Ex-presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo pediu “clemência e misericórdia”, enquanto depunha para o Tribunal Misto formado por deputados estaduais e desembargadores do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) que julga o processo de impeachment do governador afastado, Wilson Witzel (PSC), desde o início da manhã.
Everaldo chorou e disse que não tinha condições de depor por meio de videoconferência, já que está preso desde 28 de agosto sob acusação de participar de fraudes em compras na área da saúde durante a pandemia do novo coronavírus.
O político alegou já ser alvo de um inquérito no STJ (Superior Tribunal de Justiça) que julga os mesmos fatos.
“Não estou em condições de prestar depoimento neste processo. Isso se deve ao fato de eu ser réu perante o STJ pelos mesmos fatos que são apurados no processo de impeachment, e meu foco é me defender naquela Corte. Estou preso há precisamente 112 dias, a meu ver indevidamente. Mais uma vez peço misericórdia, perdão, clemência, eu não tenho como falar”, disse o Pastor Everaldo, ex-presidente do PSC.
Ele também alegou motivos pessoais para recorrer ao silêncio. “Eu estou com o filho com covid no hospital, internado, pode morrer a qualquer hora. Meu pai completou 88 anos e não pude abraçá-lo”, afirmou.
As falas geraram revolta nos membros do Tribunal Misto. O presidente do TJ-RJ, Cláudio de Mello Tavares, exigiu respostas às perguntas feitas. “O senhor fala muito em misericórdia, mas queria que o senhor respondesse com misericórdia às perguntas que estão sendo feitas. Eu quero que o senhor responda com objetividade à pergunta que foi genérica e que não envolve o processo criminal.”
O deputado Carlos Macedo (Republicanos), que também é líder evangélico, apelou para a fé do Pastor Everaldo. “Eu me senti constrangido como evangélico e como pastor também. Por isso, faço um apelo por uma resposta por parte do senhor”, disse.
O ex-presidente do PSC, no entanto, só respondeu a uma pergunta feita pelo parlamentar. Quando perguntado se confirmava a informação que consta na delação pelo ex-secretário de Saúde Edmar Santos, de que ele teria recebido R$ 15 mil das mãos de Witzel, ele negou de forma lacônica.
“Nunca recebi R$ 15 mil ou qualquer dinheiro do governador Witzel.”
Ex-secretário agora se diz “inimigo” de Witzel
A primeira testemunha a depor foi o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão —conhecido informalmente como “braço direito de Witzel”, devido à proximidade entre os dois. Tristão está preso desde o dia 28 de agosto, quando foi alvo da operação Tris in Idem (a mesma que afastou Witzel do cargo) e, por isso, o depoimento dele também é feito por meio de videoconferência.
Logo no começo do depoimento, ao ser questionado pelo presidente do TJ se ele se considerava amigo ou inimigo de Witzel, Tristão não hesitou. “Hoje eu me considero inimigo.” No entanto, ele não respondeu o porquê da mudança no relacionamento com o governador afastado.
Tristão também negou a participação em fraudes contratuais durante a pandemia do coronavírus.
“Nunca fui garoto de recados, nunca fiz interlocução de ninguém. Nunca falei por outra pessoa”, disse Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico.
Relatório aponta práticas criminosas de Witzel
O relatório de impeachment, produzido pela Comissão da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) que investigou a conduta do governador, apontou que a revogação por Witzel da desqualificação do contrato do Instituto Unir Saúde —que teria como sócio oculto o empresário Mário Peixoto, preso em maio— teria sido criminosa.
Witzel também teria tido participação em supostos superfaturamentos em compras para combate à pandemia do coronavírus.
O documento também afirma que o governador afastado “agiu em defesa de interesses privados”.
Fonte: UOL