Quando o assunto é evitar a transmissão da “gripe suína” – sem estranheza ou grosseria – talvez o povo de Samoa esteja melhor preparado.

“Em Samoa, as pessoas não se tocam quando cumprimentam umas às outras”, disse o antropólogo linguístico Dr. Alessandro Duranti.

Para quem vive fora de Samoa, a era da gripe suína representa o difícil desafio de como expressar cordialidade, amizade e até mesmo amor – ao mesmo tempo ficando, como recomendam as autoridades, a pelo menos um metro de distância de qualquer um que tussa, espirre ou mostre qualquer sinal de contágio pelo vírus H1N1.

Conforme o mundo se prepara para a segunda onda do vírus causador da “gripe suína”, que teve início na primavera e resultou na morte de mais de 2.100 pessoas em todo o mundo, a doença está alterando antigos padrões diários de saudações.

Apertos de mão se tornaram mais curtos, beijos foram abolidos. Abraços acolhedores foram substituídos por curtos tapinhas nas costas.

O distrito escolar de Glen Cove, Nova York, tem desencorajado os estudantes a se cumprimentarem com tapas nas mãos durante jogos esportivos. Na Espanha, o ministro da Saúde pediu que os cidadãos renunciem aos tradicionais beijos em ambas as bochechas. Oficiais do Líbano ao Kuwait pediram que muçulmanos que celebram o Ramadã não se abracem excessivamente.

O problema, segundo os médicos, é quando você aperta a mão de outra pessoa depois que ela tossiu ou espirrou, transmitindo assim o vírus.

“O perigo não é que ele esteja nas suas mãos”, disse Dr. Philip L. Graham III, epidemiologista pediátrico do Hospital Presbiteriano de Nova York. “O perigo é que todos nós, centenas de vezes ao dia, esfregamos nossas mãos sobre nossos rostos. As pessoas tocam mais suas faces do que imaginam”.

Quando alguém com o vírus da “gripe suína” tosse ou espirra sem cobrir o rosto, o vírus é borrifado para fora em minúsculas gotículas de ar que viajam de um a três metros antes de chegar ao chão. Portanto, uma conversa cara-a-cara pode resultar em contágio. (O vírus pode sobreviver em, digamos, um aparelho telefônico ou um teclado de computador por horas, ou até mesmo um dia inteiro.)

Se o toque não puder ser evitado, um soquinho é melhor que um aperto de mãos, que por sua vez é melhor que um abraço ou – na pior das hipóteses – um beijo. “Quanto mais perto suas membranas mucosas estiveram das mucosas da outra pessoa, maior o risco”, disse Graham.

Ele acrescentou: “Você não pode evitar uma criança doente que tenta abraçá-lo. Mas você deve prender seu fôlego ao abraçá-la”.

Kenneth Bromberg, presidente de pediatria e diretor do Centro de Pesquisa para Vacina do Centro Hospitalar do Brooklyn, disse o seguinte: “O perigo são as secreções trocadas. Quanto mais perto você chegar de onde a gripe se aloja, maior o risco”.

Ele acrescentou: “É OK apertar mãos por aí, desde que em seguida você as lave”.

Algumas culturas têm rituais de saudação que podem fazer com que estejam melhor preparadas para lidar com a gripe suína. O Dr. Arthur Kleinman, antropólogo médico de Harvard que estudou a erupção da Sars na China e Hong Kong em 2002 e 2003, notou que algumas pessoas pararam até mesmo de tocar maçanetas de portas ou botões de elevadores sem luvas, e que taxistas se recusaram a apanhar não apenas os doentes, mas também médicos e enfermeira nestes países.

Mas os chineses não tendem a abraçar muito e, para evitar contágio, eles podem recorrer a uma saudação clássica que carrega respeito e estima: a palma e os dedos de uma mão envolvem o punho da outra, em uma simulação de um aperto de mãos. Um gesto comum na cultura árabe, Kleinman notou, é um movimento da mão, sobre o próprio peito ou face.

Mesmo assim, segundo Kleinman, “a globalização fez do aperto de mãos um gesto muito, muito difundido.”

Fonte: The New York Times

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