Não é verdade que o plano de governo do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, traga propostas como a legalização das drogas e a perseguição a religiosos, como sustenta um vídeo que circula nas redes. Nenhum dos oito itens citados na gravação constam no documento entregue pelo petista ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A assessoria de Lula também desmentiu a veracidade da alegação.
As postagens enganosas contam com ao menos 25 mil compartilhamentos no Facebook até a tarde de sábado, 1º de outubro, véspera do 1º turno das eleições e também circulam no WhatsApp, onde não é possível estimar o alcance.
Circula nas redes sociais um vídeo enganoso que lista oito propostas que Lula estaria “escondendo” dos eleitores e que estariam no programa de governo do petista, o que é falso. A gravação inventa promessas e distorce falas do ex-presidente para fazer crer, por exemplo, que o petista pretende acabar com a família, legalizar drogas e perseguir religiosos.
As diretrizes do programa de governo da chapa publicado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contradizem a peça de desinformação, como por exemplo:
- Não consta nos planos do petista liberar entorpecentes. Lula, no item 34 do documento, defende uma nova política sobre drogas “focada na redução de riscos, na prevenção, tratamento e assistência ao usuário” e “enfrentamento e desarticulação das organizações criminosas”;
- O petista também não prometeu adotar um “descontrole fiscal”. O item 52 explica que a chapa pretende derrubar o teto de gastos e adotar um novo regime fiscal, mais flexível e que “garanta a atuação anticíclica, que promova a transparência e o acompanhamento da relação custo-benefício das políticas públicas”;
- Também não é verdade que Lula pretenda perseguir religiosos. No item 99 consta que a campanha “defende os direitos civis, garantias e liberdades individuais, entre os quais o respeito à liberdade religiosa e de culto e o combate à intolerância religiosa, que se tornaram ainda mais urgentes para a democracia brasileira”. A assessoria do ex-presidente também destacou a Lei da Liberdade Religiosa, aprovada no governo Lula, e destacou que ele é contrário à perseguição religiosa “em qualquer país e de qualquer forma”, se referindo ao caso da Nicarágua.
Outros pontos citados no vídeo são frutos de distorções das falas do ex-presidente ou de outras pessoas.
- A gravação, por exemplo, usa uma declaração de Lula feita em abril deste ano durante um evento em São Paulo para afirmar que ele pretende “acabar com a classe média”. Em sua fala, no entanto, o petista criticava o padrão de consumo dessa faixa de renda, não dizia querer acabar com ela;
- Lula também não disse que pretende “impugnar” roubos de celulares. A frase distorce uma declaração dada por ele em novembro de 2019, quando o ex-presidente disse “eu não posso ver mais jovens de 14, 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia, às vezes inocente ou às vezes porque roubou um celular”;
- E a mulher que diz no vídeo que “quer acabar com a família” não tem relação com a chapa de Lula. O nome dela é Amanda Palha, que era filiada ao PCB e, em outubro de 2019, defendeu em um evento que movimento LGBTQIA+, e não o PT, deveria assumir a bandeira da “destruição da família”.
Outros dois argumentos citados na gravação foram descontextualizados. No trecho que diz que o petista quer “legalizar o aborto”, por exemplo, o vídeo relembra uma fala feita em abril deste ano de que o procedimento “deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito”. Em momentos posteriores, no entanto, Lula disse que pessoalmente é contra a liberação do aborto, mas que o assunto que deveria ser discutido pelo Congresso. Essa posição foi reafirmada pela assessoria ao Aos Fatos em nota.
Também foi retirada de contexto a promessa de Lula de regular as mídias sociais. O petista de fato defende uma regulação que, segundo a sua assessoria, “não tem relação com controle de conteúdo, mas com medidas contra monopólios e de regulação de propriedade e direitos de respostas em meios eletrônicos e digitais, dominados por poucas empresas”. No item 118, a chapa defende que o direito de acesso aos meios de comunicação “é essencial numa sociedade democrática, orientada pelos direitos humanos e para a soberania”, e defende os marcos legais previstos na Constituição de 1988.
Essa é a terceira peça de desinformação sobre o plano de governo de Lula que circulou nas redes na semana da eleição. Aos Fatos desmentiu uma lista de falsas propostas e também que o petista defenderia um projeto para que pessoas compartilhassem quartos com integrantes de movimentos sociais.
Fonte: Aos Fatos