O papa Francisco criou nesta terça-feira (2) uma comissão para estudar a possibilidade de permitir que as mulheres sejam diaconisas, uma questão que divide a Igreja Católica e que representaria uma mudança histórica para a instituição.
Na hierarquia católica, os diáconos ocupam o primeiro degrau. Acima, estão padres e bispos.
Embora tenham autorização para pronunciar sermões durante a missa e oficiar batizados, casamentos e funerais, os diáconos não estão autorizados a celebrar a eucaristia, ouvir a confissão dos fiéis ou realizar a unção dos enfermos (extrema-unção).
Os defensores da medida argumentam que as mulheres estão sub-representadas dentro da instituição e que não existe nenhum obstáculo teológico para que voltem a exercer uma função que tiveram nas origens do cristianismo.
Em maio, Francisco abordou a questão durante uma conversa com mulheres de várias ordens religiosas e disse que “seria bom” que a igreja esclarecesse o ponto. Ao mesmo tempo reafirmou não acreditar que as mulheres possam ser padres, ideia que já havia sido rejeitada de maneira categórica por alguns de seus antecessores.
O Vaticano não informou quando a comissão iniciará os trabalhos nem quando apresentará as conclusões.
[b]COMPOSIÇÃO[/b]
Presidida por d. Luis Francisco Ladaria Ferrer, jesuíta espanhol secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, a comissão é composta por 13 pessoas e reúne sacerdotes, religiosos e especialistas acadêmicos.
A maioria são europeus ou americanos, mas há um padre de Ruanda.
“É uma comissão ótima, muito equilibrada, com perfis variados, mulheres muito preparadas e de inclinações diferentes, ao mesmo tempo progressista e conservadora”, afirmou a historiadora Lucetta Scaraffia à agência de notícias AFP.
O diaconato era uma etapa para o sacerdócio, mas o Concílio Vaticano 2º (1962-1965) restabeleceu o diaconato permanente, acessível a homens casados, que muitas vezes compensam a falta de sacerdotes ou os auxiliam.
Em 2014, de acordo com as últimas estatísticas disponíveis, a igreja contava com 44.500 diáconos permanentes (para 415.000 padres), principalmente na América do Norte e Europa.
Muitas pesquisas históricas revelaram que as mulheres podiam ser diáconas nos primeiros séculos do cristianismo. Mas seu papel seria semelhante ao realizado hoje pelas freiras nas paróquias.
[b]DESIGUALDADE[/b]
O papa Francisco já evocou várias vezes o desejo de remediar a desigualdade entre homens e mulheres no exercício das responsabilidades dentro da Igreja Católica, reafirmando, no entanto, a oposição da instituição à ordenação das mulheres.
Ele tem procurado incentivar a influência teológica das mulheres e já afirmou que uma mulher poderá em breve dirigir um dicastério (ministério) da Cúria.
“As mulheres são como os morangos em um bolo, é preciso sempre mais”, brincou durante uma reunião com teólogos em dezembro de 2014.
Com entre 700 mil religiosas e leigas, as mulheres são maioria entre aqueles que trabalham na vida cotidiana das paróquias, mas estão sujeitas a um membro masculino do clero.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]