culto em uma Igreja UniversalO Brasil é hoje o maior país pentecostal do mundo. Levantamento de um instituto americano indica que o país reúne 24 milhões de seguidores de igrejas como a Universal do Reino de Deus, a Assembléia de Deus e a Renascer em Cristo.

Os dados constam de relatório do World Christian Database, base de dados elaborada pelo Seminário de Teologia Gordon-Conwell, um dos quatro maiores dos EUA, sem ligação com nenhuma vertente cristã.

O levantamento é feito no mundo inteiro a partir de consultadas às igrejas cristãs checadas com trabalho de pesquisa de campo, um processo caro.

Os dados de 2006 indicam que os pentecostais brasileiros superam por larga margem os 5,8 milhões de pentecostais dos EUA, onde essa vertente do protestantismo surgiu no começo do século 20 em reação à presumida falta de fervor evangélico entre os metodistas.

No Brasil, a grande maioria dos evangélicos é pentecostal. Eles acreditam nos dons do Espírito Santo, no exorcismo e em curas espirituais.

Os pentecostais brasileiros formam hoje um grupo equivalente, por exemplo, à população muçulmana do Iraque, segundo os dados do “World Factbook” da CIA, a agência norte-americana de inteligência.

Apesar do grande crescimento que experimentou nas últimas décadas, o grupo pentecostal no Brasil ainda é muito inferior à maioria católica. Especialistas ouvidos pela Folha estimam, a partir do Censo de 2000, que existam 138 milhões de católicos no país hoje. O Brasil continua sendo o maior país católico do mundo.

Costumes

Uma outra pesquisa, feita pela fundação americana Pew Forum, que estuda a influência da religião na sociedade, mostra que 62% dos fiéis brasileiros não nasceram pentecostais. Foram convertidos -45% deles a partir do catolicismo.

O estudo da Pew Forum, divulgado no final do ano passado, chama-se “Espírito e Poder -análise dos pentecostais de 10 países”. A entidades foi a dez países (EUA, Brasil, Chile, Guatemala, Quênia, Nigéria, África do Sul, Índia, Filipinas e Coréia do Sul) para saber como crêem e o que defendem os pentecostais em cada um desses lugares.

A pesquisa mostra, por exemplo, que 73% dos pentecostais brasileiros acham que os líderes políticos devem ter fortes convicções religiosas e que 65% deles acreditam que grupos religiosos devem expressar suas convicções políticas. Ao todo, 83% dos pentecostais brasileiros acham que o país vive um declínio moral. Entre a população como um todo, esses números caem, para os dois primeiro índices, a 57%. Para moral, vai a 79%.

Nos EUA, 87% dos pentecostais acham que seus líderes políticos devem comungar suas fortes convicções religiosas e 79% declararam que grupos religiosos devem ter influência política. Todos os números que têm alguma relação com uma agenda política são maiores que os dados brasileiros. Com uma exceção: o declínio moral, que é visto como grave problema por 62% dos fiéis dos EUA.

“Nos EUA, o pentecostalismo teve uma ligação muito forte com os movimentos negros. No Brasil, restou a batalha moral, porque o Estado sempre foi mais próximo dos católicos”, diz Luiz Felipe Pondé, professor de teologia da PUC-SP.

Para ter idéia do peso da moral na agenda pentecostal, a bancada de pastores na Câmara dos Deputados no Brasil caiu pela metade na eleição passada. Foi para 30 deputados devido ao envolvimento de pastores parlamentares em escândalos.

A bandeira moral erguida pelos pentecostais brasileiros também está adaptada ao conjunto da população.

Entre os pentecostais dos países pesquisados pela Pew, o Brasil é o segundo que mais tolera o divórcio: 37% dizem reprovar a separação de casais contra 15% do total da sociedade em geral. Nas Filipinas, o número sobe para 84% entre os pentecostais e para 70% no geral. Em compensação, o Brasil está entre os que mais reprovam o aborto: 91% dos pentecostais contra 79% ao todo. Nos EUA, esses dados caem para 64% e 45%, respectivamente.

“O interessante da pesquisa é que mostra que a religião não é a única fonte de valores para as pessoas”, afirma o sociólogo e professor titular aposentado da USP Reginaldo Prandi.

Apenas em um item abre-se um abismo entre os pentecostais e às outras pessoas: o fervor religioso. Entre os entrevistados pela Pew Forum, 86% dos pentecostais dizem que vão à igreja ao menos uma vez por semana. Na população como um todo, o dado cai para 38%. Quando o assunto é leitura da Bíblia, 51% dos pentecostais dizem ler o livro sagrado todo dia, contra 16% das demais pessoas.

Para estudiosos, reação católica não deu certo

No final dos anos 90, a Renovação Carismática Católica, que tem como maior expoente o padre-cantor Marcelo Rossi, era tida entre alguns setores da Igreja Católica como uma solução para a perda de fiéis para os pentecostais. A pesquisa da Pew Forum mostrou que, ao menos até agora, a estratégia não deu resultado.

Segundo a pesquisa, 34% da população brasileira se diz carismática, o que equivale a cerca de 62 milhões de pessoas. O problema é que os hábitos dessas pessoas não diferem muito dos outros cristãos – o que abre caminho para futura conversão.

Paul Freston, professor da pós-graduação em ciências sociais na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) e autor de livros e artigos sobre pentecostais e carismáticos, afirma que, tal como a categoria “católico não-praticante”, vem surgindo o termo “católico-carismático não-praticante”.

“Muitos católicos passaram a se identificar com os carismáticos e isso deve estar ligado à ascensão dos padres cantores”, afirma Freston.

A renovação carismática é o lado católico do pentecostalismo e, tal como os protestantes, também valoriza os dons concedidos pelo Espírito Santo, a oração intensa e a prece em línguas.

“É claro para nós que os carismáticos são importantes para a igreja, mas também é claro que eles valorizam primeiro a renovação pessoal e depois a evangelização de outras pessoas”, disse o padre Luiz Alves de Lima, professor do Centro Universitário Salesiano e assessor para a catequese da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

“Um dos fatores que podem explicar o fato de tantas pessoas se dizerem carismáticas é a catequese. Percebemos que muitos catequistas hoje são carismáticos, e acabam influenciando crianças e jovens”, afirma o padre Alvez de Lima.

Fonte: Folha de São Paulo

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