O ministro da Educação, Milton Ribeiro, com o pastor Arilton Moura 30/11/2021 Foto: Luis Fortes/MEC
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, com o pastor Arilton Moura 30/11/2021 Foto: Luis Fortes/MEC

O pastor Arilton Moura, suspeito de fazer lobby no Ministério da Educação, teria solicitado propina para ajudar dois prefeitos a conseguir destravar recursos da pasta para a construção de escolas nos municípios que administram. Os prefeitos tiveram audiências com o ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Os relatos foram feitos ao jornal GLOBO pelos prefeitos Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), e José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP). Os pedidos variaram de R$ 15 mil a R$ 40 mil, além da compra de bíblias, de acordo com os depoimentos dessas duas testemunhas ouvidas pela reportagem.

Arilton Moura é assessor de Assuntos Políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil. A organização é presidida pelo também pastor Gilmar Silva dos Santos, que tinha acesso ao Palácio do Planalto e, conforme revelou O GLOBO, se reuniu quatro vezes com o presidente Jair Bolsonaro.

Os dois religiosos atuam como assessores informais do MEC, intermediando reuniões com gestores municipais e ajudando na liberação de recursos da pasta, segundo revelou o jornal “O Estado de S. Paulo”.

Em uma conversa gravada, publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o governo prioriza prefeituras assessoradas pelos dois líderes evangélicos e que isso atenderia a uma solicitação de Bolsonaro. Em nota, o ministro Milton Ribeiro negou as acusações.

Prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro conta que se reuniu no MEC, em Brasília, com Ribeiro e outros 15 gestores municipais no dia 11 de março de 2021. O encontro consta da agenda oficial do governo

Segundo o prefeito de Bonfinópolis, em determinado momento, Arilton Moura teria feito um pedido inusitado:

“Que eu desse uma oferta para a Igreja, comprasse as bíblias para ajudar na construção da Igreja (…) Seria uma venda casada. Eu teria que comprar essas bíblias, porque ele estava em campanha para arrecadar dinheiro para a construção da igreja.”

O mesmo enredo é narrado pelo prefeito de Boa Esperança do Sul, São Paulo, José Manoel de Souza. Ele conta que participou de um encontro promovido pelo ministro da Educação com cerca de 30 gestores municipais no dia 13 de janeiro de 2021 — o compromisso consta da agenda oficial de Milton Ribeiro. Nessa reunião, Souza pretendia apresentar demandas de ampliação de uma escola em sua cidade e acabar com a terceirização de ônibus escolar.

Depois do evento com Ribeiro, ainda de acordo com Souza, os prefeitos ganharam uma senha e aguardavam numa sala do MEC para apresentar suas demandas a assessores da pasta. O administrador de Boa Esperança do Sul conta que, após protocolar seu pleito no ministério da Educação, ele e outros chefes de Executivos municipais foram para um restaurante na companhia do pastor Arilton Moura, ocasião em que teria ocorrido o pedido de propina, segundo o governante.

“Eu o abordei e perguntei: “Senhor Arilton, como serão as liberações? Vai ser para todos os municípios?” E ele falou: “Vamos ali fora…Eu vou ser bem sincero. Tem escolas profissionalizantes no seu município?” Eu disse que não, porque a cidade é pequena, e a gente precisa aumentar creches e ônibus escolar. E ele falou: “Se você quiser, eu passo um papel agora, ligo para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar ao seu município, mas em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra, né?”, relembra Souza, acrescentando: “Eu bati nas costas dele e falei: “Obrigado senhor Arilton, mas para mim não serve”.

O outro lado

Em nota, o ministro da Educação negou as acusações de irregularidades e afirmou que “não há nenhuma possibilidade” de “determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado”.

Segundo Ribeiro, “desde fevereiro de 2021, foram atendidos in loco 1.837 municípios em todas as regiões do país, em reuniões eminentemente técnicas organizadas por parlamentares e gestores locais, registradas na agenda pública do Ministério, estabelecendo relação direta entre o MEC e os entes federados”.

O chefe do MEC ainda registrou que “o Presidente da República não pediu atendimento preferencial a ninguém” e que “solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem”.

Procurado, Gilmar Santos não retornou os contatos feitos pela reportagem. Em nota oficial publicada em suas redes sociais, o pastor negou que tivesse qualquer poder sobre a agenda ou as verbas do MEC. Ele chamou de falácias as acusações de que teria recebido vantagens indevidas ou que tenha qualquer poder sobre o ministro Milton Ribeiro.

“Nego, peremptoriamente, a falácia de que pedi, recebi, mandei, pedi, ou, de alguma forma, contribuí, para o recebimento de propina, ou qualquer outro ato de corrupção junto ao Ministério da Educação, bem como ao atual ministro titular da referida pasta”, escreveu ele.

Fonte: O Globo

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