o padre Júlio Lancelotti (foto), que denunciou ter sofrido extorsão de um ex-interno da Fundação Casa (antiga Febem), prestou na noite da segunda-feira (22) um novo depoimento em que disse que foi pessoalmente fazer o financiamento de um automóvel para os criminosos.
O ex-interno da Fundação Casa e a mulher dele exigiram dinheiro do padre durante três anos. Em setembro, quando o padre entregaria R$ 2 mil para um cúmplice do casal que encontraria na porta de uma igreja, a polícia chegou ao local e prendeu o suspeito. Na semana passada, o padre Júlio disse que entregou ao grupo R$ 50 mil, parte do dinheiro para pagar um carro importado.
Desde que fez a denúncia, o padre só sai escoltado por policiais. Ele tinha uma reunião na Itália nesta terça-feira (23), mas a viagem foi cancelada. O padre voltou a delegacia e prestou um novo depoimento. Ele disse que não entregou R$ 50 mil, mas sim R$ 80 mil aos criminosos e que teria ido pessoalmente fazer o financiamento de um veículo para o casal de criminosos.
Ele revelou ter pago à loja uma entrada de R$ 30 mil e mais 20 parcelas de R$ 2 mil, tudo com recursos próprios, economias de 35 anos. O padre disse, ainda, que é funcionário da Fundação Casa desde 1975. Confirmou que vive com a ajuda de custo da Igreja São Miguel Arcanjo, de R$ 1 mil e R$ 2.480 que recebe da extinta Febem.
O padre Júlio é conselheiro da organização não governamental Nossa Senhora do Bom Parto. A presidente disse que ele não poderia ter usado dinheiro das ONG para dar ao ex-interno da Febem.
A polícia tenta localizar o ex-interno da Febem. Antes de fugir, ele morou em uma pensão no Belenzinho, na Zona Leste de São Paulo. O delegado diz que ele pode ser preso a qualquer momento.
Padre Júlio é conhecido pelo trabalho social com menores infratores e com moradores de rua. Ele também fundou a Casa Vida – uma respeitada instituição que trata de crianças com Aids.
Polícia investiga contrato de ONG de padre Júlio Lancelotti
A Polícia Civil de São Paulo investiga o contrato do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, entidade jurídica que representa serviços sociais na zona leste de São Paulo e que tem como um dos integrantes do conselho deliberativo o padre Julio Lancelotti.
Coordenador da Pastoral do Povo de Rua e um dos principais defensores dos direitos de jovens infratores, o padre acusa o ex-interno da antiga Febem (atual Casa) Anderson Marcos Batista, foragido da Justiça, de tê-lo extorquido, por quase três anos, em cerca de R$ 50 mil.
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o delegado André Pimentel, do SIG (Setor de Investigações Gerais) da 5ª Delegacia Seccional, irá requisitar o contrato firmado pela ONG. O objetivo, segundo a SSP, é o de realizar uma perícia contábil. Ela poderá indicar, por exemplo, se o valor pago pela extorsão saiu dos cofres da entidade.
Segundo o site do Centro Social, a entidade foi fundada em 1946, sobrevive de doações e atua na periferia da zona leste da cidade de São Paulo. Ainda segundo informações do site, a entidade mantém serviços em 49 unidades e atende atualmente 7.350 crianças, adolescentes e jovens, 350 adultos em situação de rua e 1.600 famílias do Proasf (Programa de Assistência Social às Famílias).
O advogado de defesa de Batista, Nelson Bernardo da Costa, afirmou que seu cliente irá se apresentar e prestar depoimento, ainda sem data definida. Costa disse que não sabe o paradeiro de seu cliente e que os dois mantém contatos por intermédio de ligações telefônicas efetuadas por Batista.
“Ele só vai se apresentar quando tiver a garantia de vida”, afirmou o advogado. Questionado quais seriam os motivos de temer pela vida de seu cliente, Costa disse que o temor se deve “às noticias que estão saindo na imprensa” a respeito de Batista.
O padre foi procurado para comentar o assunto mas não foi localizado. A presidente do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, irmã Judith Elisa Lupo foi procurada. Uma atendente afirmou que ela estava em reunião e não poderia atender a reportagem.
Desagravo
Por iniciativa do vereador petista Beto Custódio, a Câmara de São Paulo abriga nesta terça-feira um ato de desagravo e solidariedade ao padre. O ato conta com entidades como o Movimento Nacional dos Direitos Humanos e a Pastoral do Povo da Rua.
Setores da Igreja Católica também emitiram uma nota em solidariedade ao padre Júlio Lancelotti. Assinada por Dom Odilo Pedro Scherer, presidente interino da Assembléia das Igrejas do Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a nota informa que o que o padre está passando é “conseqüência do trabalho evangelizador, que há décadas realiza, em São Paulo e no Brasil, junto aos mais pobres: população de rua, internos e ex-internos da antiga Febem, na pastoral do menor e nas casas Vida.”
Fonte: G1