Um alto assessor do primeiro-ministro Silvio Berlusconi reuniu-se neste domingo com o papa Bento 16, em meio a tensões em relação a escândalos que abalaram a relação entre o governo da Itália e a Igreja Católica.

Gianni Letta conselheiro de Berlusconi, disse que as relações são “sólidas”, após uma breve reunião com o papa durante a visita de Bento 16 a Viterbo, no norte de Roma.

“Meu sorriso diz tudo. Estou feliz e sereno”, disse Letta, segundo as agências de notícias Ansa e Apcom, embora ele tenha acrescentado que sempre há trabalho a ser feito para” reforçar “as relações.

Os laços entre o governo e a igreja, que são politicamente importantes em um país maciçamente católico, foram abalados recentemente. Publicações católicas criticaram abertamente Berlusconi por seus flertes com mulheres jovens e as autoridades do Vaticano têm criticado a dura política anti-imigração do governo conservador.

No que foi como uma retaliação, um jornal da família de Berlusconi acusou na semana passada o editor de um importante jornal católico do país de estar envolvido em um escândalo.

O editor, Dino Boffo, disse ser inocente, mas se demitiu na quinta-feira como chefe do “Avvenire”, o jornal da Conferência dos Bispos da Itália, dizendo que estava fazendo isso pela sua família e pela igreja.

Na semana passada, “Il Giornale”, que é propriedade do irmão de Berlusconi, afirmou que Boffo tinha sido multado em um acordo judicial há vários anos, para encerrar um processo em que era acusado de fazer ligações telefônicas hostis à esposa de um homem em quem ele estaria supostamente interessado. O jornal acusou o editor de hipocrisia por examinar a vida privada de Berlusconi.

Boffo reconheceu ter sido multado no caso, mas disse que alguém havia usado o celular dele para fazer as chamadas. Os promotores defendem que Boffo fez as chamadas, mas negaram que houvesse um aspecto gay no caso. Boffo insistiu para que os arquivos do caso permanecessem lacrados.

O jornal da família Berlusconi publicou o artigo depois que o “Avvenire” cobrou de Berlusconi respostas sobre as revelações de que as mulheres tinham sido pagas para participar de festas em casas do primeiro-ministro e que uma prostituta de luxo teria passado uma noite com ele.

As revelações foram desencadeadas pelo anúncio, de que a mulher de Berlusconi estava se divorciando dele, citando como motivo a presença dele na festa de aniversário de 18 anos de uma modelo de 18 anos em Nápoles.

Berlusconi, de 72 anos, denunciou o que ele diz ser uma campanha de difamação da imprensa contra ele e abriu processo contra dois jornais diários esquerdistas e várias outras publicações europeias por difamação.

Ele negou ter pagado por sexo e disse que não havia nada de “picante” em suas relações com a jovem modelo, Noemi Letizia.

Em entrevista transmitida neste domingo pela rede de TV Sky TG24, Letizia disse a mulher de Berlusconi deveria saber que ela não teve qualquer papel no final do casamento.

“Todos podem ver que eu não sou o motivo para o divórcio”, disse Letizia, que foi entrevistado em um jardim e em uma lancha. “Como pode uma festa de aniversário de 18 anos acabar com um casamento? Se isso aconteceu, que tipo de casamento era esse?”

Falando em italiano, com frases ocasionais em inglês, Letizia disse que realmente gostou da notoriedade que o escândalo lhe dado e que esperava que a exposição a ajudasse em seu sonho de ir para os Estados Unidos e se tornar uma atriz.

Apesar do escândalo, a coalizão de Berlusconi parece sólida, embora o seu apoio entre os católicos tenha diminuído um pouco, de acordo com uma pesquisa Ipsos publicada neste domingo pelo jornal “Corriere della Sera”. A pesquisa, que ouviu 800 pessoas, mostra que Berlusconi manteve-se popular entre os 50% dos católicos praticantes, em comparação com 55% em abril, antes do escândalo. A pesquisa tem uma margem de erro de 3,5 pontos percentuais.

Os jornais italianos se concentraram em como os escândalos revelaram as divisões entre os bispos italianos e o Vaticano sobre quem era responsável pelas relações com a política italiana.

Durante o pontificado de João Paulo 2° (1978-2005), o chefe da Conferência da dos Bispos da Itália esteve no comando. Sob Bento 16, porém, o número dois do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, impôs sua autoridade, disseram os jornais.

Vittorio Messori, um veterano especialista em Vaticano escreveu no “Corriere della Sera” que Bertone estava apenas aplicando o ideal de longa data de Bento 16 de um “federalismo clerical” –a autoridade centralizada do Vaticano sobre os bispos de todo o mundo.

Fé e inteligência

Durante a visita deste domingo, o papa Bento 16 ressaltou que a fé é “amiga da inteligência”, diante de milhares de moradores de Bagnoregio, uma localidade do norte de Roma onde nasceu São Boaventura, um teólogo franciscano do século 18.

“Queria expressar minha voz de alento e meu afeto pelo serviço que, na comunidade eclesiástica, prestam os teólogos a esta fé que busca o intelecto, esta fé que é ‘amiga da inteligência'”, declarou o papa.

Pouco antes, o chefe da Igreja Católica havia visitado a catedral, onde estão as relíquias de São Boaventura, frade contemporâneo de São Tomás de Aquino.

Joseph Ratzinger, que se tornou Bento 16 após ter sido eleito Papa, redigiu uma tese sobre esse doutor em 1957.

O papa concluiu em Bagnoregio uma viagem pastoral de um dia que antes o levou a Viterbo, que no século 13 foi sede do Papado durante 24 anos.

Bento 16 chegou nesta manhã a Viterbo e visitou a sala do Conclave do Palácio dos Papas, onde, em 1268, o governador da cidade trancou com chave os cardeais para que elegessem um novo pontífice, já que os sacerdotes tinham deixado vaga a sede apostólica durante mais de dois anos, após a morte de Clemente 4º.

Do Conclave de Viterbo saiu eleito Gregorio 10º, que regulamentou através da constituição Ubi Periculum, de 1274, a escolha do pontífice.

Fonte: Folha Online

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