O Papa Bento XVI fez duras críticas, neste sábado, à União Européia (UE) ao dizer que o bloco nega a si mesmo por não reconhecer o que considera serem “valores universais e absolutos”, entre eles, o cristianismo.

O alemão Joseph Ratzinger fez tais declarações em um discurso dirigido aos participantes do Congresso dos 50 anos do Tratado de Roma, promovido no Vaticano pela Comissão da Conferência Episcopal Européia.

O líder da Igreja Católica começou por reconhecer que nos últimos 50 anos o continente percorreu “um longo caminho”, que conduziu à “reconciliação dos dois pulmões – Oriente e Ocidente -, ligados por uma história comum, mas arbitrariamente separados por uma cortina de injustiça”.

A partir daí, o Papa repassou os capítulos políticos, econômicos e sociais da UE e chegou a advertir sobre seu possível desaparecimento.

Segundo o Papa, sob o ponto de vista demográfico, “deve-se constatar, infelizmente”, que a Europa “parece encaminhada” a uma via que “poderia” levá-la a “se despedir da história”.

Em sua opinião, a situação, “além de pôr em risco o crescimento econômico, pode causar enormes dificuldades à coesão social e, sobretudo, favorecer um perigoso individualismo, desatento às conseqüências para o futuro”.

Sobre a relação da UE com o meio ambiente, o acesso aos recursos naturais e os investimentos energéticos, Bento XVI considerou que “a solidariedade é incentivada com dificuldade, não só no âmbito internacional, mas também no nacional”.

O Papa acredita que o processo de unificação não é compartilhado por todos, porque não existiria correspondência entre o projeto e as expectativas dos cidadãos.

Bento XVI afirmou “que não se pode edificar uma autêntica ‘casa comum’ européia descuidando-se da própria identidade”.

O Papa defendeu as raízes cristãs européias, uma questão que o Vaticano tentou, sem sucesso, incluir no preâmbulo do Tratado Constitucional.

“Trata-se de uma identidade histórica, cultural e moral, antes que geográfica, econômica ou política; uma identidade constituída de um conjunto de valores universais, que o cristianismo contribuiu para forjar, adquirindo assim um papel não só histórico, mas de fundação em relação à Europa”, destacou.

Tais valores devem permanecer como “fermento” da civilização, pois, caso contrário, “como poderia o Velho Continente continuar desenvolvendo a função de ‘fermento’ para o mundo inteiro?”, questionou Bento XVI.

Em uma bateria de perguntas retóricas, questionou a Europa sobre sua coerência quanto aos valores em geral, já que o continente ambicionaria se transformar em uma comunidade de valores, mas contestaria freqüentemente a existência de valores universais e absolutos.

E acrescentou: “Essa particular forma de ‘negação’ de si mesma, antes ainda que de Deus, não a induz talvez a duvidar de sua própria identidade?”.

Entre seus conselhos para “aproximar” a UE dos cidadãos, o Papa propôs aos Governos que a compõem que não excluam o cristianismo, e lhes assegurou que uma comunidade que se constrói “esquecendo que cada pessoa é criada à imagem de Deus” termina por “não fazer bem a ninguém”.

Depois dessa afirmação, dirigiu-se contra as correntes relativistas e laicas inseridas no “pragmatismo” da UE, porque, a seu ver, acabam negando aos cristãos “o direito de intervir como tais no debate público”.

Depois do discurso em defesa dos valores universais e absolutos e das críticas ao laicismo e ao relativismo, Bento XVI recebeu, na Praça de São Pedro, dezenas de milhares de pessoas que formam o movimento Comunhão e Libertação, que, segundo o Pontífice, foi “suscitado pelo Espírito Santo”.

Fonte: EFE

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