Em nota, o pastor-presidente da entidade Tabernáculo Vitória, Inereu Vieira Lopes, se reserva o direito de não conceder entrevista sobre o entidade. Pai de um dos seguidores da seita diz “para meu filho eu morri”.

Na nota, o pastor salienta que a “entidade religiosa intitulada Tabernáculo Vitória tem Registro em Cartório próprio desde a data de 1985, com Estatutos e regimentos adequados à nova lei do Código Civil Brasileiro”. Segundo a nota, a Tabernáculo Vitória tem, portanto, “o direito de lei de exercer sua fé e crença neste País”.

Diz a nota: “queremos nos reservar no direito constitucional que nos é dado pela nossa Constituição, a crermos como cremos, e também o de nos calarmos, se o quisermos, e não darmos entrevistas a respeito do que se passa conosco.

Volto a repetir: o Ministério Público já se manifestou, e nós também, claro, cedemos às pessoas, que se sentirem lesadas por esta entidade religiosa, que por sinal deve ser respeitada por este órgão da imprensa, a procurarem o Ministério público, e assim procederem de acordo com a lei, requerendo que seja observados e respeitados os seus direitos.

Cabe aos veículos de imprensa investigar mais os denunciantes anônimos, para não cometerem a injustiça de prejudicar a uma entidade religiosa séria, onde outras famílias sinceras congregam e vivem, ou até se prejudicando si mesmos em sua credibilidade”.

O pastor Inereu pede ainda à imprensa: “…nos dê o direito de nos manter em silêncio quanto às denúncias, e que orientem a estes “denunciantes anônimos”, o caminho legal para exigirem seus direitos. Agradeço a compreensão, em nome da Entidade Tabernáculo Vitória, e de seus membros, e peço que deixem-nos seguir nosso caminho em Paz. Se falharmos de acordo com a lei, em usurparmos do direito de alguém, que este alguém nos procurem, e se não quisermos atendê-lo que busquem na Justiça o respeito devido aos seus direitos”, ressalta o pastor Inereu Vieira Lopes ao concluir a nota.

‘Para meu filho eu morri’, conta o pai de um dos seguidores do Tabernáculo Vitória

Familiares de fiéis do templo Tabernáculo Vitória, localizado no bairro Santa Teresa, periferia da capital capixaba, estão preocupados. Pais não conseguem mais ter contato com filhos e netos que moram nas quitinetes erguidas dentro dos limites territoriais da própria seita. As declarações de pessoas que nunca se viram, mas passam pela mesma situação, são idênticas. Eles são proibidos de entrar no templo, presidido pelo pastor Inereu Vieira Lopes.

O taxista João Fantin afirmou que não vê o filho e os três netos há quatro meses, desde que eles foram morar no Tabernáculo. Ele contou que o filho vendeu a casa por R$ 50 mil, um ponto de táxi em uma região nobre da cidade por R$ 120 mil e vários outros bens totalizando uma quantia superior a R$ 200 mil. Todo o dinheiro foi entregue para a administração da seita para que ele pudesse ser aceito na comunidade.

O pai se emociona ao relatar o último encontro com o filho. Ele contou que durante uma conversa, antes mesmo do filho vender a residência, ele o questionou sobre o trabalho do pastor Inereu Lopes. Na ocasião, o taxista relata que o filho se transformou, ficando agressivo e dizendo que ninguém tinha o direito de falar mal do pastor.

“As vezes que falei com ele sobre esse pastor…(o taxista se emociona e se cala por alguns segundos). Uma vez que falei com ele sobre esse cara, o meu filho me tocou da casa dele. Eu não posso falar das atitudes dele e nem das do pastor. Ele acha que está no caminho certo. Eu já abri o olho dele, mas ele não quer me dar ouvido. A mente dele está muito fechada. Ele está errado. Se a pessoa quer ser a luz do mundo, como ele vai clarear se têm que ser o sal da terra, como eles se fecham em um grupo. A pessoa não pode se fechar, dizendo que está esperando a vinda de Cristo, da maneira que eles fazem, vendendo o que têm. O dinheiro da Ranger do Pastor saiu da onde? A reforma do prédio aconteceu com quais recursos? São dos fiéis? O primeiro foi meu filho. Meu filho vendeu tudo e levou aproximadamente R$ 220 mil para lá”, declara o taxista.

O taxista disse que ele e a mulher ainda têm esperança em rever o filho e os netos. “Eu infelizmente não posso fazer mais nada. Eu tinha que agir antes dele vender as coisas, mas mesmo conversando muito com ele, minha orientação não teve efeito. Agora é esperar para ver no que vai dar. Se essa história não produzir nada, eu estarei de braços abertos para recebê-lo”, afirma o pai.

