Um tribunal da Nicarágua condenou 5 padres a 10 anos de prisão por acusações de “conspiração” decorrentes de alegações antigas por parte do governo, que acusa as igrejas por apoiarem os protestos pró-democracia.
Um grupo de direitos humanos denunciou as sentenças proferidas na segunda-feira (6) que foram divulgadas por advogados da Unidade de Defesa Jurídica.
O primeiro padre foi condenado no domingo (5) e os outros 4 no dia seguinte. O julgamento aconteceu a portas fechadas e os advogados de defesa foram nomeados pelo próprio governo.
Os condenados na segunda-feira trabalharam com o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, e um deles foi reitor da Universidade Juan Pablo II, de administração privada, na capital de Manágua.
Álvarez está em prisão domiciliar sob a acusação de conspiração e “danos ao governo e à sociedade da Nicarágua”, e deve ser sentenciado em breve.
‘Um insulto à lei e à inteligência das pessoas’
Dois seminaristas e um cinegrafista que trabalhava para a diocese também foram condenados na segunda-feira. Todos os réus já foram presos no ano passado e todos foram destituídos do direito de ocupar cargos políticos.
O Centro de Direitos Humanos da Nicarágua (CDHN) disse que as sentenças são praticamente “uma aberração legal”.
Isso é um insulto à lei, um insulto à inteligência das pessoas, um insulto à comunidade internacional e às agências internacionais de proteção dos direitos humanos”, disse o CDHN em um comunicado na terça-feira.
De acordo com o AP News, Alvarez tem sido uma voz religiosa importante nas discussões sobre o futuro da Nicarágua desde 2018, quando uma onda de protestos contra o governo de Ortega levou a uma repressão abrangente aos oponentes.
Outras prisões
No domingo, o reverendo Óscar Danilo Benavidez, sacerdote de Mulukuku, no norte da Nicarágua, foi condenado por conspiração e divulgação de informações falsas. Ele havia sido preso em 14 de agosto.
O governo prendeu dezenas de líderes da oposição em 2021, incluindo 7 possíveis candidatos presidenciais. Eles foram condenados à prisão no ano passado em julgamentos rápidos que também foram fechados ao público.
Ortega afirmou que os protestos pró-democracia foram realizados com apoio estrangeiro e da Igreja Católica. No ano passado, ele expulsou as freiras da ordem religiosa Irmãs da Caridade de Madre Teresa e o núncio papal — que é o principal diplomata do Vaticano na Nicarágua.
‘Ortega chamou bispos de terroristas’
Em agosto passado, o Papa Francisco disse a milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro que estava acompanhando de perto os eventos com “preocupação e tristeza” na Nicarágua que envolvem “pessoas e instituições”. Ele não mencionou as detenções dos padres e nem de Álvarez.
“Gostaria de expressar minha convicção e minha esperança de que, por meio de um diálogo aberto e sincero, ainda se possam encontrar as bases para uma convivência respeitosa e pacífica”, disse o papa.
Ortega, um ex-guerrilheiro marxista que chegou ao poder em 1979, depois que o grupo revolucionário sandinista que ele ajudou a liderar derrubou a ditadura do presidente Anastasio Somoza, enfureceu o Vaticano na década de 1980.
Mas ele forjou gradualmente uma aliança com a igreja ao tentar reconquistar a presidência em 2007, após um longo período fora do poder.
Então, poucos dias antes de ser eleito para um quarto mandato consecutivo no ano passado, ele acusou os bispos católicos do país de terem elaborado uma proposta política em 2018 em nome “dos terroristas, a serviço dos ianques”. Ele também rotulou os próprios bispos como terroristas.
Fonte: Guia-me com informações de AP News