Preocupado com uma das chagas que mais aflige os lares gaúchos, o padre João Luiz Machry transformou a igreja em uma tribuna contra as drogas. Ele passou a usar os sermões para alertar as famílias sobre o problema e incentivar os fiéis a informarem os nomes dos traficantes à polícia.

Tamanha audácia teve um custo: o pároco da Igreja São Patrício, em Itaqui, na Fronteira Oeste, começou a receber ameaças anônimas.

A inquietação com o avanço dos entorpecentes começou em 1987, quando Machry era um estudante de Teologia. Ao tomar contato com pacientes em recuperação de dependência química, ele prometeu a si mesmo: tornaria seus sermões um frequente apelo antidrogas.

Mais de duas décadas depois, ele só viu a situação piorar. Para reforçar a batalha, passou até mesmo a se oferecer a levar as informações à delegacia.

– Peço que se as pessoas saibam de alguém que participa do tráfico e têm medo de denunciar, venham até a igreja e me falem. Eu mesmo levo as informações para a delegacia- diz.

Com essa disposição, surgiram as primeiras as ameaças. Machry começou a receber em sua casa ligações tentando intimidá-lo. Para resolver o problema, o padre comprou um identificador de chamadas. As ligações cessaram.

– Seguido recebia telefonemas e me diziam “Este assunto não é da tua atribuição, não mexe com isso”. Não me intimidei. Instalei bina e parou – comenta.

As missas ocorrem às terças, sextas, sábados e domingos, mas o assunto não é abordado sempre. Os outros dias são destinados a atendimentos. O padre conta que muitas famílias que estão vivenciando o problema o procuram.

– Uma mãe veio me dizer que o filho havia vendido a máquina de lavar para comprar crack. As drogas estão presentes na comunidade, é minha obrigação falar sobre o assunto – crê.

Fonte: O Globo

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