Jeferson Barros, acusado de ser aliado de Silas Malafaia, tem aval da direção nacional do PSOL para disputar a Câmara.

Pivô de uma crise entre a direção estadual e o comando nacional do PSOL, o pastor Jeferson Barros registrou na tarde desta segunda-feira, 07, a candidatura a deputado federal no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). Integrante da Assembleia de Deus do Ministério Parque Anchieta, Jeferson foi retirado do rol de candidatos pelo PSOL-RJ, com o argumento de que não se alinha aos princípios do partido, mas a candidatura foi aprovada na convenção nacional.

A legislação eleitoral permite que o pré-candidato que não tenha sido incluído na lista oficial do partido peça o registro ao tribunal no prazo de até 48 horas depois da publicação da lista enviada pelas legendas. O TRE do Rio publicará a lista completa até 10 de julho. Os candidatos que ficaram de fora por alguma razão têm até o dia 12 para pedirem o registro. A medida busca preservar eventuais candidatos de possíveis falhas ou decisões arbitrárias dos partidos.

A reação contrária à candidatura de Jeferson partiu de parlamentares de destaque do partido, como Jean Willys, Chico Alencar e Marcelo Freixo. Eles apontaram a ligação de Jeferson com o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que faz da pregação contra o casamento gay e o aborto suas principais bandeiras.

Em carta aberta distribuída no dia 24 de junho, deputados, vereadores e dirigentes do PSOL fluminense manifestaram “espanto e indignação” contra a permissão dada pela convenção nacional à candidatura de Jeferson. “A obsessão por candidaturas sem afinidade com nosso ideário plural, fundado no socialismo (…) e na liberdade a ser conquistada nas lutas emancipatórias, só trará problemas e incoerências na campanha que já se inicia, e retrocessos quanto ao que duramente conquistamos”, diz o documento.

A direção estadual ignorou a instância superior e não incluiu o nome do pastor na lista de candidatos enviada ao TRE na semana passada. Com uma cópia da ata da convenção nacional, Jeferson foi nesta segunda ao tribunal registrar a candidatura. O pré-candidato aguarda agora o deferimento da Justiça Eleitoral.

“É um direito da regional do Rio contestar minha candidatura, eu era desconhecido do partido, não me deram oportunidade de me fazer conhecido, não só na minha atuação como pastor, mas como sindicalista. Quero evitar briga interna. Graças a Deus tive êxito na convenção nacional e registrei minha candidatura. Nunca fiz qualquer declaração homofóbica e não tenho nada a ver com o pastor Silas Malafaia. Eu o vi uma única vez, em 2009, em São Paulo, em um encontro da Convenção Geral das Assembleias de Deus, da qual ele nem mais faz parte”, disse Jeferson.

O pastor se diz defensor do direito à união civil de pessoas do mesmo sexo, mas argumenta que é impedido pela Igreja de realizar casamento gay. “Como pastor, não posso realizar casamento de pessoas do mesmo sexo, o estatuto da Igreja me impede e me impõe penalidade se isso acontecer. É um direito deles (dos casais gays), mas eu não posso fazer o casamento. É uma questão estatutária da Igreja”, diz o pastor.

Os parlamentares que se opuseram à candidatura de Jeferson negam perseguição religiosa e lembram que o partido tem dois pastores filiados e com intensa atividade partidária: Mozart Noronha, luterano, e Henrique Vieira, da Igreja Batista, vereador em Niterói (região metropolitana).

No auge da crise entre os comandos estadual e nacional do partido, chegou-se a especular que o deputado Jean Willys, militante da causa LGBT, desistiria da candidatura à Câmara Federal se o pastor Jeferson também disputasse o cargo. Willys, no entanto, desmentiu a informação. Ontem, o deputado não quis comentar a iniciativa de Jeferson de registrar a candidatura.

Integrante da direção estadual do PSOL, a tesoureira Talíria Petrone disse que o partido não tem informação oficial sobre a candidatura de Jeferson. “Há uma deliberação do partido tomada coletivamente”, afirmou. O secretário nacional de Comunicação do PSOL, Juliano Medeiros, disse que a atitude do PSOL-RJ de descumprir a decisão do comando nacional foi “muito negativa”.

[b]Fonte: Estadão[/b]

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