Nove entre dez brasileiros dizem que seu sucesso financeiro se deve a Deus, mostra pesquisa Datafolha.
[img align=left width=300]http://www.gerenciarotempoagora.com.br/wp-content/uploads/2015/07/independencia-financeira-gerenciar-o-tempo-agora1.jpg[/img]A porcentagem supera 90% entre os religiosos, é de 70% entre os sem religião e aparece até mesmo entre os que se declaram ateus: 23% concordam com a declaração.
Quanto menor a escolaridade e menor a renda, maior a gratidão a Deus pelas conquistas terrenas.
Ainda assim, são 77% os graduados que atribuem responsabilidade divina às finanças, e 7 entre 10 entre os que têm renda mensal acima de 10 salários mínimos (R$ 8.800, pelo valor atual).
[b]DINHEIRO DOS OUTROS
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A disparidade de opinião entre os mais e menos escolarizados, ou entre os mais e menos ricos, fica ainda mais ampla quando se trata do dinheiro dos outros.
Um terço de quem fez até o ensino fundamental e 28% dos que ganham até R$ 1.760 por mês concordam com a frase “As pessoas pobres, em geral, não têm fé em Deus, e por isso não conseguem sair dessa situação”.
Em contraposição, são apenas 9% os graduados que atribuem pobreza à falta de fé, mesmo índice dos que ganham mais de R$ 8.800.
O Datafolha ouviu 2.828 brasileiros maiores de 16 anos selecionados por sorteio aleatório, em amostragem representativa da população.
Feita em 174 municípios, a pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos (nível de confiança de 95%).
[b]RELIGIÃO E ECONOMIA
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As origens da pobreza e as soluções para ela são vistas de forma diferente pelos dois principais grupos cristãos do país: católicos e evangélicos –termo que, no Brasil, designa os protestantes históricos, os pentecostais e os neopentecostais.
Há uma parcela maior (28%) de evangélicos que acham que é a falta de fé em Deus que impede os pobres de deixarem essa condição.
E enquanto a caridade é a solução mais citada pelos católicos, para os evangélicos a melhor saída para os pobres é levá-los para a igreja, segundo pesquisa do Instituto Pew com 2.000 brasileiros.
A prática, porém, é outra, mostram os dados. Os protestantes são mais ativos não apenas em arrebanhar fiéis para suas igrejas (43% deles, contra 14% dos católicos).
Eles também fazem mais caridade (63%, contra 45% dos católicos) e suas igrejas ajudam a achar emprego para seus membros (56%, contra 35% dos católicos).
[b]NOVO CAPITALISMO
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“Os evangélicos estão muito mais conectados com a experiência cotidiana”, diz o professor de antropologia da Unicamp e pesquisador do Cebrap Ronaldo de Almeida.
“Essa ligação com a vida prática gera ânimo, disposição, e isso não é pouca coisa, principalmente num momento de crise”, afirma Almeida.
Assim como o protestantismo foi capaz de apoiar o progresso financeiro e o lucro no início da modernidade, as religiões evangélicas conseguiram atualizar seus costumes e hábitos para se adaptar ao novo capitalismo mundial.
“O discurso de que os fiéis são capazes de ‘se virar’, virar patrões de si mesmos, cria um outro ‘éthos’ adequado a momentos de precariedade.”
A Igreja Universal do Reino de Deus, que reúne 8% dos evangélicos, organiza cursos de empreendedorismo e programas de geração de renda: a maioria absoluta (57%) de seus membros ganha até dois salários mínimos por mês.
[b]Na crise, inflação corrói doação de evangélicos a igrejas[/b]
Os evangélicos são apoiadores financeiros mais frequentes da igreja que os católicos e doam valores maiores, mas esse esforçou sofreu impacto maior da crise brasileira, uma das mais profundas da história.
O valor médio doado pelos evangélicos é quase o triplo do dos católicos, mas essa contribuição cresceu abaixo da inflação entre 2013 e 2016, período em que os efeitos da recessão se manifestaram.
Os repasses que mais cresceram foram os feitos pelos espíritas: o ganho real, descontada a inflação, foi de 26% nos últimos três anos.
No período de crise também aumentou a porcentagem de evangélicos que estão na base da pirâmide salarial. Mais da metade deles ganha até dois salários mínimos (R$ 1.760), proporção que cresce para 58% entre os pentecostais.
[b]HOMENS X MULHERES
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De forma geral, entre todas as religiões, a porcentagem dos que costumam contribuir com a igreja se manteve constante: 8 em cada 10 fiéis.
As mulheres são mais assíduas na ajuda, mas os homens dão valores maiores (R$ 59, em média, por mês, contra R$ 50 das mulheres).
Os que vão mais de uma vez por semana à igreja (em todas as religiões) são pilares mais fortes de sustentação financeira: 65% deles contribuem sempre.
Como o vínculo dos evangélicos com a religião é maior, isso acaba também se refletindo nos cofres das igrejas.
[b]LONGE DO DÍZIMO
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Mas o mesmo fenômeno de enfraquecimento do vínculo institucional que fez com que crescesse a porcentagem dos que dizem não ter uma religião acaba afetando as contribuições.
Embora muitas igrejas recomendem que seus membros paguem o dízimo (ou 10% de suas receitas), apenas 7% dos brasileiros religiosos chegam a esse índice, de acordo com as faixas declaradas de renda e de contribuição na pesquisa feita pelo Datafolha.
A grande maioria doa por mês de 1% a 2% dos seus rendimentos.
[b]MAIS COMPETIÇÃO
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Outro fator que agrava a crise é a maior competição entre as instituições. Na pesquisa feita pelo Datafolha, os brasileiros citaram mais de 140 religiões diferentes.
No mundo, estima-se que em 2017 haja perto de 47 mil denominações, segundo o Centro Global para o Estudo da Cristandade (CSGC, na sigla em inglês).
No total, as igrejas cristãs devem arrecadar no próximo ano cerca de US$ 360 bilhões (o equivalente a R$ 1,2 trilhão) segundo o CSGC, o que equivale a 0,68% da renda estimada de seus fiéis.
Uma parcela maior, de US$ 430 bilhões, deve ser destinada para causas cristãs sob responsabilidade de instituições laicas.
O centro calcula ainda quanto dinheiro é furtado do que é doado pelos cristãos, com base em estimativas norte-americanas –que consideram ao menos 8% de desvio.
No próximo ano, segundo o CSGC, o chamado “crime eclesiástico cristão” deve custar perto de US$ 60 bilhões (ou quase R$ 200 bilhões).
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]