O padre Janusz Bielanski, da famosa catedral polonesa de Wawel, na Cracóvia (sul), foi destituído por ter colaborado com os antigos serviços secretos comunistas, anunciou nesta segunda-feira o arcebispo desta antiga capital real da Polônia.

O anúncio se produz um dia depois da demissão sem precedentes do arcebispo de Varsóvia, monsenhor Stanislaw Wielgus, por ter colaborado também com a polícia comunista.

“Devido às acusações de colaboração com os serviços secretos da Polônia comunista, no dia 2 de janeiro de 2007, o padre Janusz Bielanski pôs o cargo à disposição do arcebispo de Cracóvia. O cardeal Stanislaw Dziwisz aceitou a demissão”, segundo um comunicado do arcebispado desta cidade, um dos feudos do Papa polonês João Paulo II.

Segundo a edição polonesa da revista Newsweek, o padre Bielanski, de 68 anos, colaborou com os serviços secretos comunistas durante sete anos, de 1982 a 1989.

Dziwisz, atual arcebispo de Cracóvia, foi secretário particular e amigo de João Paulo II durante quase 40 anos, até sua morte em abril de 2005.

Católicos da Polônia divididos após escândalo do ex-arcebispo de Varsóvia

Os católicos da Polônia ficaram profundamente divididos após o escândalo do efêmero arcebispo de Varsóvia, monsenhor Stanislaw Wielgus, obrigado pelo Vaticano a renunciar por causa de seu passado como colaborador da polícia política polonesa durante o regime comunista.

Para alguns especialistas, não há dúvida: a Igreja Católica polonesa atravessa uma de suas crises mais graves desde o fim do comunismo, porque o escândalo despertou as lembranças dolorosas que a mesma tenta apagar há alguns anos.

Após a queda do regime comunista em 1989, a Igreja estava dotada de um imenso prestígio, que ganhou com os anos de ditadura, quando fez frente ao totalitarismo.

Além disso, a Igreja Católica da Polônia se beneficiou da aura carismática de João Paulo II, o polonês Karol Wojtyla, que foi Papa entre 1978 e 2005.

Nenhuma instituição religiosa na Europa tem uma influência similar à da Igreja polonesa. Quase 95% dos poloneses se declaram católicos, e a metade deles vai regularmente à missa.

No entanto, para a maioria dos analistas, a hierarquia católica polonesa se equivocou ao tentar impor a Wielgus um de seus dois postos mais importantes, o arcebispado de Varsóvia.

O prelado, de 67 anos, assumiu suas funções na sexta-feira, sucedendo o cardeal Glemp, que se aposentou com 77 anos, apesar de ainda conservar o título de primado da Polônia.

Uma comissão especial do episcopado polonês estabeleceu que Wielgus colaborou efetivamente com a antiga polícia comunista, como haviam revelado pouco antes meios de comunicação poloneses.

Assim como centenas de milhares de pessoas que viviam na Europa comunista de antes de 1990, Wielgus aceitou, quando era um simples estudante, trabalhar para a polícia secreta, encarregada de vigiar até os menores gestos de qualquer cidadão suspeito de se opor, ainda que minimamente, ao regime.

“A Igreja polonesa não conseguiu resolver o caso do monsenhor Wielgus. Ao invés de condenar a traição, alguns bispos, sacerdotes e jornalistas católicos lançaram insultos contra os que tiveram o valor de revelar esta verdade incômoda”, lamentava nesta segunda-feira o jornal conservador Rzeczpospolita.

“Este assunto revelou o lado obscuro da hierarquia”, estimou Pawel Boryszewski, um sociólogo da religião entrevistado pela AFP.

“Na Polônia, um bispo se considera e se faz considerar um tenente de Deus na Terra. Pela primeira vez, a imprensa conseguiu forçar os bispos a revelar a verdade”, acrescentou.

Numa pesquisa publicada na sexta-feira, antes da renúncia de Wielgus, 67% dos poloneses estimaram que um ex-agente da polícia secreta comunista não deveria ocupar uma alta função na hierarquia da Igreja.

No entanto, os principais dirigentes da Igreja polonesa defenderam até o fim o prelado.

“Foi julgado e condenado sem advogados, sem testemunhas. Não foi um bom julgamento”, reiterou no domingo o cardeal Glemp.

Para o sociólogo Pawel Boryszewski, a atitude da hierarquia polonesa poderá acelerar uma democratização da Igreja. “O processo foi lançado e não será possível detê-lo”, assegurou.

Fonte: AFP

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