O desespero do taxista João Fantim é o mesmo do operário Carlos Humberto Gabriel. Assim como Fantin, ele não vê os dois filhos há mais de cinco meses: um jovem de 19 anos e uma menina de 15. Carlos Humberto contou que a ex-esposa se mudou de João Neiva, onde ele reside, para morar nas quitinetes em Vitória, depois de acompanhar por anos as pregações do pastor Inereu, feitas em DVD. O casal tem três filhos e apenas o mais velho, de 21 anos, não aceitou acompanhar a mãe e os irmãos. Ele continua em João Neiva com o pai.

Ele se emociona ao relatar que os filhos deixaram de lhe chamar de pai, por orientação da seita. Como nunca conseguiu conversar com os filhos no Tabernáculo Vitória, Carlos acionou o Conselho Tutelar de João Neiva que conseguiu tirar a menina, por alguns dias do templo, em Vitória. No entanto, a mãe a buscou e desde então ele nunca mais a viu.

Repórter: Como o senhor ficou sabendo que sua ex-esposa tinha se mudado de João Neiva, com seus filhos, para Vitória?

Carlos Humberto: O meu drama começou há cinco meses, quando fiquei sabendo através de terceiros que meus filhos tinham ido embora. Eu não acreditei. Quando fui perguntar meu filho se ele iria realmente embora, ele disse que sim, pois a hora dele tinha chegado. Disse para mim que eu não era mais o pai dele, que eu poderia considerar que ele estivesse morrido, pois é assim que ele me considera agora. O pai dele agora é o pastor e Deus.

Repórter: O pastor Inereu era quem pregava em João Neiva?

Carlos Humberto: É, é o mesmo pastor. As pessoas que freqüentavam essa igreja em João Neiva, cultuam esse pastor como Deus. Eles falam que Deus usa esse pastor para transmitir a Palavra. As crianças o adoram como se fosse Deus mesmo. Eu e meu outro filho já não temos mais valor para meus outros dois filhos que estão na seita.

Repórter: A sua ex-esposa chegou a vender bens para ir morar na Tabernáculo Vitória:

Carlos Humberto: Ela vendeu tudo que tinha dentro de casa, saiu do emprego, deixou tudo para trás e veio com todo dinheiro para Vitória.

Repórter: O senhor já procurou seus filhos depois que foram morar no templo?

Carlos Humberto: Fui procurar, mas na portaria do templo eles não me deixaram entrar. Eles alegavam que era um condomínio particular e eu não poderia entrar.

Repórter: Seus filhos estudam, tem acesso do que acontece do lado de fora do Tabernáculo?

Carlos Humberto: Desde que minha filha foi morar no templo ela parou de estudar. Eu perguntei a ela se lá dentro eles estudam, o que eles fazem lá, mas ela não me respondeu disse que preferia ficar calada.

Repórter: Sua filha disse se lá ela é feliz?

Carlos Humberto: Ela contou que sim, mas eu vi nos olhos dela que não. Ela está com um olhar tristonho. Eu sou pai, eu conheço minha filha e tenho certeza que ela não está contente.

O operário afirmou que vai entrar na Justiça para pedir a guarda da filha. Na tarde desta quarta-feira (19), o pastor-presidente da entidade Tabernáculo Vitória, Inereu Vieira Lopes, encaminhou nota à redação integrada Rádio CBN Vitória / Gazeta On Line sobre a matéria ‘Fé sem limites: seita leva religiosos do ES a trocarem bens por salvação no Céu’, produzida pelos dois veículos de comunicação.

Na nota, o pastor se reserva o direito de não conceder entrevista sobre o entidade e salienta que a “entidade religiosa intitulada Tabernáculo Vitória tem Registro em Cartório próprio desde a data de 1985, com Estatutos e regimentos adequados à nova lei do Código Civil Brasileiro”. Segundo a nota, a Tabernáculo Vitória tem, portanto, “o direito de lei de exercer sua fé e crença neste País”.

Na nota, o pastor ainda afirma que o Ministério Público está ciente da situação. “”Ministério Público já se manifestou, e nós também, claro, cedemos às pessoas, que se sentirem lesadas por esta entidade religiosa, que por sinal deve ser respeitada por este órgão da imprensa, a procurarem o Ministério público, e assim procederem de acordo com a lei, requerendo que sejam observados e respeitados os seus direitos””

Segundo a promotora Maria Zumira Teixeira Bowen , dirigente do Centro de Apoio da Infância e Juventude do MPES, o direito de culto é assegurado a todos. A promotora desmente a afirmação do pastor e disse que o órgão nunca se manifestou. Ela orienta as pessoas que se sentirem lesadas que acionem o Ministério Público Estadual.

Fonte: Gazeta Online

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