O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está reeditando velhas alianças com a esquerda católica, às vésperas da disputa do segundo turno. Os escândalos de corrupção desencantaram muitos religiosos e fiéis, mas Lula vem tentando reconquistar o apoio desse setor renovando as garantias de que vai lutar contra a pobreza, mais que o adversário Geraldo Alckmin.

“Antes o apoio deles era incondicional. Mas agora há negociações e dá para ver o apoio indo de novo para o lado de Lula”, disse o professor Rudá Ricci, sociólogo e especialista em religião.

As pesquisas de opinião mostram uma vantagem cada vez maior para Lula, que no primeiro turno teve sete pontos percentuais à frente de Alckmin na apuração. Na última semana da campanha, a dianteira do atual presidente já supera 20 pontos.

O PT tem raízes históricas na esquerda católica e apoiou a Teologia da Libertação, que associava os ensinamentos religiosos à luta por justiça social.

Tanto Lula quanto Alckmin são católicos, assim como 70 por cento da população brasileira.

Para Ricci, muitos católicos pobres das zonas rurais ainda vêem Lula como “uma espécie de neo-Moisés guiando seu povo para a libertação” e votam fielmente nele.

Mas o sociólogo acrescentou que é crucial para o presidente reconquistar a aliança de formadores de opinião como padres e movimentos religiosos sociais, para obter mais votos.

Especialistas afirmam que Alckmin não fez muito para conquistar a esquerda católica durante a campanha, apostando no apoio dos círculos conservadores da Igreja, que se revelou apenas modesto. Ele teve de negar rumores de que seja membro da Opus Dei, uma organização católica ultraconservadora.

“Se foi um truque da campanha de Lula, funcionou. Para as comunidades católicas liberais, a Opus Dei é a ameaça da ultradireita, e elas associaram Alckmin firmemente a ela”, disse outro especialista que não quis ser identificado.

Como instituição, a Igreja Católica brasileira não apóia nenhum candidato. Mas desde o primeiro turno Lula recebeu o apoio de “bispos políticos” como dom Pedro Casaldáliga e dom Mauro Morelli.

Carlos Alberto Libânio, o frei Betto, também divulgou uma declaração pública pedindo a reeleição de Lula.

Em abril, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) emitiu uma série de recomendações para os eleitores, orientando-os a eleger somente os políticos que não estivessem marcados pela corrupção. Alguns analistas disseram que aquilo poderia favorecer a candidatura de Alckmin.

“Assino embaixo de cada palavra daquelas recomendações. Mas a corrupção não faz parte do histórico de Lula nem de seu governo”, disse frei Betto à Reuters. “Os conservadores querem demonizar Lula, mas as comunidades cristãs de base são a fundação da Igreja. Tenho certeza de que Lula será favorecido por seus votos”.

Fonte: Reuters

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