É incerto quando, ou se a Enciclopédia da Civilização Cristã irá chegar às livrarias, mas o atraso no lançamento da obra de quatro volumes fomentou um debate sobre a possível supressão de acadêmicos cristãos por editoras seculares.

A decisão da editora erudita Wiley-Blackwell de adiar a publicação da enciclopédia após a impressão e estréia nas reuniões anuais da Academia Americana de Religião e da Sociedade de Literatura Bíblica em novembro acendeu a controvérsia.

O editor George T. Kurian mandou por email a enciclopédia para aproximadamente 400 contribuintes em fevereiro e chamou a decisão de “provavelmente o primeiro exemplo de queima de livros em massa do século 21”. De acordo com Kurian, presidente da Sociedade Enciclopédia e editor de 60 trabalhos de referência, a enciclopédia atrasou porque críticos chamaram de “muito cristã, ortodoxa demais, muito anti-secular, anti-muçulmana e não politicamente correta o bastante para ser usada em universidades”.

Kurian disse que as mudanças requeridas por Wiley – incluindo a remoção de termos como a.C. e d.C., Nascimento da Virgem e Ressurreição – “foram as mais descaradas formas de censura na história das publicações religiosas”.

Wiley disse que as preocupações com o conteúdo surgiram em alguns contribuintes e editores após a impressão, depois da revelação de que o conselho editorial não tinha revisado a obra. A editora disse que errou por não estar atenta ao “atalho” de Kurian no processo editorial.

“É triste que o conteúdo revisado pelo conselho editorial tenha atrasado, mas isso não nega a necessidade de fazê-lo para garantir a qualidade do conhecimento nas publicações”, disse a porta-voz Susan Spilka. Ela afirma que a decisão não foi tomada sobre as cópias da enciclopédia armazenadas nas instalações de distribuição da Wiley.

Hunter Baker, professor de política da Universidade Batista de Houston, familiazado com os desafios dos cristãos diante das publicações acadêmicas, diz que a explicação da Wiley não é convincente. “Você não pode esperar pela revisão até que já tenha imprimido vários volumes”, diz Baker. “Todas essas questões são coisas que deveriam ter sido trabalhadas antes da publicação. O trem já está fora da estação”, completa.

Mark Noll, professor de história da Universidade de Notre Dame e um notável erudito evangélico, elogiou a enciclopédia como “concebida atenciosamente”. A base de sua crítica, entretanto, foi somente uma mesa de conteúdo e um punhado de registros, diz Noll.

Bernard McGinn, professor emérito da Escola Divinity da Universidade de Chicago, esteve no conselho editorial da enciclopédia e não acredita que o ato de Wiley é uma forma de censura. “Eles só estão tentando ter certeza que estão publicando uma obra de alta qualidade”, declara. McGinn leu a introdução de Kurian e diz que seu tom de “triunfalismo cristão bombástico” era “inaceitável” para uma “enciclopédia séria”. A preocupação particular foi com a “enganadora, errônea e potencialmente inflamatória linguagem sobre o Islam”, afirmou o professor.

Em uma passagem sobre o crescimento do Islã no século 7, Kurian escreveu, “A original pátria cristã de cristãos do norte da África e do Oriente Médio foi roubada pelos muçulmanos, que promoveram um dos mais brutais massacres, característicos de sua fé e raça. Os mongóis e turcos seguiram, como gafanhotos, e exterminaram a igreja na Ásia”.

Objetividade é a chave para escrever e publicar livros de fé, seja para editoras cristãs ou seculares, diz Dan Reid, editor sênior de referência e de livros acadêmicos da Editora InterVarsity. Ele recorda sua própria experiência quando editou o Dicionário do Cristianismo na América.

“Para o melhor da minha habilidade, eu queria um conhecimento objetivo”, confessa Reid. A aproximação funcionou, diz ele, já que o livro foi elogiado por cristãos e platéias seculares.

É incerto se a Enciclopédia da Civilização Cristã irá abranger um caminho similar, por causa das críticas da sua objetividade. Entretanto, Spilka e Baker concordam que essa é uma situação rara.

“Não vejo isso como um problema epidêmico”, Baker afirma. “Editoras acadêmicas fazem publicações sinceras de acadêmicos cristãos. Não é incomum escolas cristãs publicarem com as melhores editoras universitárias do mundo”, completa.

Fonte: Cristianismo Hoje

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