Por que tem surgido tantas igrejas atualmente? Quais são as que mais se expandem numericamente? Quais são as motivações que os fiéis apresentam para mudar de religião? Estas são algumas das questões que nortearam a pesquisa do professor doutor Adilson José Francisco, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFMT-Rondonópolis.

Estas questões culminaram na defesa recente de sua tese de doutorado intitulada Vivências e ressignificações do Neopentecostalismo em Rondonópolis, ocorrida no programa de Estudos Pós-Graduados em História Social da PUC – São Paulo.

Produto de cinco anos de trabalho de campo, a tese discute aspectos relevantes das transformações sócio-religiosas que tem ocorrido no país nas últimas décadas, a partir das transformações e processos de diversificação religiosa que ocorreram e ocorrem em Rondonópolis.

Com base nos dados estatísticos oficiais e, sobretudo a partir das observações, freqüência aos cultos e entrevistas realizadas com líderes religiosos, fiéis e ex-fiéis, o professor Adilson analisou a relação existente entre as mudanças socioculturais recentes e os trânsitos que ocorrem entre algumas denominações religiosas.

Para o pesquisador, as mudanças entre sistemas de crença articulam-se a fatores macro-sociais como a migração, crescimento urbano, massificação e midiatização da cultura e as decorrências socioeconômicas deste processo, como as dificuldades de acesso a saúde e educação.

No entanto estes fatores, não são exclusivos na compreensão das mudanças entre religiões e das mudanças internas que ocorrem em cada religião. Fatores subjetivos como a perda de referencia e sentido, crises familiares e financeiras, enfermidades, insatisfação com a religião precedente, expressam a busca por um modelo de religião cada vez mais pragmático, funcional e de fácil acesso, sem necessariamente significar vinculo permanente, fator requerido pelas religiões tradicionais como o catolicismo ou o protestantismo.

“O novo pentecostalismo, ou neopentecostalismo, surgiu há pouco mais de duas décadas no país e, tem se caracterizado por este modelo de vivência religiosa. Diverso do pentecostalismo clássico, que tem nas igrejas Assembléia de Deus e a Congregação Cristã suas maiores representantes, o neopentecostalismo, do qual fazem parte igrejas como a Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus e a Igreja Sal da Terra, soube combinar elementos do pentecostalismo tradicional, com elementos rituais e simbólicos de outros sistemas de crença, como o catolicismo e as religiões mediúnicas, como o kardecismo ou o candomblé”, afirma o pesquisador.

Na avaliação do professor, a flexibilidade nos padrões de usos e costumes, a ampla utilização da mídia e a busca crescente de atuação e representação, via partidos políticos, especialmente no caso da Igreja Universal, são fatores que tem favorecido a expansão destas igrejas, que após a Igreja Assembléia de Deus, são as que numericamente mais cresceram na cidade. “Se em 1980, os evangélicos representavam 6% da população rondonopolitana, em 2000 eles já eram mais de 16% e, dentre os evangélicos, o grupo que mais cresceu foi o dos pentecostais que saltou de pouco mais de 4% para 13%”.

Explica ainda o pesquisador que, refletindo uma tendência nacional, também em Rondonópolis, os grupos pentecostais e os neopentecostais (visto que o censo ainda não os diferencia) são os grupos que mais crescem, ao lado dos que se declararam sem religião que saltaram de 1% em 1980, para 9,8% em 2000. “Consequentemente, os grupos religiosos que mais perderam, em números relativos, são os católicos que diminuíram de 87% para 72% e os de matriz afro-brasileira como a umbanda e o candomblé, que saltaram de 0,5% em 1991, para 0,21% em 2000”, salienta Adilson Francisco.

Em que pese algumas distorções que os números apresentam, uma vez que não contemplam a possibilidade da dupla pertença religiosa ou de sistemas de crença não classificados pelo IBGE, o professor Adilson acredita que estes números traduzem uma tendência continental: o da diminuição do número de fiéis das igrejas ou sistemas tradicionais – como o catolicismo, o protestantismo histórico e mesmo as religiões de matriz afro-brasileira e o crescimento de sistemas de crenças pentecostais e novos movimentos religiosos como os esotéricos e derivações orientais como a Seicho-noi-ê, Jhorei, dentre outras.

Fonte: A Tribuna

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