O padre Edson Rodrigues, de Alagoinha, Pernambuco, afirmou que os pais da garota de 9 anos que engravidou de gêmeos após ser violentada pelo padrasto eram contra a interrupção da gravidez da criança. “Inicialmente, o que eu ouvi do pai e da mãe foi um parecer desfavorável ao aborto”, disse o padre, que vive na mesma cidade da menina.
Rodrigues diz que teria encontrado a mãe da menina no sábado à tarde e o pai dela na segunda-feira, pouco tempo antes da interrupção da gravidez, que aconteceu na quarta-feira, dia 4. Nestes dias, ambos teriam confirmado sua posição contrária ao aborto.
O padre afirma que a opinião dos pais da menina mudou após uma conversa com uma assistente social. O religioso também diz que, após a conversa com a assistente social, ele e outros membros da igreja foram impedidos de entrar em contato com a criança e com os pais dela.
“Estou tentando compreender o que os fez mudar de ideia, a assistente social nos alegou que o quadro da menina tinha se agravado. Quando perguntamos se ela poderia comprovar isso, ela disse que não”, afirma o padre Edson.
A reportagem do Último Segundo tentou entrar em contato com o Conselho Tutelar de Alagoinha e com o hospital responsável pela interrupção da gravidez da criança, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Excomunhão
Na quarta-feira, dia 4, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou os médicos envolvidos no aborto. “A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor”, disse o bispo, que foi apoiado pelo Vaticano.
De acordo com os médicos, a menina, que tem 1,33m e pesa 36kg, não apresentava estrutura física que sustentasse uma gravidez. Além disso, a legislação brasileira permite o aborto em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestão.
“A excomunhão do arcebispo se torna irrelevante para todas nós que ajudamos no caso. É irrelevante a posição do arcebispo. Essa é uma questão que não perpassa pela religião. Os médicos agiram conforme a lei. O Estado brasileiro tem que ser respeitado. A ação do Estado não pode ser regida pela ação religiosa”, analisou Carla Batista, da ONG SOS Corpo.
Ao ser questionado sobre sua posição em relação à excomunhão dos envolvidos no aborto, o padre Edson Rodrigues disse que “a imprensa de um modo geral está fazendo uma interpretação distorcida da questão”.
“Quer diga o arcebispo ou não, o ato de abortar implica numa excomunhão da parte de quem o fez e de quem o promove ou coisa parecida”, diz. Rodrigues ainda afirma que, se o arcebispo não tivesse dito nada, haveria a excomunhão. “O arcebispo poderia ter ficado calado que a excomunhão seria aplicada de qualquer jeito, pois ela ocorre em casos de assassinato”, disse ele.
Sobre o padrasto da criança, o padre diz que ele deve ser punido, pois o que fez é absurdo, “mas não foi assassinato, que é um ato que já resulta na excomunhão. Se você perguntar se estou de acordo ou não com o arcebispo, não teria como responder, porque é uma norma da Igreja”.
O religioso conclui dizendo que “isso não é questão de pesquisa de opinião pública, quem é contra ou a favor, é algo que pertence à Igreja Católica”.
O caso
A gravidez foi descoberta no último dia 25 de fevereiro, quando a menina de nove anos se queixou de tonturas e foi levada pela mãe à Casa de Saúde São José. Exames constataram que a criança já estava na 16ª semana de gestação, que era de alto risco por conta da idade.
A criança informou à polícia que os abusos começaram quando ela tinha seis anos de idade e que o padrasto, de 23 anos, a ameaçava de morte caso contasse a alguém. Ele foi preso quando se preparava para fugir para a Bahia. Em seu depoimento, o padrasto confessou que também abusava da enteada mais velha, de 14 anos, portadora de deficiência física.
Fonte:Último Segundo