O padre de Campo, Couto, Roriz e Tamel S. Fins, em Barcelos, Portugal, vai deixar de dar os sacramentos e privar o acesso a todos os bens, movimentos e serviços (missas de sufrágios, catequese, atestados) naquelas quatro paróquias aos fiéis que não estejam inscritos nem tenham pago a côngrua (um dia do salário mensal) até ao próximo dia 23.
O aviso, lançado no boletim paroquial e no fim da missa dominical, “sustenta-se no que diz o direito canônico e a Conferência Episcopal”, realçou Avelino Castro, de 29 anos e sacerdote desde 2006.
Para os paroquianos que desrespeitarem os prazos há ainda uma penalização: regularizar a situação implicará o pagamento de uma multa no valor de 50 euros por cada ano em falta. Aliás, a côngrua (“direitos paroquiais”) de 2008 deve ser liquidada até Fevereiro. A “fórmula” exige pagamento do chefe de família, mulher e filhos empregados. Reformados “também pagam, recebem por mês 200 a 300 euros”, nota o padre. Em Roriz, 182 em 622 famílias estão com “direitos” em falta.
Muitos fiéis indignaram-se. “O padre foi arrogante e dramático. Exigiu dinheiro a reformados, disse que não o vão fazer de imbecil, que a pensão deles é mais de 10 euros/dia. Mas esquece-se que alguns passam fome e não têm luz elétrica”, notou uma paroquiana, que face às “ameaças de pagar para rezar” decidiu “nunca mais” ir a missas em Roriz, recorrendo a igrejas vizinhas.
“Tirar o meu filho da catequese, não fazer batismos e pôr medo à minha mãe, que agora acha que se não pagar não tem quem a enterre, é de loucos”, reagiu uma conterrânea. Garantiu ainda que ouviu “da boca do sr. padre”, no fim da missa, que, para um funeral de “incumpridores”, “a igreja será alugada e quem quiser arranje outro padre”.
“A igreja nem é dele, só faltava isto”, reagiu a moradora, que não percebe as exigências de Avelino Castro, “só nos afastam de Cristo”. Deu um exemplo: cada intenção da eucaristia (pessoa ou grupo lembrado) vale 7, 5 euros, conforme pede a arquidiocese; cada missa em Roriz evoca em média dez intenções e, como há 12 missas por mês, somam-se 1200 euros, só naquela paróquia.
Avelino Castro negou ter feito no fim da missa os comentários referidos. “Isto é como a carta da EDP com aviso de recepção. A Igreja é livre para todos, mas há direitos e deveres, temos de ser justos. As pessoas estiveram habituadas nos últimos 50 anos a fazer o que lhes desejassem”, realçou. E lembra que, tal como era explícito no boletim paroquial, “quem paga os direitos paroquiais fica isento de pagar qualquer serviço da paróquia”.
A côngrua destina-se ao Fundo Paroquial, que é gerido pelo conselho econômico (ex-Comissão Fabriqueira), que paga as despesas da paróquia, desde o ordenado do sacerdote às obras.
Fonte: O Verbo