista declarou que a igreja deve se posicionar acima das divisões políticas entre PT e bolsonarismo.
“Eu apenas quis mostrar que a igreja não pertence ao bolsonarismo nem ao petismo, está acima disso, embora pareça desde 2018 que fomos arrebatados pela política. O fato de eu ter antagonismo político com o PT não muda o papel da igreja de orar pelas autoridades. Mas ficaria incoerente levantar uma bandeira pró-Lula.”
O deputado também afirmou que seus votos “não vêm do bolsominion” e que as eleições de 2022 ensinaram a necessidade de “mais humildade e diálogo” com lideranças religiosas.
“Acharam que Bolsonaro falar ‘vote em Fulano’ bastava. Isso é arrogância, a igreja evangélica não vai a reboque. O eleitor vota em quem faz políticas públicas que chegam até ele, e o evangélico não é diferente”, disse Otoni.
Fonte: O Sul