O Papa Bento XVI denunciou nesta segunda-feira o “escândalo” da fome e dos gastos militares do mundo, em discurso no qual fez um apelo para que sejam eliminadas as desigualdades da economia mundial, de forma a aliviar a situação dos mais pobres.

As denúncias do Pontífice estão no discurso de seis páginas dirigido hoje aos embaixadores credenciados no Vaticano. Como em todo início de ano, Bento XVI analisou a situação internacional e expressou as prioridades da Igreja Católica. O papa aproveitou ainda para anunciar sua viagem ao Brasil, em maio, e expressar seu desejo para que sejam resolvidos os problemas da América Latina.

“É uma ocasião para consolidar nossa esperança e para nos comprometermos ainda mais a serviço da paz e do desenvolvimento das pessoas e dos povos”, disse Bento XVI, antes de iniciar o discurso com as “questões essenciais”.

“Como não pensar nas milhões de pessoas, especialmente mulheres e crianças, que não têm água, comida ou casa?”, disse o Papa, que chamou de “escândalo” a fome existente no mundo.

“É uma situação inaceitável em um mundo que dispõe de bens, conhecimentos e da mídia para diminuir este problema”, afirmou o Pontífice, que disse que o assunto deve impulsionar a mudança na maneira de viver e eliminar, de maneira urgente, “as causas estruturais das desigualdades da economia mundial”.

“Temos que corrigir os modelos de crescimento, que parecem incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente e um desenvolvimento humano integral para hoje e, sobretudo, para o futuro”, afirmou.

Para isto, o Papa convocou os líderes das nações mais ricas a “tomarem as medidas necessárias para que os países pobres, que freqüentemente possuem muitas riquezas naturais, possam beneficiar-se dos frutos de seus próprios bens”.

O Papa também disse ser fundamental a retomada das negociações da Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Além disso, o Pontífice disse que deve ser acelerado “o processo de anulação e redução da dívida dos países mais pobres, mas sem que isto esteja condicionado a medidas de ajuste estrutural, prejudiciais para os países mais vulneráveis”.

O Papa também criticou a situação em que se encontra o processo de desarmamento.

“Os sintomas de uma crise progressiva se multiplicam, relacionados às dificuldades nas negociações sobre as armas convencionais e sobre as armas de destruição em massa, assim como ao aumento dos gastos militares em escala mundial”, disse o Pontífice.

Em relação ao tema, Bento XVI afirmou que “as questões de segurança, agravadas pelo terrorismo, que precisa ser condenado com firmemeza, devem ser tratadas com um enfoque global e claro”.

O Papa incluiu a imigração no capítulo das crises humanitárias e, após pedir um apoio mais intenso às organizações de ajuda, afirmou que “é uma ilusão pensar que os fenômenos migratórios podem ser bloqueados ou controlados simplesmente pela força”.

“As migrações e os problemas que criam devem ser enfrentados com humanidade, justiça e compaixão”, disse.

Bento XVI também mencionou as ameaças que, em sua opinião, “se estendem contra a estrutura natural da família, fundamentada no casamento de um homem e de uma mulher”, pois entende como uma tentativa de relativização “dar-lhe o mesmo estatuto que a outras formas de união radicalmente diferentes”.

Bento XVI dedicou boa parte do discurso aos conflitos na África, sobretudo no Sudão e na Somália, e na Ásia, especialmente no Oriente Médio.

Sobre esta última região, Bento XVI disse que “não é possível se contentar com soluções parciais ou unilaterais”. Segundo o Pontífice, “é necessário um enfoque global, que leve em consideração as aspirações e interesses legítimos dos diferentes povos envolvidos”.

Sobre a América Latina, o Papa expressou seu desejo de que sejam resolvidos os problemas na Colômbia, Cuba e Haiti.

Fonte: EFE

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