O papa Bento 16 pretende se encontrar com até 500 artistas de várias partes do mundo em novembro, em um tentativa de virar a página nas relações, às vezes conflitante, do Vaticano com o mundo das artes modernas.

O Vaticano disse que o encontro, a ser realizado em 21 de novembro na Capela Sistina –cujos afrescos são um dos pontos altos da arte renascentista–, tem como intenção dar um primeiro passo em direção a uma “nova e fértil aliança entre a arte e a fé”, enquanto o diretor de museus do Vaticano, Antonio Paolucci, disse que o evento pode ser considerado um tipo de “reconciliação após um grande divórcio.”

A lista de convidados inclui artistas dos cinco continentes, desde pintores, escultores e arquitetos até poetas e diretores.

Os artistas foram escolhidos independentemente de religião, política ou estilo, disse o arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para Cultura.

Cerca de 75 artistas já aceitaram o convite, incluindo o compositor ganhador do Oscar Ennio Morricone e o diretor de teatro norte-americano Bob Wilson.

O encontro vai marcar tanto o 10o aniversário da “Carta aos Artistas” do papa João Paulo 2o de 1999, na qual ele falou da “necessidade de arte” da igreja, como o 45° aniversário do primeiro encontro do papa Paulo 6° com artistas, em 1964.

Paulo 6° tinha um interesse apaixonado pela arte contemporânea e foi responsável pela inauguração do departamento de Arte Religiosa Moderna e Contemporânea do Museu do Vaticano, em 1973.

Muitas vezes ignoradas pelos turistas que vão ao Vaticano, a coleção inclui obras de Auguste Rodin, Wassily Kandinsky, Pablo Picasso e Marc Chagall.

Mas trabalhos como a rã crucificada de Martin Kippenberger e uma escultura de Paolo Schmidlin retratando Bento 16 como um transexual dificultaram as relações entre os fiéis e o mundo da arte contemporânea nas últimas décadas.

A escultura de Schmidlin foi retirada de uma exposição em Milão, há dois anos, depois que a Liga Antidifamação Católica expressou indignação e ameaçou processar os organizadores da mostra por difamar um chefe de Estado.

Mas a ruptura entre a arte e a fé é “incompreensível”, dada a extensa colaboração anterior entre artistas e a igreja, como na época do Renascimento, disse Paolucci.

Em um sinal dos renovados esforços por essa reconciliação, o Vaticano anunciou no início deste ano que vai participar da Bienal de Veneza de 2011, um dos festivais de arte mais importantes do mundo.

Na época, Ravasi descartou abrir de um pavilhão na bienal ao lado dos participantes mais provocativos, mas sublinhou a “necessidade de diálogo” com os artistas na “ausência de uma linguagem contemporânea da arte sacra”.

Fonte: Folha Online

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