Ele tem 66 anos e fez greve de fome ao ser impedido de ter contato com a família. Após quatro meses de prisão, por supostamente ter “prejudicado a saúde” de um membro de sua igreja, ele deveria permanecer detido por mais um mês. No dia 11 de outubro, porém, o tribunal alegou que ele fazia propaganda ao extremismo, ameaçando-o ao cumprimento da pena de 5 anos de prisão ou mais.
Bakhytzhan Kashkumbayev, pastor da Igreja Protestante da Graça em Astana, foi preso no dia 17 de maio, acusado de manipular psicologicamente a jovem Lyazzat Almenova através do uso de uma “bebida alucinógena de cor vermelha”. Kashkumbayev continuaria detido até o meio de outubro, quando completa 67 anos de idade.
[img align=left width=300]http://www.portasabertas.org.br/images/1120054/2755029[/img]Lyazzat disse à agência de notícias Forum 18 News que seu pastor era “totalmente inocente”, mas o Estado decidiu levar Kashkumbayev preso após a mãe da jovem afirmar que a presença de sua filha na igreja havia prejudicado sua saúde mental.
Outros membros da congregação confirmam que a bebida é inofensiva, sem álcool, utilizada como parte da celebração da Santa Ceia – para representar o tradicionalmente utilizado, e simbólico, vinho.
O pastor já vinha sendo investigado há, aproximadamente, dois anos, após a mãe de Lyazzat ter apresentado sua queixa, pela primeira vez, em julho de 2011. O primeiro ataque surpresa à igreja foi feito em outubro de 2012. Antes e depois do incidente, vários artigos foram escritos sobre o pastor, atacando a igreja pelo suposto uso de “alucinógenos”.
Após a sua prisão, em maio desse ano, o pastor foi transferido para um hospital psiquiátrico em Almaty, antiga capital do país, onde deveria permanecer de 19 de julho a 17 de setembro, quando seria submetido a um exame psiquiátrico. Ele saiu da ala psiquiátrica antes, no dia 8 de setembro, mas sua libertação foi temporária e serviu apenas para o transferirem para a prisão novamente.
Um dia antes, Kashkumbayev foi levado à enfermaria, onde escreveu uma carta ao Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, dizendo que planejou uma greve de fome como forma de protesto contra tratamentos que, em suas palavras, acabariam por transformá-lo em um “vegetal”.
“Ainda que eu tenha 66 anos e não goze de uma saúde ideal, pois tive um grave ataque cardíaco em 2011, e ainda tenho otite, bronquite e gastrite crônicas e varizes nas pernas, , estou psicologicamente saudável”, escreveu Kashkumbayev. “Mas não vai demorar muito para que as autoridades me transformem em um vegetal. Eu estou implorando a vocês para que me protejam”, dizia na carta.
Seu advogado o avisou que seu estado de saúde poderia se agravar, como resultado de sua greve de fome, mas o pastor respondeu que estava disposto a ficar até mesmo sem água, na tentativa de ganhar sua liberdade por meio do apoio da comunidade internacional. Depois de três dias de jejum, no entanto, ele foi transferido para a ala psiquiátrica, onde foi forçado a comer.
Nem a família de Kashkumbayev ou seu advogado foram capazes de fazer contato com ele desde que foi levado para a ala psiquiátrica, nem têm qualquer meio de obter informações acerca de seu estado de saúde. Contudo, o filho do pastor, Askar, disse ao World Watch Monitor que nos últimos 10 dias de sua internação, ele pôde visitar seu pai algumas vezes, enquanto a família aguardava a permissão para que a esposa do pastor pudesse vê-lo também.
Os filhos de Kashkumbayev foram autorizados a levar pequenas porções de alimentos e roupas para o pai, mas, a cada visita, eles teriam de pagar aproximadamente U$ 60-70 (cerca de 130 a 140 reais) por esse privilégio.
Askar disse que não sabe por que seu pai foi preso, mas que pensou que isso poderia ser como uma espécie de aviso para que outros cazaques não mudem de religião. No mês passado, Askar disse ao Forum 18 que as autoridades estavam tentando humilhar seu pai e prejudicar a imagem da igreja. “Meu pai não planejava deixar as pessoas doentes e nem prejudicar ninguém. Nossa única esperança é o apoio que podemos obter através do público em geral e da comunidade internacional. A imprensa local apenas publica matérias contra o meu pai. Parece que as autoridades têm a intenção de punir o meu pai”, disse ele.
A União Ucraniana de Igrejas Evangélicas escreveu uma carta ao Embaixador do Cazaquistão na Ucrânia, dizendo: “A nossa União está profundamente preocupada com a situação. Nós fornecemos uma prática doutrinária semelhante à fé do pastor Kashkumbayev, e nossas práticas de fé são garantidas pela Constituição da Ucrânia”.
Segunda-feira passada (07), o tribunal havia optado pela prisão domiciliar do pastor, mas isso nunca aconteceu e o cristão não chegou a voltar para casa, de fato. Ali mesmo, na saída do julgamento, ele foi levado por três homens vestidos de preto para um interrogatório. Depois disso, ele foi colocado em detenção provisória até que uma nova audiência ocorresse.
A seção aconteceu na última sexta-feira (11), quando o tribunal apresentou novas acusações, mas, dessa vez, por um motivo completamente diferente (artigo 233-1 do Código Criminal do Cazaquistão): agora, ele é acusado de “propaganda do extremismo” e ameaçado à condenação de prisão superior a 5 anos.
Embora já exista uma nova investigação sobre o caso, Bahytzhan está em detenção até o dia 17 de novembro, quando a próxima audiência deve ocorrer. Ore por ele e por este tempo em que ainda deve permanecer na prisão. Interceda também por sua família – sua esposa, Alfia Kashkumbayeva, que está sob enorme tensão –, seus filhos Karim e Askar e respectivos cônjuges –, e também pelos netos de Bakhytzhan.
[b]Fonte: World Watch Monitor[/b]