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A maioria da população brasileira considera que as mulheres infectadas pelo vírus da zika não deveriam ter direito de abortar –mesmo que houvesse a confirmação de microcefalia no bebê.

Segundo pesquisa Datafolha, 58% avaliam que as grávidas que tiveram zika não podem ter a opção de interromper a gravidez, contra 32% que defendem esse direito –e 10% que não opinam.

A rejeição majoritária à possibilidade de aborto legal ocorre inclusive nos casos em que a microcefalia já foi comprovada durante a gestação. Nesse cenário, 51% se posicionam contrários ao direito de interromper a gravidez, contra 39% que são a favor.

O vírus da zika em gestantes tem sido associado ao aumento de casos de má-formação no cérebro de recém-nascidos e levou a OMS (Organização Mundial da Saúde) a decretar emergência mundial. No Brasil, epicentro da doença, já foram confirmados 583 casos de microcefalia desde outubro, mais de 90% deles no Nordeste.

Esse direito –no caso de bebês com a má-formação comprovada– só tem a defesa majoritária entre brasileiros com escolaridade superior ou com renda familiar acima de cinco salários mínimos. Entre as mulheres que disseram ter planejado uma gravidez nos últimos meses (só 9%), quase metade afirmou ter desistido do plano.

O surto de zika e microcefalia reacendeu a discussão do aborto legal, previsto no Brasil apenas em situações que colocam a mãe em risco, em casos de estupro e anencefalia (falta de cérebro) e que é passível de punição –até três anos– pelo Código Penal. Apesar da proibição, há mulheres com zika que já recorreram ao aborto, conforme revelado pela Folha.

Um braço de direitos humanos da ONU (Nações Unidas) chegou a pedir que países afetados pelo vírus considerassem esse direito das mulheres de interromper a gravidez. O aborto, mesmo diante da zika, foi rechaçado e considerado um “mal absoluto” pelo papa Francisco, que admitiu, porém, a hipótese do uso de métodos contraceptivos.

Apesar da desaprovação da maioria da população ao direito de interromper a gravidez diante da zika e da microcefalia, os índices são inferiores aos de pesquisa Datafolha, de novembro do ano passado, sobre a legislação do aborto de modo geral, sem estar relacionado a essas doenças.

Na ocasião, 67% defendiam manter a punição à prática, contra 16% que eram favoráveis à ampliação do aborto legal para mais situações e 11% que defendiam a prática em qualquer hipótese.

[b]RESPONSABILIDADE
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A pesquisa Datafolha, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, foi realizada entre os dias 24 e 25 deste mês, em 171 municípios do país, onde houve 2.768 entrevistas. O levantamento aponta que os brasileiros responsabilizam os governos federal, estadual e municipal (em índices semelhantes) pelos casos de zika, mas chegam a culpar ainda mais a própria população.

Pela pesquisa, 93% reconhecem que os moradores têm alguma responsabilidade pelo vírus -para 75%, “muita responsabilidade”. Enquanto isso, varia entre 88% e 89% os que veem responsabilidade dos governos federal, estadual ou municipal –e de 56% a 58% os que falam em “muita responsabilidade”.

Nos últimos meses, campanhas do poder público têm enfatizado a necessidade de participação de moradores no combate aos focos do Aedes aegypti, que, além da zika, também é transmissor de dengue e chikungunya.

A precariedade do saneamento básico, porém, com a recorrência de esgoto a céu aberto e lixo nas ruas, é apontada por especialistas como um dos principais fatores para proliferação do mosquito.

O Datafolha aponta que 81% dos brasileiros dizem ter medo de contrair a zika –dos quais 58%, “muito medo”. A maioria da população (57%) avalia estar bem informada a respeito da doença.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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