O bispo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, foi indiciado em inquérito instaurado pela Polícia Federal em Itajaí (SC), sob suspeita de fraudar uma procuração para retirar do ex-bispo Marcelo Nascente Pires ações da TV Itajaí Ltda., emissora da Rede Record.

O delegado federal Annibal Wust do Nascimento Gaya viu indícios da prática dos crimes de falsidade ideológica e de uso de documento falso usado para transferência das cotas sem o conhecimento de Pires.

Edir Macedo não foi ouvido pelo delegado. Segundo seus advogados, ele se encontra nos Estados Unidos. Para evitar a prescrição, quando não seria possível punir eventualmente o bispo, o delegado formalizou o “indiciamento criminal por qualificação indireta”, enquanto aguarda as respostas de carta rogatória enviada aos EUA.

Gaya encerrou as diligências e enviou relatório ao Ministério Público Federal, que poderá rejeitar as conclusões ou denunciar o bispo. Se condenado, estará sujeito a pena de 1 a 5 anos de prisão.

Marco Pires era do grupo de confiança de Edir Macedo e comprara ações com empréstimos financiados por empresa ligada à Iurd. Ele declarou ao delegado que foi sócio cotista da TV Vale do Itajaí até 2001, quando foi apresentada procuração inidônea na Junta Comercial de Santa Catarina, com dados que não correspondiam a sua vontade, inseridos depois que assinou o documento.

Disse que a procuração foi usada na transferência das cotas sociais a sua revelia, não tendo recebido nada em troca. O ex-bispo disse que, após deixar a Universal, foi surpreendido com a retirada do seu nome do quadro de sócios. Disse que houve preenchimento abusivo da procuração, feito em data posterior e sem seu aval.

O inquérito teve origem na Justiça Federal de São Paulo, para apurar se havia sócios ocultos na TV Vale do Itajai ligados à Iurd. O pastor Honorilton Gonçalves da Costa, superintendente artístico da Rede Record em São Paulo e proprietário da TV Vale do Itajaí disse ao delegado que a Iurd é cliente e que não havia sócio oculto.

O delegado Gaya concluiu que não ficou caracterizada uma possível ocultação dos administradores da TV Vale do Itajaí, mas havia indícios de preenchimento abusivo da procuração que conferia poderes a Edir Macedo. Como se trata de documento utilizado na transmissão de poder acionário, haveria a hipótese de crime federal ainda a ser apurado.

Defesa afirma que questão não é criminal

O advogado Arthur Lavigne, que defende o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, afirma que “a questão é cível” e que, “a princípio, não viu matéria criminal”. “O bispo Edir Macedo nunca se negou a prestar esclarecimentos à Polícia Federal”, diz o advogado.

Segundo Lavigne, o delegado Annibal Wust do Nascimento Gaya insistia em que Edir Macedo fosse levado a Itajaí, para prestar depoimento. “Mas o bispo mora nos Estados Unidos, e o normal é o envio de uma carta rogatória”, diz o advogado.

Lavigne diz que na segunda-feira viajará a Itajaí para consultar o delegado e o promotor que acompanha o caso

A Folha não conseguiu ouvir o ex-bispo Marcelo Pires. Em Itajaí, a PF informou que o delegado Gaya estava viajando. Também não foi localizado o procurador que acompanha o inquérito.

Fonte: Folha de São Paulo

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