A Polícia Civil prendeu, no final da noite desta sexta-feira (26), três suspeitos de extorquir dinheiro do padre Júlio Lancelotti. Foram detidos Anderson Marcos Batista, 25 anos, Conceição Eletério, 44 anos, e Evandro Guimarães, 28 anos.

O trio foi localizado num prédio na rua Riachuelo (centro de São Paulo), graças a uma denúncia anônima, e foi levado a uma delegacia no Belém (zona leste).

O ex-interno teria conhecido o padre na Febem, onde foi internado por roubo. Ao sair da instituição, em 2000, teria começado a pedir ajuda financeira a Lancelotti e, mais tarde, passado a exigir cada vez mais dinheiro.

Denúncia

Um grupo de quatro pessoas, entre eles um ex-interno da Febem (atual Fundação Casa) e sua mulher, são acusados pela Polícia Civil de São Paulo de extorquir o padre Júlio Lancelotti, conhecido por ser um dos principais defensores dos direitos de jovens infratores e de moradores de rua de São Paulo.

Foi o próprio padre quem procurou a polícia para denunciar o crime. Ele afirma que as extorsões começaram depois que Anderson Marcos Batista, atualmente com 25 anos, saiu da Febem. O padre chegou a pagar cerca de R$ 50 mil para o grupo, incluindo R$ 20 mil em prestações de um carro comprado em 2004.

Batista conheceu o padre em uma das visitas que Lancelotti fez à unidade da Febem onde o jovem estava internado. Depois de sair, o rapaz procurou o padre dizendo que não tinha para onde ir. Lancelotti afirma ter colocado o jovem em uma frente de trabalho e pago seu aluguel.

Com o tempo, no entanto, os pedidos de dinheiro vinham com ameaças. A mudança começou quando Batista iniciou um relacionamento com Conceição Eletério.

Os primeiros pedidos de dinheiro variavam entre R$ 800 e R$ 1,5 mil e eram feitos por meio de bilhetes. Os recado eram entregues pelos outros dois suspeitos, os irmãos Everson dos Santos Guimarães e Evandro dos Santos Guimarães. O padre deveria devolver o bilhete, para que não houvesse prova das ameaças, e entregar o dinheiro.

Pelo telefone, no entanto, as ameaças continuaram. Em uma das conversas gravadas pela polícia, Eletério e Batista ameaçam envolver o filho dela, que acusaria o padre de abuso sexual. Júlio Lancelotti nega qualquer tipo de abuso.

Vizinho cita mais 4 em esquema contra padre

Mais quatro pessoas teriam envolvimento com a quadrilha que extorquiu o padre Júlio Lancellotti. Um morador vizinho da pensão que pertence a Anderson Marcos Batista, na Rua Catumbi, no Pari, disse ontem ao delegado André Luiz Pimentel, do Setor de Investigações Gerais (SIG) da 5ª Seccional, que mais um casal recebia dinheiro do religioso, a mando do ex-interno da Febem (hoje Fundação Casa). Uma ex-empregada e outro vizinho também teriam participado das ações. “Teve mais gente que ia buscar envelope com o padre. Eram sempre envelopes brancos, entregues ao Anderson num bar próximo da pensão. Toda semana ia alguém buscar dinheiro com o padre”, contou o vizinho.

Segundo o delegado Pimentel, a testemunha apresentou-se espontaneamente. Mas trata-se de uma pessoa que o advogado de defesa de Batista, Nelson Bernardo da Costa, já havia oferecido à imprensa para ser entrevistado. Ontem, Costa disse que só falou “que se ele (a testemunha) tivesse algo a esclarecer, que fosse depor na polícia”, mas não teria mandado ninguém falar contra Lancellotti. Inicialmente, o homem disse que foi à polícia depois que repórteres o incentivaram. Depois, admitiu que havia conversado com o advogado.“Achava estranho que o padre desse dinheiro para o Anderson.”

Uma das pessoas apontadas pela testemunha, a ex-empregada de Batista, já aparecia em gravação apresentada à polícia, onde Lancellotti reclama que o ex-interno havia ensinado sua funcionária a pegar dinheiro com ele. Há suspeita de que essa mulher ficava com parte da quantia entregue.

Everson Guimarães, que está preso do Centro de Detenção Provisória(CDP) do Belém, confirmou a existência das pessoas apontadas pela testemunha. Guimarães foi preso em flagrante quando recebia R$ 2 mil do padre no dia 6 de setembro.

O preso também confirma que Batista teria usado o CPF da testemunha para comprar uma televisão, um frigobar e um telefone celular. “O Anderson disse que tinha perdido o CIC e pediu para usar o meu. Falei que não tinha renda para crediário e ele pagou à vista”, relatou à polícia. Antes das compras, Batista teria ido até a Igreja São Miguel Arcanjo buscar dinheiro com o padre.

Mas há contradições entre as duas versões. Guimarães diz que conhece as quatro pessoas citadas pela testemunha, embora tenha começado a trabalhar na pensão em 17 de abril. Na versão colocada em depoimento ontem, a testemunha relata que as quatro pessoas não estão mais no bairro há muito tempo.

Há outra contradição quando Guimarães fala sobre a cor dos envelopes com o dinheiro recebido do padre e o local de entrega do dinheiro a Anderson. “Era envelope daquela cor (aponta para um envelope pardo sobre uma mesa) e era levado para o Anderson na pensão.”

Agora já são oito os investigados pela Polícia no caso de extorsão – Batista, sua mulher, Conceição Eletéria, Guimarães e seu irmão Evandro já estavam na mira da polícia. “Vamos tentar descobrir quem são os outros e a participação deles no esquema”, disse Pimentel.

Fonte: Folha Online e Estadão

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