Entre os 49 livros censurados nas escolas públicas locais estão as histórias de um pinguim com dois pais e de um cãozinho que quer ser uma bailarina.

Veneza combate, neste ano, o que ficou conhecido como “literatura subversiva”. O recém-eleito prefeito Luigi Brugnaro tomou como uma de suas primeiras medidas no cargo proibir livros que, diz, são nocivos à família.

Esses livros haviam sido introduzidos no ensino público com o objetivo de quebrar, desde cedo, preconceitos frequentes na Itália.

A escolha foi feita em 2013 por Camilla Seibbezi, à época uma funcionária da prefeitura. “O bullying é um grande problema, e queríamos dar aos educadores uma oportunidade de estar preparados”, disse em entrevista à Folha.

[img align=left width=300]http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrada/images/15236605.jpeg[/img]Organizações de defesa dos direitos humanos concordam com esse tipo de medida. O diretor da ONG LGBT italiana Arcigay, Flavio Romani, afirma que “é fundamental que a realidade seja representada em todos os tons”.

Essa tonalidade é que incomodou o prefeito –que não respondeu aos pedidos de entrevista. Em diversas declarações públicas, ele afirmou que está defendendo as crianças. “Devo pensar na maioria das famílias, em que existe apenas uma mãe e um pai”, disse.

Após as reações à sua decisão, Brugnaro aceitou repensar a proibição de 47 dos livros, que serão analisados novamente pela prefeitura antes de uma decisão final. Dois deles seguem proibidos.

As duas obras banidas são “Piccolo Uovo” (pequeno ovo), de Francesca Pardi, e “Jean A Deux Mamans” (Jean tem duas mamães), de Ophélie Texier. O primeiro narra a vida de um ovo que testa modelos de família antes de romper sua casca. O segundo fala sobre um lobo com duas mães.

Um dos títulos que estão sob revisão é “O Livro da Família”, de Todd Parr, que apresenta diferentes tipos de lar. À Folha, o autor disse não se importar com a polêmica, mas que se alegrou que a discussão levou o cantor Elton John a defender sua obra no Twitter. “Sempre fui fã!”, escreveu o músico. “Sua família é especial, não importa de que tipo seja”, afirma Parr.

Em solidariedade aos autores dos títulos proibidos, o escritor italiano Matteo Corradini organizou com seu colega Andrea Valente um abaixo-assinado de centenas de autores pedindo que Veneza banisse seus livros também.

Corradini é casado (“na igreja!”, diz) e tem três filhas. “Precisamos desaparecer de uma cidade que bane livros sem motivo. Às vezes, é importante dizermos um pequeno ‘não’ diante dos políticos”, diz.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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