Padre Marcelo Rossi está preocupado com a bilheteria da missa marcada para 2 de novembro, Dia de Finados, no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo.

Ele disse na tarde desta terça-feira (24) que ainda precisa vender “300 mil convites”. Para participar da celebração no Dia de Finados, que será seguida de shows de vários cantores populares, cada fiel terá que desembolsar R$ 2,00. “Ninguém está pagando missa, é uma doação”, avisa Padre Marcelo.

O religioso afirma que a venda das 400 mil entradas, que os organizadores chamam de “ingresso/doação”, só foi adotada para controlar a quantidade de pessoas.

Ele diz que apenas parte do autódromo estará liberada para o evento. Alguns locais de Interlagos ainda estão ocupados com equipamentos utilizados na Formula 1. “Eu queria que a entrada fosse aberta, mas houve esse fator limitador. Abriram uma exceção, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) tem contrato com a Prefeitura até dia 3 de novembro”, disse o padre. Em 2000, quando todo o autódromo estava liberado para o evento, os organizadores afirmam que aproximadamente 2,4 milhões de fiéis participaram da missa e dos shows.

O arcebispo de Santo Amaro, Dom Fernando Figueiredo, superior de Padre Marcelo, preferiu não comentar detalhes da organização da missa. Por intermédio de sua assessoria, ele disse que o próprio Padre Marcelo deveria falar sobre o tema. A assessoria de imprensa da Arquidiocese de São Paulo disse que a Diocese de Santo Amaro tem autonomia para realização de eventos e somente Dom Fernando poderia comentar a organização.

Padre Marcelo disse que o valor arrecadado será encaminhado para as obras assistenciais da Diocese de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. Segundo o religioso, foi descartada a possibilidade dos fiéis levarem um quilo de alimento não perecível porque seria difícil distribuir as 400 toneladas de alimentos que poderiam ser arrecadadas.

Após a celebração, os fiéis poderão ver apresentação de duplas sertanejas e bandas pop. A programação inclui Gian e Giovanni, Rio Negro e Solimões, Edson & Hudson e KLB, entre outros. “São todos escolhidos a dedo. Não será música sensual, será de saudade e amor”, afirma o padre. O evento, que começa às 9h, tem o nome de “Saudade Sim, Tristeza Não”.

Pop

O professor de Teologia Eulalio Avelino P. Figueira diz que a celebração que Padre Marcelo vai realizar no Dia de Finados é um bom exemplo de como a religião tem se inserido no cotidiano das pessoas. Segundo ele, a aproximação entre missa e show é normal. “Tudo isso traz alguns riscos e perigos. Como a religião faz parte do cotidiano, tudo se justifica. O risco do relativismo é muito grande”, disse o professor.

Para ele, o importante é saber se o fiel se identifica. “A fé é boa porque funciona. Eu vou a um show, ando alguns quilômetros porque aquilo fuciona: ou traz um consolo ou desabafo”, disse. “No fundo, a questão religiosa vira um grande megashow e se transforma em um evento”, disse. Para ele, a cobrança de entrada é interpretada de forma natural por quem vai participar. “É a mesma história da pessoa que dá o dízimo. Diante daquilo que vou receber, o que posso dar ainda é muito pouco. Este é um discurso muito forte”, explica.

A professora Josildeth Gomes Consorte, doutora em Ciências Humanas e coordenadora do núcleo de estudos Religião, Memória e Identidade da PUC, lembra que catolicismo e festa sempre andaram juntos. “Você substituiu a dimensão festiva, popular, da festa de largo, da quermesse, de todas as coisas antigas, por uma outra dimensão do popular que é hoje o cantor”, analisa.

Na opinião da pesquisadora, o encontro é mais uma forma de a Igreja Católica marcar seu território. “Eu vejo o Padre Marcelo como um esforço da Igreja de não perder fiéis de uma determinada vertente. Ele vai para o lado da emoção e apanha mais as pessoas por este lado”, define.

Fonte: G1

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