O termo é abrangente e ainda não tem uma definição precisa, mas é cada vez mais utilizado no mundo corporativo. Com um significado difuso, a motivação tem sido tema de incontáveis estudos, conferencistas e livros voltados para a otimização de recursos humanos e o aumento da produtividade em empresas e grupos econômicos – e mesmo na Igreja, ela tem sido uma ferramenta útil para tirar muitos crentes do marasmo.

Afinal, se a fé move montanhas, o entusiasmo também pode fazer milagres, tirando o indivíduo da acomodação e levando-o a conquistas pessoais e profissionais, além de grandes realizações na obra do Senhor. A potencialidade que existe dentro de cada um muitas vezes está à espera de apenas uma oportunidade para frutificar.

“Em minhas palestras, falo principalmente de entusiasmo, de onde vem essa força, como atua em nossa vida e como devemos usá-la em todo o seu poderio”, comenta o conferencista João Roberto Gretz, mais conhecido como Professor Gretz. Evangélico e membro da Assembléia de Deus, ele diz que a opção religiosa tem contribuído bastante para o seu trabalho. “Pelo que percebo, sou o conferencista que mais usa as palavras da Bíblia, que é muito rica, mas faço isso sem perder o foco do briefing que me é transmitido pelo cliente”, explica. Apesar de não ter preferência por qualquer tipo de público, Gretz destaca que a maior parte dos convites que recebe é oriunda de empresas interessadas em melhorar o nível de entusiasmo de seus funcionários. “As palestras também tratam de valores como superação, persistência, determinação, fé e coragem, habilidade e amor”, enumera.

“Qualquer ferramenta que conduza as pessoas a Cristo é válida”, defende o pastor e escritor Silmar Coelho, da Igreja Metodista Wesleyana de Petrópolis (RJ). Um dos mais conceituados motivadores evangélicos, ele atua nas áreas de relacionamento familiar e formação de líderes. Mas faz questão de frisar que nada substitui os princípios bíblicos. “Assim como a sociedade e as pessoas, os métodos também variam, mas a Palavra de Deus é imutável”, frisa. O empresário e conferencista Eduardo Cupaiolo, que freqüenta a Comunidade Evangélica Livre, de São José dos Campos (SP), também defende a importância da motivação: “Por meio de eventos do gênero, podemos facilitar a aproximação de quem ainda não crê no Evangelho”, opina.

Acostumado a palestrar para todo tipo de público, o empresário imobiliário Paulo Henrique Angelim diz que a condução da palestra varia de acordo com a platéia. “Ministro em muitas igrejas e congressos cristãos. Não me preocupo tanto em agradar o público, como nas palestras convencionais, mas sim agradar e louvar a Deus por meio daquele trabalho”, garante. Membro da Igreja Presbiteriana Nova Jerusalém, de Fortaleza (CE), ele se confessa contrário ao uso de palestras para trazer novos membros para a igreja. “Apesar de acreditar no poder da motivação, não acho que ela deva ser usada para este fim. Devemos começar a levar Deus às pessoas onde quer que elas estejam, sem precisar tirá-las de seus contextos”, opina.

Filão editorial

Numa tendência que cresce a cada dia, nos últimos anos as editoras encontraram nos livros de auto-ajuda e motivação um filão dos mais rentáveis. A cada ano, são despejados centenas de novos títulos no mercado editorial e, como é absolutamente possível conciliar ajuda própria com espiritualidade, os conferencistas cristãos também já estão descobrindo essa nova vertente literária. “Há vários livros de auto-ajuda que são fundamentados em textos bíblicos, que motivam o leitor e, ao mesmo tempo, ajudam a divulgar preceitos como justiça, amor, responsabilidade, comprometimento, respeito, trabalho em equipe e compreensão. Nesse caso, uma área contribui com a outra”, opina Vitor Tavares, presidente da Associação Nacional de Livrarias, entidade com sede em São Paulo que congrega e defende os interesses das empresas do setor.

Na opinião de Tavares, o constante crescimento dos livros de auto-ajuda no mercado editorial – eles lideram as vendas no gênero não-ficção –, deve-se à necessidade do leitor em buscar a solução para muitos dos problemas com que se depara na vida, além de ser um tipo de leitura fácil e que está na moda. “O bom de tudo isso é que, finalmente, as pessoas estão lendo alguma coisa, e nossa esperança é que esses livros possam despertar na sociedade o prazer de ler também outros assuntos”, comenta.

Poder de influência

Constantemente, palestrantes estrangeiros têm aportado no Brasil, trazendo na bagagem, além de seus conhecimentos teóricos e práticos, muito bom humor e simpatia, ingredientes básicos para quem quer ser bem sucedido nesta área. Essa foi a receita do norte-americano John C. Maxwell, considerado uma espécie de guru da liderança, para conquistar um público de empresários e políticos durante o lançamento do Livro de ouro da liderança (Thomas Nelson), realizado durante uma conferência no mês de fevereiro na Amcham Brasil, em São Paulo. Embora pregue que para tornar um bom líder é imprescindível que haja comprometimento, motivação e entusiasmo, Maxwell – que foi pastor durante 25 anos – afirma que jamais forçou seus seguidores a freqüentar igrejas evangélicas ou mesmo acreditar em Deus.

“As pessoas tomam suas decisões voluntariamente. Podemos influenciá-las, mas sem nenhum tipo de imposição”, ensina. Mesmo assim, Maxwell sabe usar como ninguém os princípios cristãos em favor do seu trabalho. Em seu livro 21 leis da liderança (Mundo Cristão), apresenta várias meditações inspiradas na vivência de grandes líderes da Bíblia – gente como Moisés, Davi ou Neemias, que enfrentaram todo tipo de dificuldade e oposição para, com base na fé em Deus, encontrar dentro de si a força necessária para fazer o que precisava ser feito.

O brasileiro Natanael Joaquim é outro que fez da retórica uma de suas ferramentas profissionais. Em suas conferências, ele costuma usar as próprias limitações – a principal é a falta de visão, já que, devido a uma doença rara contraída na infância, tem apenas dez por cento de acuidade – como exemplo de que a superação é possível. Sua trajetória é relatada no livro Sem sacrifício não se alcança nada, que acaba de ganhar uma versão em áudio, voltada para deficientes visuais como ele. Recentemente, o Teatro Bibi Ferreira, em São Paulo, ficou pequeno para receber os amigos e convidados interessados em assistir à sua palestra, que teve como abertura a performance de um grupo de bailarinos cegos. “Espero ter contribuído um pouco com minha experiência de vida”, diz o conferencista.

E foi com a ajuda e o incentivo de Natanael que o amigo Clodoaldo Rodrigues Rocha – conhecido como Aldo BT – se aventurou por terras orientais para também relatar suas experiências. Residente na cidade de Nagano, no Japão, o músico e analista de sistemas sempre é convidado para falar sobre motivação, seja para dekasseguis (brasileiros radicados no país) ou para os próprios japoneses. “Em minhas palestras, percebo que as pessoas querem ir para o céu, mas não querem morrer; querem ter dinheiro, mas sem trabalhar muito”, revela. Para desatar este nó górdio, a receita é simples, mas requer grande força de vontade. “Procuro mostrar que, quando temos um grande sonho, acreditamos e lutamos para concretizá-lo, tudo se torna real”, sentencia.

Fonte: Revista Eclésia

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