Para ter o apoio dos evangélicos, o candidato do PMDB ao governo do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (foto), retirou ontem, “em caráter definitivo”, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 70) que previa o reconhecimento da união estável de pessoas do mesmo sexo.
O senador Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal, disse que essa foi uma das condições que impôs para apoiá-lo no segundo turno. Cabral nega.
“Sérgio Cabral aceitou minha ponderação. Isso é um princípio fundamental tanto da Igreja Católica quanto da evangélica, que são a maioria no Rio. Pedi a ele que revisse a posição e ele o fez. Assinou requerimento retirando o projeto, e achei isso um gesto muito importante”, afirmou o senador do PRB.
A página do Senado na internet informa que Sérgio Cabral, por meio do requerimento 1.023 de 2006, solicitou ontem “a retirada, em caráter definitivo da matéria de sua tramitação”. A PEC vai ao arquivo.
Ontem, Cabral foi ao Palácio do Alvorada, onde recebeu apoio do presidente e candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva. O peemedebista é afilhado político do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que apóia Geraldo Alckmin (PSDB). Crivella e o atual vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde, estiveram no evento.
Terceiro colocado na eleição, com 18,5% dos votos, Crivella fez campanha para o presidente Lula e, no encontro em Brasília, declarou voto em Cabral. Antes ele havia prometido apoio a Denise Frossard (PPS) no segundo turno e chegou a se irritar ao ver Lula anunciar seu apoio ao candidato do PMDB antes de ele fazê-lo.
Panfletos
No primeiro turno, Cabral foi alvo de panfletos apócrifos que mostravam um casal de homens se beijando na boca e afirmava que Cabral tinha feito lei a favor do casamento gay.
Crivella confirmou que a medida foi uma condição para seu apoio a Cabral no segundo turno: “Fez parte, sim, do acordo. Disse a ele que o acordo seria por princípios e propostas”.
Sérgio Cabral negou ter retirado o projeto a pedido de Crivella e disse que foi uma retirada provisória, ao contrário do que informa a página do Senado na internet. “Não [retirei a PEC como parte do acordo para receber apoio de Crivella], de maneira nenhuma”, afirmou.
“Vou dar uma revisada no projeto, chegar a um acordo. Há uma proposta de fazer uma consulta pública, um plebiscito, que o senador Camata já vinha apresentando, junto com o voto obrigatório, com cinco pontos importantes. Então, vou dar uma revisada nisso, talvez fazer um novo projeto, na linha do plebiscito.”
Aborto
Também Crivella, derrotado no primeiro turno da eleição ao governo, retirou seu projeto de lei que descriminaliza o aborto de fetos anencéfalos (sem cérebro). Os dois senadores foram adversários no primeiro turno da eleição do Rio. Agora aliados, depois de conversarem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, estiveram na Secretaria-Geral do Senado checando se os requerimentos pela retirada das propostas seriam mesmo lidos em plenário, como terminou ocorrendo.
Integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus, como Crivella, afirmam que o recuo atende à vontade do fiéis. A assessoria do senador diz desconhecer tal informação, mas confirma que ele apresentou o pedido para retirar o projeto no mês passado – em plena campanha.
Fonte: ComuniWeb