A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, também conhecida como “PMs de Cristo”utiliza valores cristãos como instrumento para evitar que policiais se envolvam em casos de violência.

Calada da noite, algum canto escuro da cidade. Armas em punho, frente à frente com o crime, haja sangue frio numa hora dessas! No dia-a-dia dos policiais militares (PMs) que trabalham nos grandes centros urbanos brasileiros, situações extremas são para lá de comuns. Não raro, esses profissionais se vêem obrigados a recorrer à força para fugir do perigo.

A grande questão que a maioria das pessoas costuma colocar é a seguinte: até que ponto um ato de violência praticado por um policial pode ser considerado legítimo? Esta é uma pergunta que atormenta até mesmo os membros mais convictos da corporação militar.

Foi para ter um momento diário de reflexão que um grupo de PMs evangélicos da Capital resolveu se unir no início da década de 90. “Percebíamos que havia um grande número de policiais cristãos espalhados pelas diversas unidades da Corporação”, explica o major Alexandre Marcondes Terra, 45 anos, que atualmente ocupa o cargo de assistente policial militar da Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs).

No princípio eles eram em 40, apenas, e assumiram a árdua tarefa de reforçar os laços entre os cerca de 9 mil evangélicos que integravam a corporação na época. Surgia, assim, a Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, também conhecida como “PMs de Cristo”.

O trabalho era (e ainda é) bastante simples. Consiste, basicamente, em visitas diárias a quartéis, bases e batalhões, com duração de aproximadamente 15 minutos. Nesses encontros, integrantes da entidade fazem orações e realizam pequenas preleções sobre textos bíblicos e a doutrina cristã.

“No começo era meio difícil, pois algumas pessoas achavam que estávamos tentando fundar uma nova igreja dentro da corporação. Só com o passar do tempo é que elas foram perceber que o nosso trabalho não estava ligado à religião alguma e visava apenas promover os valores dos Evangelhos entre os colegas de trabalho”, explica Terra, que participou da fundação dos “PMs de Cristo”. Atualmente ele é vice-presidente da entidade.

Nas reuniões da associação é possível se deparar com adeptos de diferentes denominações religiosas. Há duas semanas, por exemplo, a reportagem do Jornal da Cidade teve a oportunidade de acompanhar um encontro ocorrido na sede do 4.º Batalhão da PM do Interior (4.º BPMI).

Católicos, evangélicos e espíritas (cerca de dez pessoas, no total) acompanhavam atentamente a policial aposentada Maria Aparecida Zani Scarpelli discorrer sobre o Salmo 23 (ou 22, dependendo da Bíblia).

“Ainda que eu ande pelo vale da sombras da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo”, diz o texto. Mas será que qualquer trecho das Escrituras pode ter aplicação prática na vida dos PMs? Na opinião de Zani, sim.

“O ‘vale da sombra da morte’ é uma situação em que estamos passando por uma dificuldade extrema (um câncer em estágio terminal, por exemplo) e o Senhor envia alguém para nos auxiliar”, explica ela. Evangélica, natural de São Paulo, ela conta que, no início dos anos 90, fez um voto a Deus. “Prometi que, assim que me aposentasse, iria me dedicar exclusivamente a Ele.”

O trabalho com os “PMs de Cristo” teve início em 1999 e precisou ser interrompido há cerca de dois anos. “Eu estava com problema de doença na família e tive de dar uma parada, mas agora estou retomando as atividades”, diz ela. A partir de agora, Zani pretende voltar a realizar as visitas regulares (uma por semana, pelo menos) a bases e quartéis da corporação em Bauru. No passado, os “PMs de Cristo” conseguiram reunir cerca de 80 pessoas, entre policiais e familiares, em cultos realizados em templos evangélicos da cidade.

Fonte: Jornal da Cidade de Bauru

Comentários