Embora o islamismo proíba o consumo, estatísticas revelam uma alta do consumo de álcool em países de religião muçulmana.
A compra da Mey Içki, principal fabricante turca de raki (uma aguardente), por parte da Diageo, líder mundial do setor, mostrou que os países muçulmanos se tornaram um mercado para os fabricantes de bebidas alcoólicas. Um mercado certamente modesto – um francês consumiu cinco vezes mais álcool do que um turco em 2010 – , mas em crescimento.
Embora o islamismo proíba o consumo de qualquer produto que possa alterar o comportamento (álcool, mas também drogas), as estatísticas do grupo de estudos Euromonitor International revelam uma alta contínua do consumo de álcool em vários países onde a religião muçulmana é dominante.
Entre 2005 e 2010, o consumo médio dos franceses declinou – de 104,2 litros de bebidas alcoólicas para 96,7 litros ao ano – ; ao mesmo tempo, o dos turcos passou de 18,3 litros para 20,5 litros ao ano. O Euromonitor indica que o consumo na região do Oriente Médio e África passou de 11,7 bilhões de litros em 2005 para 15,2 bilhões de litros em 2010 (+25%). Nos Emirados Árabes Unidos, ele era de 36,8 litros por pessoa em 2010 (contra 30,4 litros cinco anos antes).
O consumo de álcool nos países muçulmanos é explicado pela “modernização” das sociedades. Beber uma cerveja enquanto se “tuíta” com os manifestantes tunisianos ou egípcios é uma característica da juventude globalizada, instruída, atenta à liberdade nos países muçulmanos.
Marlous Kuiper, coordenador da pesquisa sobre as bebidas alcoólicas no Euromonitor, relativiza esse fenômeno. Em países como o Egito, a Turquia, o Marrocos e os Emirados Árabes Unidos, “o consumo de álcool está diretamente ligado ao fluxo de turismo”. Em países como o Irã, a cerveja consumida maciçamente é sem álcool. Mas ela é fabricada e importada por grupos como a Carlsberg ou a Kronenbourg, que fabricam cervejas alcoólicas.
[b]Contrabando[/b]
Na Argélia, onde o álcool não é proibido (6,8 litros por pessoa ao ano em 2010), seu consumo aumentou 7% em termos de valor em 2010, e 3% em volume. Ele se deve aos homens jovens que frequentam bares. As mulheres bebem pouco, e aquelas que o fazem pertencem principalmente às camadas mais ricas da sociedade, onde a imagem das bebidas alcoólicas é menos negativa que entre o resto da população.
Na Tunísia, o álcool não é proibido. Embora as lojas devam escondê-lo da vista dos transeuntes, qualquer compra de vinho ou de whisky continua sendo percebida como um ato socialmente repreensível. Os gastos com bebidas alcoólicas continuam sendo pequenos, mas estão em crescimento. Entre 2004 e 2009 eles passaram de 27,8 para 44,8 milhões de dinares tunisianos (R$ 41 milhões para R$ 71 milhões).
Na Arábia Saudita e no Irã, a proibição formal do álcool deslocou o consumo para as cervejas sem álcool. Na República Islâmica, este disparou em um ritmo médio de 40% ao ano entre 2005 e 2010 (de 61,9 milhões de litros para 338,7 milhões de litros). No reino wahabita, o consumo de cerveja sem álcool também aumentou muito durante o mesmo período – de 67,6 milhões de litros ao ano para 111,3 milhões de litros.
Nos dois países, a demanda contrariada por álcool levou ao aumento do contrabando e das importações ilegais que é impossível de avaliar.
[b]Fonte: Le Monde[/b]