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Um [url=https://www.youtube.com/watch?v=HTTe06B_UMI]vídeo de um minuto e 20 segundos de duração[/url] colocou o papa Francisco no centro de uma polêmica envolvendo um escândalo de abusos sexuais no Chile.
Gravado no início de maio, mas vazado apenas no último fim de semana, o vídeo mostra o pontífice criticando o que chama de “críticas de esquerdistas” à escolha do bispo da diocese de Osorno, cidade do sul chileno com população de 145 mil pessoas.
O bispo em questão, Juan Barros, foi colaborador próximo de Fernando Karadima Fariña, proeminente sacerdote obrigado pelo Vaticano em 2011 a se aposentar por conta de uma série de denúncias de abusos.
Vítimas destes abusos acusaram Barros de tê-lo acobertado, mas este nega ter tido conhecimento dos crimes cometidos por Fariña.
A nomeação de Barros para Osorno foi criticada até mesmo dentro das fileiras católicas no Chile, com colegas de sacerdócio pedindo sua renúncia. Desde sua ordenação, em março, a cidade chilena é palco de intensos protestos semanais.
Francisco, no entanto, defende Barros no vídeo, em resposta a uma pergunta feita pelo secretário-geral da Conferência Episcopal Chilena, Jaime Coiro, durante uma audiência no Vaticano. “Sou o primeiro a julgar e castigar alguém que receba acusações deste tipo. Mas neste caso não há prova alguma”, diz o papa na gravação, com o dedo em riste. “Osorno sofre de maneira desnecessária. Usem a cabeça e não se deixem levar pelos esquerdistas”.
Francisco também expressa a opinião de que os protestos têm cunho político. “A única acusação que houve contra esse bispo (Barros) foi desacreditada por um tribunal”.
Barros não foi alvo direto de nenhuma das muitas ações judiciais que ainda são movidas contra Fariña, mas teve que depor em processos investigando os crimes do colega.
Diversas vítimas do padre acusaram Barros de acobertar suas ações. O vídeo foi gravado pelo fiel argentino Rodolfo Sykora em um tablet. Coiro diz ter recebido o material no mês seguinte. Em entrevista à mídia chilena, Sykora contou ter enviado o vídeo para Coiro com uma senha, para evitar vazamentos. Coiro nega ter distribuído o conteúdo.
O bispo Barros, no entanto, usou a ocasião para agradecer ao apoio do papa. No entanto, Marie Collins, vítima de padres pedófilos e diretora de uma ONG britânica que trabalha com o Vaticano na questão do abuso sexual, criticou a atitude de Francisco. “Estou triste e desalentada (com o vídeo)”.
Ciro Benedittini, vice-diretor do departamento de imprensa do Vaticano, disse à BBC Mundo que não haveria um pronunciamento oficial sobre o vídeo.
[b]Perguntas sem respostas[/b]
As palavras de Francisco foram pronunciadas em um momento particularmente delicado para a Igreja católica chilena, que está muito dividida diante das críticas provenientes de diferentes setores contra a hierarquia eclesiástica, em especial pela posição assumida pelos bispados no caso Karadima. Poucas semanas atrás, o jornal eletrônico El Mostrador divulgou uma troca de mensagens por correio eletrônico entre o presidente da Conferência Episcopal, Ricardo Ezzatti, e o cardeal arcebispo emérito, Francisco Javier Errázuriz. Os e-mails, que criaram um grande problema para a Igreja católica chilena, revelaram as ações empreendidas pelos dois em 2014 para evitar que o jesuíta Felipe Bérrios, talvez o mais popular e mais crítico dos sacerdotes chilenos, ocupasse o cargo de capelão do Palácio de La Moneda. Paralelamente, Ezzatti e Errázuriz faziam referência, em termos duros, a Juan Carlos Cruz, um dos denunciantes no caso Karadima, revelando os esforços diplomáticos que fizeram para impedir, em 2013, que ele integrasse uma comissão do Vaticano encarregada de averiguar agressões sexuais.
Com exceção do próprio Barros, que agradeceu as palavras do Papa, praticamente ninguém no Chile saiu em defesa das declarações de Francisco, que deixaram pelo menos três importantes perguntas sem resposta.
A primeira, da maior gravidade, diz respeito a quais teriam sido as razões pelas quais ele chamou os críticos da nominação de Barros em Osorno de esquerdistas radicais. Tratando-se de uma inverdade, entre outros motivos por que essa região é majoritariamente conservadora, tanto os envolvidos no caso quando os especialistas se perguntam quem seria a pessoa que estaria passando informações erradas ao Papa. Algumas pessoas que acompanham a situação apontam, nesse caso, para o núncio Ivo Scapolo, que assumiu em 2011.
Uma segunda interrogação é por que Francisco avalia que a longevidade na instituição constitui em si uma presunção de inocência, ao argumentar que Barros é bispo há 20 anos. Sabe-se que no mundo inteiro sacerdotes da mais alta posição hierárquica já se viram envolvidos em casos de abusos sexuais, inclusive o próprio Karadima, no Chile.
Um terceiro ponto: por que o Papa resolveu se envolver mais uma vez em um assunto tão delicado para o Chile? Em julho passado, durante visita oficial a La Paz, Francisco surpreendeu a todos ao mencionar a questão marítima. Enquanto o assunto ainda está sob apreciação do Tribunal Internacional de Haia, o Papa defendeu que se estabeleça uma negociação e mencionou o desejo da Bolívia de ter acesso ao mar: “Há sempre uma base justa quando ocorrem mudanças nos limites territoriais, sobretudo depois de uma guerra. Eu diria que não é injusto reivindicar uma coisa como essa”. A chancelaria chilena, que defende que o tratado de 1904 solucionou definitivamente a questão da fronteira entre os dois países, viu-se em uma situação bastante incômoda diante dessa declaração.
[b]Fonte: BBC Brasil e El Pais[/b]